De scooter pelo mundo. Fui convidado por José Luís Araújo para escrever o prefácio do livro “De scooter pelo mundo: Os perrengues de um viajante PCD”. Coloco abaixo esse prefácio na íntegra, e o link para você comprar o livro pela Amazon. As viagens foram uma forma de trazer independência e felicidade à minha vida, além de um caminho profissional. Hoje trabalho para tornar o turismo mais acessível, prestando consultorias de acessibilidade aos empreendimentos, além de treinamento para as equipes de trabalho.

Compartilho minha experiência de mais de 24 anos como cadeirante, contando minhas experiências em palestras, escrevendo artigos em meu blog, postando notícias em meu instagram e subindo vídeos em meu YouTube. Além disso, desenvolvi um Curso Online Acessibilidade e Inclusão, para quem busca um aprendizado maior na área.

De scooter pelo mundo

Imagine-se a bordo de uma scooter, não apenas como um meio de transporte, mas como um veículo de liberdade e descoberta. Agora, visualize essa scooter percorrendo caminhos que muitos considerariam intransitáveis, desbravando territórios desconhecidos e transformando cada obstáculo em parte de uma história maior. Essa é a essência da jornada que José Luís nos convida a compartilhar em “De Scooter Pelo Mundo”.

Este não é um livro comum de viagens; é uma crônica de resiliência, humor e uma paixão inabalável pela vida. José Luís, com sua scooter e espírito aventureiro, nos leva por uma viagem que é tanto física quanto emocional, narrando suas experiências com uma honestidade cativante e um estilo descontraído que nos faz sentir como se estivéssemos conversando com um velho amigo.

Eu fiquei pensando em como o “De Scooter pelo Mundo” deveria ser classificado… será um livro ou u guia de viagens? Dependendo do ponto de vista, é um diário de experiências, e para outros mais parece um romance baseado na vida real ou um texto motivacional. Na verdade, é um material multifuncional com diversas utilidades, como um canivete literário, e por conta disso, acaba se tornando muito interessante, pois sua variedade agrada a diferentes tipos de leitores.

Encontrei muitas semelhanças, me identifiquei demais com o conteúdo, pois muitos dos destinos citados, eu também já visitei, e aqueles que ainda não cheguei a conhecer, agora a minha vontade de visitá-los ficou ainda maior. Em algumas situações, até parecia que tínhamos viajado juntos, pois foram experiências praticamente idênticas. É claro que também há bastante diferenças, mas principalmente para mim que sou um estudioso do turismo inclusivo, foram relatos superinteressantes.

Desde a Cidade Maravilhosa, onde os olhos do mundo se voltaram para as Olimpíadas, até as ruínas de Pompeia, onde a história se preserva sob camadas de cinzas vulcânicas, José Luís compartilha não apenas os lugares por onde passou, mas também as pessoas que encontrou, as culturas que absorveu e os perrengues que, inevitavelmente, se tornaram parte do percurso.

O autor nos mostra que a acessibilidade é mais do que uma questão de infraestrutura; é uma questão de atitude. Ele nos ensina que, mesmo quando confrontados com a “escorregada” de um serviço de trem ou a inesperada falta de um vagão acessível, há sempre um caminho a ser encontrado, uma solução a ser negociada, uma história para ser contada.

A cada capítulo, somos apresentados a novos personagens, cada um com seu papel único na jornada de José Luís. Há o garçom que, com um simples ato de honestidade e profissionalismo, deixa uma impressão duradoura. Há a atendente da estação de trem, cuja solução “fofa” para um problema de acessibilidade revela as complexidades e desafios que as pessoas com deficiência enfrentam diariamente. E há os gondoleiros de Veneza, cujo ofício ancestral é descrito com um respeito que transcende a barreira da inacessibilidade.

Como sou uma pessoa bastante viajada também, sinceramente não é qualquer relato que me entusiasma e me motiva, mas aqui a coisa foi diferente. Os lugares têm influência, pois saber de destinos que ainda não visitei é uma ótima provocação, no bom sentido. Mas a forma como é contada, é envolvente e me cativou mesmo nas histórias de lugares que eu já conhecia. Se fosse um agente de viagens, eu diria que José Luiz tem uma excelente estratégia persuasiva para não deixar o cliente sair da agência sem fechar um pacote de viagens!

