Autonomia sem acessibilidade? Usamos a palavra autonomia quando queremos indicar que a pessoa tem a liberdade de tomar decisões e capacidade de realizar ações, ambas sem precisar da ajuda de terceiros. Em alguns casos, a acessibilidade não vem acompanhada de autonomia, e isso pode criar dificuldades e problemas. Um exemplo bastante comum, são as plataformas elevatórias, quando elas precisam ser operadas por funcionários, ao invés de funcionar de forma autônoma como um elevador.
A autonomia precisa ser para todos, assim como a acessibilidade. Uma autonomia somente para quem consegue decidir e fazer as coisas sozinho, não faz sentido. O problema é que a acessibilidade e a inclusão nem é colocada em consideração em muitos projetos, e por isso no pensamento de quem criou o projeto, é sim autônomo.
Coloco como um estudo de caso, a Zaitt que se posiciona como uma loja autônoma. A proposta é uma loja sem funcionários, automatizada, para que você faça suas compras sozinho. Para isso, ela possui um aplicativo próprio, onde você cadastra seus dados pessoais e seu cartão de crédito ou débito, de onde será feito o pagamento. Na porta de entrada há um código QR, que deve ser escaneado para abrir a porta e identificar quem está entrando.
No interior da loja, todos os produtos também possuem um código QR, que deve ser escaneado quando for fazer a compra. É algo semelhante a uma loja virtual, onde você escolhe o produto e coloca a quantidade, se for comprar mais de um. Terminada a seleção dos produtos, encerra a escolha e efetua o pagamento. Ainda há uma cafeteira e um forno de microondas, caso queira esquentar algum alimento alí mesmo. O interior é vigiado por câmeras, e para sair, você deve novamente escanear o código QR da porta.
É bastante prático, mas a ausência de funcionários também tem seu lado negativo. Alguns produtos ficam em prateleiras altas, impossíveis de alcançar por uma pessoa em cadeira de rodas, por exemplo, e daí não há funcionários para ajudar. O local até possui um telefone para pedir ajuda, mas seria somente uma ajuda à distância, o que não adiantaria.
Não é uma loja autônoma também para pessoas com deficiência visual. Um cego, não saberia onde está o código QR da porta, e depois não teria alguém para ajudar na localização e descrição dos produtos, e daí novamente a falta que um funcionário presente faz. Até mesmo para pessoas com deficiência auditiva, pois caso um surdo queira perguntar alguma coisa, se o atendimento virtual for por voz, não serviria. Eu tentei solicitar ajuda, segundo as instruções no local, mas não consegui, pois não dava conexão.
Então chamar o local de autônomo, não acho correto. Acho que chamar de automatizado, seria uma descrição mais coerente, pois a palavra autônoma remete à uma questão de independência, o que não acontece no local. Muita coisa poderia ser melhorada, algumas com ações muito simples, fáceis e baratas, mas é com um olhar experiente que isso é possível. Essa foi uma abordagem para mostrar um pouco meu trabalho, de como eu trato a acessibilidade baseada na prática. Muitas dessas questões que eu coloquei aqui, não estão presentes em normas de acessibilidade, são itens que requerem uma análise da situação. Para quem estiver interessado em ter uma acessibilidade funcional, procure minha consultoria, ou se quiser aprender para trabalhar na área, dê uma olhada em meus cursos online.
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