A Pessoa com Deficiência como Consumidora. A pessoa com deficiência, infelizmente ainda carrega a imagem de uma pessoa incapaz e dependente. Mas isso não é verdade, o que falta são condições, e não capacidade, e pela falta de condições, muitas vezes a consequência é a dependência. Por exemplo, uma escola que não possui estudantes com deficiência, na grande maioria das vezes a culpa é a falta de acessibilidade, pois se não tiver um banheiro acessível, fica inviável para um estudante cadeirante passar várias horas no local. Alunos cadeirantes existem aos milhares no país, só que as escolas não oferecem a acessibilidade na mesma proporção.
No caso da escola, a pessoa pode ser uma consumidora indireta, pois geralmente quando crianças e adolescentes, é normal que o aluno seja bancado pelos pais. Mesmo assim, o consumidor é o aluno com deficiência, o foco é nele, mesmo que ele seja patrocinado, e ainda assim, a decisão do patrocinador levará em conta a acessibilidade. Isso serve para diversos outros cenários como na visita a um parque de diversão, na compra de brinquedos em lojas, ou qualquer tipo de produto ou serviço onde a criança ou o adolescente é o foco.
Quando o consumidor com deficiência tem total poder de decisão e total condições de compra, aí é preciso que o comércio ofereça total condições de compra com autonomia. Um bom exemplo para ilustrar a situação, é a compra nos supermercados. As pessoas com deficiência física têm dificuldade em visualizar e alcançar os produtos, pois muitos estão no alto das prateleiras, ou em grandes mesas e bancadas expositoras, e em móveis refrigerados onde a aproximação é difícil. Isso poderia ser melhorado com uma boa distribuição dos produtos, mas existe a competição do comércio, onde as empresas pagam para que seus produtos sejam expostos em locais específicos, principalmente na altura dos olhos de uma pessoa de pé.
Então descer os produtos que ficam lá no alto da prateleira, irá tirar parte desse espaço especial, e daí o supermercado e o fabricante acabam tendo menos faturamento, o que para eles praticamente está fora de cogitação. Aí entra a nossa dependência, em ser obrigados a pedir ajuda para pegar esses produtos fora do alcance. Na vontade de expor o máximo de produtos possíveis, muitos locais organizam seu espaço com corredores estreitos, para caber mais prateleiras, e às vezes expositores menores como totens ou bancadas, que acabam ficando no meio do caminho, e por vezes estreitando ainda mais a passagem ou até mesmo criando um bloqueio para a passagem de uma cadeira de rodas.
A dificuldade da pessoa com deficiência visual é imensa num supermercado. Primeiro porque grande parte dos produtos não tem algum tipo de identificação, como informações em Braille. Aqueles que tem o Braille em suas embalagens, eu acho que a informação é muito pouca, pois geralmente só colocam o nome da marca e do produto. Uma informação muito importante para a decisão da compra é o preço, mas o fabricante não imprime o preço, pois cada revendedor tem a liberdade de colocar o seu. Em vários supermercados tem aparelhos leitores de código em barra, que informa o preço dos produtos, porém este aparece somente em formato visual, ao invés de também ter a informação do preço em formato sonoro, para dar condições àqueles que tem dificuldade ou impossibilidade de ler.
As pessoas com deficiência auditiva não encontrar dificuldade no alcance e identificação dos produtos, mas a dificuldade aparece quando é necessário estabelecer algum tipo de comunicação. Quem nunca perguntou à um funcionário do supermercado, onde está certo produto, pois não estava encontrando? Mas perguntar isso em Libras, a Língua Brasileira de Sinais, que pode ser considerada como o idioma dos surdos, a maioria dos locais não está preparado para atender. E olha que há muitos surdos desempregados, então não seria uma boa idéias que todo supermercado tivesse a obrigação de ter um funcionário surdo? Assim, ele pode ser requisitado quando for necessária uma comunicação em Libras.
Empresas que valorizam a pessoa com deficiência, e entendem que ela pode ser uma grande consumidora, desde que haja condições, estão colhendo ótimos resultados, com altos faturamentos e uma melhora da imagem da empresa. Um bom exemplo é a indústria automobilística. As concessionárias de automóveis passaram a investir na acessibilidade no local, instalando rampas, elevadores, banheiros adaptados, mobiliários, tudo para atender o comprador com deficiência. As montadoras, criaram programas com equipes treinadas para atender esse público, pois tem um atendimento diferenciado, principalmente por causa da isenção de impostos na compra de carros zero quilômetro. Além disso, são as principais expositoras em eventos voltados à esse público, pois querem mostrar seus produtos para um público que é um grande consumidor.
Além disso, outras empresas se adaptaram para dar um suporte para esse mercado, como as auto-escolas que adaptaram seus carros para dar aulas de direção e instrutores que dão as aulas em língua de sinais. Despachantes especializados no processo de isenção de impostos, que é algo bastante burocrático, além das oficinas com equipamentos para realizar as adaptações, uma vez que o carro não é fabricado com adaptações, estas são colocadas depois que o carro é comprado. Com muitos motoristas com deficiência, se fez necessário que os estabelecimentos oferecessem vagas de estacionamento adaptadas, e o governo criar uma identificação para autorizar a utilização delas.
A enorme movimentação de mercado que gira em torno da venda de automóveis para pessoas com deficiência, acontece porque foi bem planejada, não como uma obrigação em atender à uma minoria, mas como uma oportunidade de mercado para atender à um segmento de consumidor. O resultado disso, é um maior faturamento, uma melhora da imagem, pois não deixa de ser uma ação social, eliminação de problemas para a própria empresa, pois o consumidor pode exigir seus direitos, e também na colaboração para a inclusão, pois o transporte público é difícil, então o carro ajuda a diminuir os problemas de transporte para quem tem algum tipo de deficiência ou mobilidade reduzida.
Concluindo, a Pessoa com Deficiência como consumidora tem um grande potencial caso seja atendida adequadamente. Além disso, existem obrigações do comércio em oferecer a acessibilidade, não é uma questão de escolha, mas algo que deve ser cumprido. Se você for um comerciante, não deixe que situações desagradáveis forcem ao consumidor com deficiência a procurar um órgão de proteção ao consumidor, antes disso entre em contato comigo pois tenho soluções profissionais para o seu comércio. E você, pessoa com deficiência, nunca deixe de manifestar sua insatisfação com o estabelecimento, procure o gerente e fale do problema encontrado e exija uma solução. O cliente tem um poder enorme para fazer mudanças, desde que as necessidades sejam conhecidas por funcionários com poder de decisão dentro da empresa.
0 comentários