Inauguração sem acessibilidade. 6 erros imperdoáveis.

Man climbs CN Tower steps in wheelchair

Escrito por Ricardo Shimosakai

22 de março de 2023

Inauguração sem acessibilidade. A acessibilidade é ítem fundamental de qualquer estrutura arquitetônica, principalmente as novas construções, onde a acessibilidade já deve vir na planta. Então quando uma obra é inaugurada, mesmo quando não está totalmente completa, quer dizer que ela já possui os itens básico para ser aberto ao público.

Mas na prática, muitas vezes isso não acontece, e a obra é inaugurada com acessibilidade parcial ou até mesmo a inauguração sem acessibilidade. Isso mostra que o local que fez a inauguração, não considera a acessibilidade como um ítem de primeira necessidade, como um ítem fundamental que não pode faltar.

 

Inauguração sem acessibilidade da Pinacoteca Contemporânea

 

Vou usar como exemplo a Pinacoteca Contemporânea, inaugurada dia 4 de março de 2023 e visitada por mim em 15 de março de 2023, ou seja, pouco mais de uma semana depois. Embora haja crítica relacionada à estrutura arquitetônica, neste artigo vou falar exclusivamente sobre os assuntos que se relacionam à inauguração sem acessibilidade, pois foi algo feito sem planejamento adequado.

Elevadores
O local tem dois pavimentos, que são interligados por dois elevadores, porém estes ainda estavam sendo instalados. Se a obra como um todo não dava para ser acabada até o dia da inauguração, até podemos compreender, mas o elevador já deveria estar funcionando na inauguração. É uma falta de planejamento, pois já era sabida a data da inauguração, e houve tempo suficiente para instalar o elevador.

Só que não deram importância ao elevador, afinal havia escadas entre os pavimentos, onde os visitantes também poderiam transitar, mas somente aqueles que conseguem andar.

 

Inauguração sem acessibilidade. Ricardo Shimosakai aponta para as portas dos elevadores da Pinacoteca Contemporânea, que estão cobertos por um pano preto e com um papel na frente escrito “em montagem”

Rampa

Ainda há uma rampa externa, bastante longa, onde somente pessoas com boa capacidade física ou cadeiras motorizadas conseguem encarar sozinhos. Podem pedir ajuda? Mas aí fica uma acessibilidade dependente, e isso não é a melhor solução. É ótimo ter uma rampa, pois em caso de emergência tem uma alternativa boa para evacuação, ou acesso alternativo, para se der algum problema no elevador.

Mas o elevador não deu problema, o problema foi o planejamento para uma inauguração sem acessibilidade. Eu acessei o andar de baixo, seria menos ruim se não houvesse um guindaste de grande porte bem no meio dessa rampa. Consegui passar por um lugar apertado, mas isso não é nada bom.

Afinal, não deixariam de jeito nenhum esse guindaste no meio da entrada principal do museu, pois todos iriam perceber a desorganização do museu. Mas deixar ele na rampa, parece que não há problemas, em atrapalhar a acessibilidade.

Banheiro

O banheiro, que é considerado por muitas pessoas com deficiência física, como um dos pontos mais importantes da acessibilidade, tem várias falhas, mas vou destacar somente dois, e isso já vai dar para perceber como a acessibilidade está inadequada. Primeiro o espelho, que apesar da norma permitir que ele seja colocado em uma parede lateral, foi colocado um espelho muito estreito com um péssimo alcance visual. Com certeza ninguém testou isso. E eu não concordo com essa opção, não é funcional.

Outro erro, e esse é imperdoável, é a altura da saboneteira e do papel toalha, inalcançável para a muitas pessoas, de tão alto que está. E o alcance manual, é um dos critérios mais básico que existe na acessibilidade. Acho que falta o lema, “Nada sobre nós, sem nós”, pois se me chamassem para fazer uma validação da acessibilidade, isso jamais teria passado.

 

Inauguração sem acessibilidade. Ricardo Shimosakai está dentro do banheiro da Pinacoteca Contemporânea apontando para a saboneteira, numa altura inacessível, instalada acima da cabeça em frente à pia

Imagem

Acredito que faltou profissionais competentes para passar mais orientações, e se prenderam muito à acessibilidade arquitetônica do local, e isso resultou numa inauguração sem acessibilidade. Eu vi vários depoimentos de visitantes na televisão e redes sociais, comentando essa falta de uma boa acessibilidade, que ficou perceptível mesmo para aqueles que não necessitam dela. Isso acaba prejudicando a imagem do local, pois a acessibilidade já tem uma posição de valor para a sociedade como um todo.

Atendimento

Como eu sempre comento, a acessibilidade em grande parte é considerada somente na parte arquitetônica, e se esquecem de outros itens muito importantes, que fazem a acessibilidade funcionar. Só pontuando, achei o atendimento também pouco treinado, pois no balcão de informações disseram que eu não poderia acessar o pavimento inferior.

Como eu já sabia, por fontes particulares, que havia uma alternativa, insisti que tinha uma rampa externa para acessar, ou seja, eu como visitante, tive que orientar a funcionária do museu. Os papéis se inverteram e isso não pode acontecer.

Planejamento

Por isso sempre insisto num planejamento, e não ações pontuais para que não aconteça uma inauguração sem acessibilidade. Mesmo para aqueles que consideram um projeto com vário itens, como deve ter sido o projeto arquitetônico da Pinacoteca Contemporânea, mesmo assim ele não é completo, pois além da acessibilidade arquitetônica, também é essencial considerar as tecnologias assistivas, o atendimento inclusivo e a informação e marketing sem barreiras.

Na verdade um acompanhamento permanente da acessibilidade, ou pelo menos periódicos, revisões, são necessárias, pois senão aquilo que foi bom um dia, pode ficar ultrapassado, como já dei exemplos aqui da cidade de Curitiba e do Novotel Jaraguá, referências em acessibilidade no passado, que ficaram ultrapassados.

Tudo isso que coloquei aqui faz parte do meu trabalho, onde proponho um planejamento da acessibilidade na minha consultoria em acessibilidade, para que todos possam ser atendidos de forma inclusiva, eliminando as possibilidades de uma inauguração sem acessibilidade, sem falhas e com bons resultados, reconhecido pelos próprios visitantes com deficiência. Além disso, caso a empresa ou profissional queiram adquirir o conhecimento, até dos conceitos ensinados exclusivamente por mim, como a Acessibilidade Funcional, também pode aprender com os meus cursos.

Para esse tipo de caso, o treinamento também é bastante válido, pois nele eu capacito os funcionários para as mais variadas situações específicas da empresa, nesse caso um museu. O meu método de agregação de conhecimento e resultados, é baseado na prática e opinião dos próprios usuários, e a satisfação disso, você pode conferir no meu perfil do Instagram e no canal do YouTube. Mas ali são pílulas de conhecimento, não substituem um planejamento profissional. Para demonstrar isso à um grupo de profissionais, sou bastante procurado para dar palestras em empresas e eventos.

 

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