Passeio turístico inclusivo a pé. Há diferentes maneiras de fazer um passeio turístico para conhecer os atrativos de um destino. O mais simples e barato deles, é aquele que você visita os locais a pé, preferencialmente conduzido por um Guia de Turismo, pois eles conhecem bem o trajeto, além de conhecerem a história e curiosidades em todo o roteiro.
Já deixo no começo a minha crítica, pois os Guias de Turismo precisam passar por um curso, para aprender a trabalhar com esse tipo de serviço, e conquistar sua credencial e ficarem legalizados. Mas infelizmente, nenhum curso do Brasil, ensina como atender adequadamente as pessoas com deficiência e outras diversidades. Eu não culpo exatamente os próprios Guias de Turismo, mas o Governo em colocar uma regulamentação sobre isso, e as escolas em incorporarem isso como parte do curso, pois não é necessariamente ter uma legislação para ter esse tipo de iniciativa.
Os raros guias que sabem fazer um guiamento inclusivo, foram se capacitar por conta própria, ou com a ajuda de pessoas e instituições que não cuidam especificamente na formação de Guias de Turismo. Eu já dei alguns treinamentos particulares, por exemplo para uma iniciativa de capacitação desses profissionais feita pela SPTuris, e num projeto na cidade de Bonito/MS onde visitei diversos atrativos acompanhado pelos guias locais. Um de meus projetos é criar um workshop itinerante, voltado para o atendimento inclusivo, passando pelas cidades brasileiras, e também um curso online sobre o mesmo assunto. Se você tiver interesse em participar, deixe seu comentário abaixo.
Agora, pensando no passeio turístico em si, um dos principais dificultadores para pessoas com deficiência e mobilidade reduzida é o próprio caminho, pelas calçadas, ruas e travessias. A acessibilidade nesses locais citados, tem um grande impacto, pois não é somente uma rota turística, mas também o caminho de pedestres que passam diariamente para ir à escola, trabalho ou mesmo realizar tarefas do cotidiano, como ir ao supermercado e farmácia.
As calçadas geralmente não possuem uma uniformidade, pois moradores e o comércio acabam tomando conta desse espaço, e realizando intervenções, como colocar pedras, ladrilhos, gramas, e inúmeras outras opções decorativas que na grande parte das vezes, acabam interferindo na acessibilidade. Isso sem contar nas calçadas que podem ser consideradas boas, mas que sofrem com a ação do tempo, criando buracos pela falta de conservação ou sendo destruídas pelas raízes de árvores plantadas inadequadamente.
Por isso, assim como já pratico no meu cotidiano, nesse passeio eu fiz a maioria do trajeto caminhando pela rua. É claro que isso não é o correto, mas será que é correto deixar as calçadas inacessíveis? Então é praticamente uma questão de sobrevivência, pois as ruas geralmente são melhores para caminhar, pois não tem tantas intervenções, é mais uniforme. Tenho o cuidado de fazer isso em ruas mais tranquilas, onde há espaço para os carros passarem junto comigo, e como o passeio foi feito num domingo, havia menos carros circulando e as ruas por onde passamos tinha pouco fluxo.
Outro ponto dificultador além das irregularidades do piso, é a questão do rebaixamento de guias, pois nem todas as calçadas têm uma rampa de acesso, e esse é mais um motivo da minha escolha por circular pela rua. O relevo dos lugares, com suas subidas e descidas também podem deixar o trajeto difícil. É claro que não é possível tirar a inclinação da rua, mas é possível escolher um trajeto mais suave, quem sabe um pouco mais longo, mas possível de circular sem depender de terceiros. Pode existir a possibilidade de alguém ajudar empurrando a cadeira de rodas, mas geralmente os usuários preferem se sentir independentes e capazes de fazer tudo sozinhos.
Pegando o gancho dessa situação, nesse passeio no roteiro da Vila Madalena do São Paulo Free Walking Tour, nos deparamos com uma entrada com obstáculos em um dos atrativos. Então com a ajuda da segunda guia do passeio, pois eram duas, fomos para outra entrada, que no trajeto desse roteiro seria a saída, pois ela tinha passagem livre. Então a acessibilidade nos atrativos é o outro ponto muito importante de um passeio turístico inclusivo.
O passeio teve uma duração aproximada de 3 horas e meia, do começo ao final. Estava um sol forte, então uma parada era necessária, e já estava programada, para se hidratar e ir ao banheiro. Os guias indicam a ZIV Gallery para utilizar o banheiro, pois eles já estão cientes que os participantes do passeio, estão liberados para o uso. Perguntei para a guia se havia um banheiro acessível no local, mas ela não soube dizer, então perguntamos para a funcionária da galeria, mas ela achou que o banheiro não era acessível. Como infelizmente já estou acostumado com a confusão das pessoa, pedi para ver o banheiro pessoalmente, e quando chegamos, ele era bem acessível, inclusive com barras de apoio e outros recursos de acessibilidade.
É preciso conhecer a acessibilidade, seja no roteiro que você guia, ou no estabelecimento que você trabalha, e como deu pra perceber, esse tipo de informação acaba sendo negligenciada. Caso o local não tivesse um banheiro acessível, eu iria ver outro local, ali perto, ou mesmo no cominho, em algum estabelecimento como restaurante ou hotel, pois geralmente eles entendem a nossa necessidade e acabam liberando cordialmente o banheiro para uso.
Um passeio turístico, para ser chamado de totalmente inclusivo, também é preciso pensar em outros tipos de deficiência e diversidades, como por exemplo pessoas com deficiência visual, auditiva e intelectual. Mas para fazer um artigo mais abrangente, ele ficaria enorme, maior do que já está. Então deixo isso para abordar em outro artigo, ou caso você tenha interesse em aprender, comente abaixo para saber mais sobre os workshops e treinamentos.
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