Deixa a cadeira me levar. Aproveite o embalo para rodar com sua cadeira de rodas manual.

Man climbs CN Tower steps in wheelchair

Escrito por Ricardo Shimosakai

8 de dezembro de 2021

Deixa a cadeira me levar. Conduzir sua cadeira de rodas manual é uma habilidade que vai além de somente empurrá-la. Aliás, se você só empurrar sem nenhuma técnica, com certeza vai ter um baixo aproveitamento e possivelmente encontrar alguns problemas bem desagradáveis.

Quero dar uma dica que aprendi, em mais de 20 anos como usuário de cadeira de rodas. A dica serve para aqueles que tocam sua própria cadeira de rodas, mas também para quem conduz a cadeira de rodas de uma outra pessoa. É um pouco diferente para cada caso, mas o princípio é o mesmo.

Ruas e calçadas, geralmente possuem inclinação, pra frente, para trás ou para os lados, e isso depende também da direção em que você está rodando em relação ao piso. Mas a questão é que essas inclinações influenciam na direção que a cadeira de rodas anda. Ela pode acabar sendo forçada a ir numa direção que você não quer ir, e para isso você precisa corrigir a direção com as mãos. No vídeo, faço uma demonstração na região da Avenida Paulista.

O problema é que se você andar por muito tempo com a inclinação forçando a cadeira de rodas para um lado, essa forçada contínua no mesmo local da mão poderá formar calos e bolhas. Uma bolha na mão dói muito, principalmente se ela estourar, arde sem parar. O pior é que se você estiver no meio do caminho, não tem como parar de empurrar, e depois da bolha formada e estourada, a região fica supersensível, e basta um simples toque para arder, ou nem isso. Então uma dica é, se possível, mudar o lado da rua quando um dos lados cansar ou começar a doer, pois no outro lado da rua, a cadeira de rodas vai ser forçada para outra direção, já que tem uma inclinação inversa.

Assim fazendo um revezamento, você evita o machucado. Outra precaução é fazer pausas para descanso ou usar luvas, mas mesmo fazendo isso é preciso controle. Uma luva frouxa, também pode causar bolhas através da fricção nas mãos. Uma terceira opção é mudar de rota, e fazer um caminho alternativo, para a mesma direção, mas que esteja em melhores condições para rodar. A distância pode ficar maior, mas vai ser menos agressivo, e com isso evitar os machucados.

Quando você está em um piso mais plano, com pouca ou nenhuma interferência de inclinações, a cadeira de rodas anda bem mais suave, e daí você pode aproveitar a inércia, já que com um empurrão, ela consegue rodar uma distância maior na mesma direção. Se isto não estiver acontecendo, é com verificar sua cadeira de rodas pois algo está errado, e se não conseguir identificar o problema, levar a uma assistência técnica. Não vale a pena economizar na manutenção da cadeira de rodas, para depois ter que precisar de um esforço maior para empurrá-la.

Eu brinco dizendo que a minha cadeira de rodas é a minha melhor amiga, pois ela me acompanha em todas as situações, estou com ela faz anos, e sei que não posso me separar dela. Por isso preciso cuidar muito bem dela, e entender como juntos podemos fazer as coisas da melhor forma possível. Às vezes ela reclama que precisa de alguma coisa, como trocar pneus, apertar parafusos ou fazer uma limpeza, e daí eu atendo sem questionar, pois sei que ela fala isso pro meu bem. Fazendo assim, sei que ela nunca me deixará na mão, e assim podemos continuar em harmonia.

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