Ajuste do Turismo Acessível. Vicente Gonçalves Chaves, Presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência de Araguari-MG e membro do CBL (Coletivo Bancada do Livro), me convidou para participar do programa “Inclusão e Cidadania” dentro do canal do YouTube do CBL. Também participou Valéria Andrade, Presidente do Conselho Municipal dos direitos da Pessoa com Deficiência de Juiz de Fora.
O Coletivo Bancada do Livro foi criado por dirigentes sindicais e trabalhadores em educação em diversas regiões de Minas Gerais em defesa da escola pública gratuita, laica e de qualidade. Este movimento espalhou por vários estados constituindo em uma ferramenta de formação da situação corrente no cenário brasileiro.
Ajuste do Turismo Acessível
Valéria Andrade, logo na introdução, comentou que a acessibilidade vai além das partes físicas, da estrutura arquitetônica de um local, e citou Romeu Sassaki, um companheiro de luta pelos direitos da Pessoa com Deficiência, com quem eu tive o prazer de conhecer e trabalhar, que defende que a acessibilidade está dividida em outros subgrupos, como a acessibilidade arquitetônica, acessibilidade atitudinal, acessibilidade programática, acessibilidade instrumental, acessibilidade metodológica, acessibilidade natural, acessibilidade comunicacional e acessibilidade digital. O ajuste do Turismo Acessível tem muito a ver com prestar atenção em todas essas áreas, e em um outro artigo explicarei melhor cada uma delas.
Também foi comentado a importância do turismo para o país, pois corresponde a 8,1% do Produto Interno Bruto (PIB), com sete milhões de pessoas trabalhando. Passear e viajar é muito mais do que uma diversão, e também reflete na saúde física e mental das pessoas. Podemos perceber a importância desse setor atender as pessoas com deficiência, além da oportunidade existente se levar em conta os milhões desse público existente em todo o mundo. Fazendo o ajuste do Turismo Acessível, o PIB aumenta assim como as oportunidades de trabalho.
Outro ponto mencionado e que eu concordo, é que muito se pratica a caridade e assistencialismo à pessoas com deficiência, com oferta de gratuidades, meias-entradas ou outros benefícios. É claro que isso ajuda aquelas pessoas que não possuem recursos financeiros para passear e viajar, mas isso não pode ser exagerado, senão há pessoas que acabam vivendo somente em função de benefícios e não tomam atitudes para comprar seu ingresso, por exemplo, e ficam implorando e até brigando pelo benefício.
Isso é praticamente uma autoexclusão inconsciente. É claro que o governo e a sociedade como um todo tem sua responsabilidade, em acabar com a exclusão e oferecer condições equitativas de estudo, trabalho, para assim a pessoa com deficiência poder ganhar seu próprio dinheiro e ter condições para comprar seu ingresso. Isso sim é inclusão.
Valéria Andrade, que também é cadeirante, ainda citou sobre uma viagem que fez ao Maranhão, e que não sentiu nenhuma dificuldade por ser atendida por guias de turismo treinados para atender o público com deficiência. É claro que encontrou barreiras, mas estas foram vencidas com o apoio desses profissionais. Por isso a importância de um atendimento capacitado. Eu já capacitei vários guias de turismo e funcionários de atendimento ao público através de meus treinamentos e cursos. O atendimento é essencial para o ajuste do Turismo Acessível, mas poucos procuram se capacitar.
Na minha vez, novamente manifestei minha insatisfação com os profissionais mal preparados do mercado que trabalham com acessibilidade, e por conta disso, vemos a maioria dos locais mal preparados para receber as pessoas com deficiência. Dos itens que eu citei logo no começo deste artigo, a maioria só se preocupa com a acessibilidade arquitetônica e deixa todo o resto de lado, por não ter conhecimento do assunto.
Além disso, falei da falta de boas iniciativas do Ministério do Turismo, que faz pequenos projetos esporádicos com um resultado prático muito baixo. Já houve um projeto ótimo, que é referência até hoje e conhecido internacionalmente, chamado Aventura Especial. Foi iniciativa de uma Ong, que tinha uma pessoa dedicada para o assunto e com experiência, e o Ministério do Turismo entrou como apoio para potencializar a iniciativa. Agora o Ministério do Turismo, sem pessoal dedicado e sem experiência, e pior, sem querer apoiar projetos que tenham isso, o resultado é desapontador. O ajuste do Turismo Acessível também passa pelos órgãos públicos, eles são ótimos quando é feito um bom planejamento.
Enquanto isso, eu vou na minha luta pelo ajuste do turismo acessível, por muitas vezes solitário, buscando fazer o lazer e turismo mais acessível e inclusivo. Caso o Ministério do Turismo me desse apoio, com certeza teríamos melhores resultados. Modéstia à parte, a minha consultoria em acessibilidade já deu mais resultado do que tudo o que Ministério do Turismo já fez, e já ensinei muito mais gente através de meus cursos e palestras do que qualquer programa de orientação desse órgão. Acho triste fazer esse desabafo, mas é fácil ver isso, confiram meu perfil do Instagram ou vejam meu canal do YouTube, e depois comparem procurando no Google o que já foi feito pelo Ministério do Turismo.
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