Achei muito interessante a evolução como turista, experimentando diferentes modos de viajar, por vezes assessorado por uma agência de viagens e um guia de turismo, mas também organizando a viagem completa por conta própria. Viagens em grupo com várias pessoas, administrando toda a logística de transporte, hospedagens e visitações, até aquelas mais particulares, sem ter que se preocupar com outras pessoas. Isso é o que eu costumo chamar de um turista profissional, que sabe lidar com praticamente todos os tipos de situação, e está preparado até para o inesperado.

“De Scooter Pelo Mundo” é também um testemunho de amor e parceria. A Má, descrita pelo autor como sua super-heroína sem capa, é a companheira incansável que não apenas empurra a scooter quando a bateria acaba, mas também empurra os limites do que é possível. Juntos, eles enfrentam cada desafio com uma mistura de pragmatismo e paixão, mostrando que o verdadeiro espírito de equipe pode superar qualquer barreira.

José Luís escreve com uma leveza que desafia a gravidade das situações. Seja lidando com um malandro que se recusa a pagar pelo conserto de um carro ou com a descoberta de que a bolsa que pensavam ter perdido estava, o tempo todo, no cesto da scooter, o autor nos lembra que a vida é cheia de reviravoltas e que o humor é uma ferramenta poderosa para lidar com o inesperado.

José Luís, com sua perspicácia e olhar atento, nos apresenta as delícias culinárias que encontrou em suas andanças, desde um simples mas saboroso prato de pasta até um sofisticado almoço harmonizado em uma vinícola renomada. Cada refeição é uma aventura para o paladar e uma chance de se conectar com a cultura local de uma maneira autêntica e deliciosa.

Além disso, o livro é pontuado por reflexões sobre a importância da sustentabilidade e do turismo responsável. José Luis nos faz pensar sobre como nossas escolhas de viagem podem impactar as comunidades locais e o meio ambiente, incentivando-nos a ser viajantes mais conscientes e respeitosos.

E não podemos esquecer das pitorescas descrições das paisagens naturais! Seja admirando o pôr do sol em um cânion deslumbrante ou sentindo a brisa do mar em uma cidade costeira, o autor nos transporta para cenários que são verdadeiros cartões-postais, mas com um toque muito pessoal e íntimo.

“De Scooter Pelo Mundo” também é um hino à amizade e à bondade dos estranhos. As pessoas que José Luis encontra em sua jornada, desde o mais humilde trabalhador até o mais atencioso anfitrião, são retratadas com uma profundidade que nos lembra que, em qualquer lugar do mundo, a gentileza e a compreensão são universais.

E, claro, o humor é um personagem constante nesta obra. As tiradas inteligentes e as observações espirituosas do autor nos garantem risadas genuínas e nos lembram de não levar a vida tão a sério. Afinal, é nas surpresas e nos imprevistos que muitas vezes encontramos as histórias mais memoráveis.

Este livro é um convite para rir, para aprender e, acima de tudo, para refletir sobre a nossa própria jornada. José Luis nos inspira a ver o mundo não apenas como ele é, mas como ele poderia ser – mais inclusivo, mais acessível e mais acolhedor para todos, independentemente de suas limitações físicas.

Ao virar a última página, você se sentirá como se tivesse viajado o mundo na companhia de um amigo que, apesar de todas as adversidades, escolheu viver cada dia com intensidade e gratidão. “De Scooter Pelo Mundo” é mais do que um livro; é uma celebração da vida e um lembrete de que, com a scooter certa e a atitude correta, não há limites para onde podemos ir.

Tenho certeza de que muitas outras viagens acontecerão, e com elas muitas experiências, perrengues e histórias inesquecíveis virão, portanto espero que esta seja o início de uma coleção, que todos os que tiveram a felicidade de ler, com certeza ficarão sempre esperando um próximo lançamento.

Então, ajuste o retrovisor, acelere e prepare-se para uma aventura que promete mudar a maneira como você vê o mundo. Bem-vindo à viagem de José Luis, uma viagem que prova que, às vezes, as rodas mais pequenas podem levar-nos aos lugares mais grandiosos.