Acessibilidade ultrapassada. O mundo está em constante mudança e evolução. Para ter uma idéia, os telefones públicos utilizavam fichas telefônicas até 1992, depois o sistema foi mudado para cartões telefônicos e atualmente existem mais telefones celulares do que habitantes. É preciso se adaptar à essa mudança, como por exemplo, muitas empresas já um número de whatsapp para atendimento comercial. É perceptível a necessidade de atualização de equipamentos e procedimentos, senão se negócio pode começar a perder clientes, e até mesmo passar a ficar irregular de acordo com as novas regras.
Com a acessibilidade não é diferente, pois novos e melhores produtos surgem, novos hábitos são adotados pelas pessoas com deficiência e novas regras, entram em vigor e precisam ser seguidas. Só que a maioria dos lugares, pensa que basta seguir a norma e o trabalho estará acessível de forma permanente. A NBR 9050 foi criada em 1983, então de lá pra cá muita coisa mudou, e várias versões atualizadas foram lançadas.
Exemplos de acessibilidade ultrapassada
Eu já participei da atualização da norma de acessibilidade em ônibus rodoviários, e na versão antiga, a cadeira de transbordo era indicada como uma solução para a época que foi criada. Mas a prática foi mostrando que não era bem assim, que essa era uma acessibilidade ultrapassada, eu mesmo quase já cai de uma cadeira de transbordo por descuido do operador e pelo próprio design falho do equipamento. Então na atualização da norma, a cadeira de transbordo foi proibida e novas soluções passaram a ser indicadas.
Outro exemplo de acessibilidade ultrapassada, aprendi com meus amigos surdos. Sabe aquele telefone para surdo que tem um teclado que traduz em texto a voz? Pois é, isso é coisa ultrapassada, segundo eles. Agora com as opções tecnológicas, os surdos se comunicam através de chats de texto ou até chamada de vídeo, para quem quer conversar através de Libras. Então ao invés de um telefone para surdo, a melhor opção é seu estabelecimento ter uma linha de whatsapp para conversas instantâneas de texto. Por isso a importância de estar em contato frequente para conhecer a opinião do usuário, isso vale mais do que qualquer regra.
No vídeo abaixo, eu mostro o banheiro de um quarto acessível do Novotel Jaraguá. Ele já foi um exemplo de acessibilidade, inclusive eu já fiz um artigo elogiando a acessibilidade do local. Mas para os padrões atuais, o hotel possui várias falhas e erros devido à acessibilidade ultrapassada. A pia do banheiro possui um estilo de barra de apoio, que margeia a borda da pia, só que isso causa um problema, dificultando a aproximação. Atualmente, esse tipo de barra já não é mais permitido, e a indicação é para colocar barras nas laterais da pia.
Na verdade a própria pia já é muito grande, e ela por si só já causa uma dificuldade na aproximação, a barra ao redor dela só vem para dificultar isso ainda mais. Mas isso não era difícil mesmo antes? Sim, com certeza, mas o critério para aceitação dos usuários era baixo. Como poucos hotéis eram acessíveis, quando a gente encontrava um com algumas adaptações, mesmo não perfeitas, já era motivo de alegria.
Eu mesmo digo que sou bastante crítico em relação à acessibilidade e inclusão, pois conheço ótimas iniciativas ao redor do mundo, e por isso não aceito pouca coisa. Então o nível de exigência das pessoas com deficiência para a acessibilidade aumentou, e agora opções que não atendam bem são criticadas, por isso é importante fazer do jeito certo e fazer verificações de atualização da acessibilidade periodicamente.
Atualizações da acessibilidade
Uma das grandes dificuldades de pessoas com deficiência física para viajar, é em relação ao banheiro do hotel. Muitos precisam de uma cadeira de banho, e como antigamente esse equipamento não era obrigatório, muitos cadeirantes levavam sua própria cadeira de banho na viagem, o que era um grande transtorno. Mas agora já há um Decreto que regula a obrigatoriedade do hotel fornecer uma cadeira adaptada para banho mediante a solicitação do hóspede. O Decreto também coloca outros equipamentos, chamados de ajudas técnicas, como cardápio em braile e fonte ampliada com contraste e relógio despertador/alarme vibratório. Ou seja, quem não cumprir com essas exigências também está com a acessibilidade ultrapassada, além de estar fora da lei.
Outra atualização para regular a acessibilidade ultrapassada, foi uma Resolução da ANAC sobre o acesso ao transporte aéreo de Passageiros com Necessidade de Assistência Especial (PNAE). Alí indica, por exemplo, que os aeroportos são obrigados a fornecer estrutura e equipamentos para garantir a segurança, conforto e dignidade do passageiro com deficiência.
Então o antigo procedimento de carregar a pessoa nos braços, já não é mais permitido, então o aeroporto deve possuir passarelas de embarque (fingers) ou carros elevadores (ambulift) para estarem adequados à exigência. É claro que somente equipamentos não resolvem tudo, é preciso de treinamento para um atendimento adequado, pois isso tem a ver com respeito e segurança do passageiro.
Como disse no parágrafo anterior, a acessibilidade também está relacionada ao atendimento, e não só à parte arquitetônica e de equipamentos. Você sabia que a fila prioritária, já estão incluídas pessoas com o Transtorno do Espectro Autista e também uma dupla prioridade às pessoas acima dos 80 anos? Se você ainda não atende a esses novos quesitos, você está com a acessibilidade ultrapassada. Mais do que uma placa indicativa, é essencial que a equipe de funcionários passe por um treinamento especializado. Inclusive eu já treinei várias empresas para o atendimento inclusivo.
Eu como cadeirante, e uma pessoa bastante ativa, que enfrenta as dificuldades e busca as soluções, digo que estou extremamente atualizado na questão da acessibilidade em geral. Também tenho muitos amigos com diferentes tipos de deficiência, e sempre conversamos sobre acessibilidade, então também sei opiniões diferentes e dificuldades diferentes. Isso é fundamental, se você não conhece o lema “Nada sobre nós, sem nós” da ONU, ela tem um sentido muito grande.
Então queira ou não, estou constantemente me atualizando para a acessibilidade, e toda essa experiência e conhecimento eu repasso na consultoria de acessibilidade que eu realizo. Já vi muitos profissionais que somente executam as normas e leis, mas eu afirmo com toda a certeza, que elas estão e sempre estarão desatualizadas em relação às necessidades dos usuários.
Eu falo questão de reforçar isso em minhas palestras, e procuro passar esse conhecimento que não está nos documentos, para a formação de profissionais, em meus cursos e treinamentos. Conhecem o ditado, a prática faz a perfeição? Pois então, quem não vive a acessibilidade na prática, ou não bebe da fonte de quem tem essa vivência constante, não está preparado, lembre disso. Diante disso, não deixe de seguir meu perfil do Instagram, o meu canal do YouTube e acompanhar meus artigos no Blog.
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