Chama a Bebel. A brilhante e corajosa Bebel (Giulia Benite) é uma jovem cadeirante que mora com sua mãe (Larissa Maciel) e o avô (José Rubens Chachá) nas margens de uma rodovia no interior que vê sua rotina mudar drasticamente quando se muda para a cidade grande para poder estudar em uma nova escola.
Bebel então entra em uma jornada de amadurecimento entre baixos e altos, onde enfrenta muitos desafios para tentar se adaptar, incluindo sua tia (Flavia Garrafa), estudantes populares do colégio e até um inimigo poderoso – um empresário da cidade que faz testes laboratoriais em animais. Inspirada na ativista ambiental Greta Thunberg, Bebel se torna uma líder na escola e seus projetos, mas algumas pessoas serão capazes de qualquer coisa para impedir a garota e seus aliados.
Chama a Bebel
A questão da deficiência de Bebel é somente um tempero para a trama, pois o enredo não foca em cima disso, e poderia ser filmado com uma personagem sem deficiência. Mas as situações que envolvem a deficiência da garota, e as dificuldades decorrentes da falta de acessibilidade para a cadeira de rodas, ou das próprias dificuldades de Bebel por causa da deficiência, acabam sendo interessantes e até engraçado para o espectador, e deixando o filme Chama a Bebel ainda mais interessante.
Uma polêmica que geralmente surge em filmes em que há personagens com deficiência, mas que não são representados por atores com deficiência. É claro que eu acho que falta dar condições para que as pessoas com deficiência desenvolvam suas habilidades como ator e atrizes. A estrutura de escolas de atores e também dos locais de ensaio e teatros, dificultam muito pessoas com deficiência física, e praticamente nenhum está preparada para acolher pessoas com deficiência visual e auditiva. Eu já prestei consultoria em acessibilidade para teatros, mas ainda muitos deixam a desejar na acessibilidade.
A consequência disso, é que existem poucos atores e atrizes com deficiência, então onde achar uma garota usuária de cadeira de rodas para fazer o papel da protagonista em Chama a Bebel? Mesmo que existe, não é qualquer garota que pode ser selecionada, aliás, principalmente para personagens protagonistas, há uma bateria de testes com várias candidatas para poder selecionar a melhor.
Não se pode condenar a qualidade de um filme em nome de uma causa, selecionando uma personagem totalmente compatível, mas sem experiência para atuar. Melhor e mais seguro chamar uma boa atriz e fazer com que ela atue com uma cadeira de rodas. Em uma das aulas do meu Curso Online Acessibilidade e Inclusão, eu esclareço como é a verdadeira inclusão.
E se for pensar, um ator ou atriz, na maioria esmagadora, serve para representar algo que ele não é. Ou você acha que Harrison Ford é realmente um arqueólogo para poder fazer o ator no filme “Indiana Jones” ou que Bob Marley ainda está vivo e atuando no filme “Bob Marley: One Love”? Então representar um personagem, no caso do filme Chama a Bebel, uma atriz sem deficiência que representa uma garota cadeirante, não tem problema nenhum. O problema é a falta de oportunidade que citei anteriormente.
Mas, apesar da protagonista não ser uma pessoa com deficiência, o professor da escola de Bebel, possui sim uma deficiência. Ele se chama Rafael Müller, é ator e modelo fotográfico, já participou de diversas campanhas publicitárias para grandes empresas. Eu não o conhecia, mas deu para perceber que ele já era cadeirante, pela forma como ele conduzia sua cadeira de rodas. É claro que devemos cobrar para que mais portas se abram, mas já é possível ver várias mídias onde há a participação de pessoas com diferentes tipos de deficiência, isso é uma conquista enorme. Em meus treinamentos, eu costumo usar casos reais como esse, para mostrar como é a convivência ou atendimento à pessoa com deficiência.
Eu acho ótimo que a temática da pessoa com deficiência esteja presente em todos os lugares, inclusive no cinema. Isso é uma forma educativa para que a sociedade se acostumarem com esse tipo de pessoa, e passe a compreender as dificuldades da falta de acessibilidade, mas perceba que é possível resolver isso. Quanto mais estivermos em evidência, mais comuns seremos às pessoas, o que ajuda a diminuir o preconceito e a discriminação, e achar um caminho melhor para a inclusão.
O filme Chama a Bebel também conta com audiodescrição e libras através do aplicativo Moviereading. Esse tipo de tecnologia assistiva, já mencionei em minhas redes sociais como o meu perfil do instagram e no meu canal do YouTube, além das palestras ao redor do Brasil e exterior.
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