Bilheteria acessível inútil. Cumprir as exigências de acessibilidade, muitas vezes é somente uma forma de se livrar de multas ou processos, pois vários locais pouco se importam no principal objetivo, que é oferecer uma experiência sem barreiras.
Não é difícil encontrar projetos de acessibilidade que estão bem adequados pelo ponto de vista arquitetônico, mas que não funcionam do ponto de vista operacional. Isso é bem aquilo que eu sempre insisto, que a acessibilidade tem que ser funcional, e não somente o cumprimento das regras colocadas em leis e normas.
É muito comum encontrar bilheterias que não funcionam apesar de existir. Nem sempre todas as bilheterias estão funcionando, por causa de uma baixa demanda de público, e com isso algumas delas são desativadas temporariamente. Geralmente a bilheteria acessível é instalada em uma das pontas, e quando se decide deixar somente algumas funcionando, essa operação se concentra mais no centro, então as bilheterias das pontas, que é justamente onde costuma ficar a bilheteria acessível, são desativadas. Chamei de bilheteria acessível inútil por não ter utilidade na prática, não porque ela não presta, muito pelo contrário.
Também já vi lugares, onde apesar de todas estarem funcionando, somente a bilheteria acessível não estava. Isso força o cliente com deficiência se dirigir às bilheterias sem acessibilidade que estão funcionando. Isso acontece, pois os funcionários geralmente orientam para essa ação, dizendo que ligar o caixa e sistema da bilheteria acessível, iria demorar muito.
Em outra situação, a suposta bilheteria acessível não está equipada para vender os bilhetes, existe somente o espaço adequado de forma arquitetônica, então nem merece ser chamada de bilheteria. A bilheteria acessível deve estar permanentemente em funcionamento, como se ela fosse prioritária. Se o local só tiver uma bilheteria, esta deve ser acessível, e se tiver duas ou mais, quando se optar por desativar alguma delas, nunca escolher a bilheteria acessível. Como foi comentado acima, se a preferência do local é deixar as bilheterias do centro sempre funcionando, então é no centro que a bilheteria acessível deve estar.
Na foto acima, não é exatamente uma bilheteria, mas a situação é praticamente a mesma. São caixas de pagamento de um supermercado, onde o caixa preferencial acessível está desativado enquanto os outros funcionam.
Ergonomicamente falando, pessoas com uma estatura mediana que ficam de pé, não se incomodam com a altura mais baixa da bilheteria acessível, conseguindo conversar com o atendente e comprar o bilhete sem nenhuma dificuldade. Isso eu pessoalmente já conferi em pesquisa com diversas pessoas. No caso da pessoa com deficiência, uma bilheteria sem acessibilidade pode dificultar muito, ou até impedir a compra do bilhete.
É importante pensar nos pontos importantes de uma operação na bilheteria, tendo como base a jornada de compra do cliente. Como o foco deste artigo é a bilheteria, não vou entrar em detalhes também importantes como a fila preferencial, e que fazem parte deste contexto, mas que serão abordadas em outro artigo.
Então quando chega a vez do cliente ser atendido, geralmente há uma troca de informações com o atendente, nem que seja para já pedir o bilhete diretamente, se não houver nenhuma dúvida para perguntar. Então é importante ter um contato visual, pois ficar falando com alguém que não se enxerga, não é nada agradável, e no caso de cegos, a importância se volta para a voz da pessoa, que tem que ser fácil de ouvir, e tranquilo para o cliente falar.
Dependendo do estabelecimento, vai ser necessário escolher o local da poltrona, e isso é geralmente feito através da telha de um computador, então este também precisa estar visualmente acessível, ou com o atendente preparado para saber orientar uma pessoa cega. E finalmente, depois do evento escolhido, e das dúvidas sanadas, é o momento da compra, então que as máquinas de cartão ou o espaço para passar o dinheiro, também estejam numa altura acessível, e com facilidade de aproximação.
Eu não consigo entender a resistência dos locais em utilizar as bilheterias acessíveis, e mesmo que me expliquem, não consigo aceitar. Na verdade, nem existe a liberdade para fazer esse tipo de escolha, uma vez que a legislação exige a bilheteria acessível. Quem sabe a legislação precisa ser ainda mais específica, dizendo que deve estar permanentemente em operação, e como coloquei no título, não seja uma bilheteria acessível inútil.
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