Acessibilidade invisível. A acessibilidade é vista por muitos, como o simples ato de instalar equipamentos que facilitem as atividades de pessoas com deficiência. O primeiro erro é pensar que a acessibilidade serve somente à esse público, e depois um erro grave, mas infelizmente, muito comum de se encontrar, é a falta de informação da acessibilidade existente, e dependendo do caso, a falta de capacitação das pessoas, para operar alguns tipos de equipamento ou mesmo lidar com alguns tipos de situação.
A informação é uma das partes mais simples, rápidas e baratas no processo de implantação da acessibilidade, e ao mesmo tempo, uma das mais importantes. Alguns lugares possuem acessibilidade, mas esta não é informada em lugar nenhum, seja no website do estabelecimento, ou através de sinalização no próprio local, sem contar com funcionários desinformados que não sabem nos orientar.
Eu chamo de acessibilidade invisível, esses casos onde a acessibilidade está praticamente escondida. E quando ela não é informada, acaba sendo desconsiderada, pois além de um local interessante, que é o que todos procuram, para muitas pessoas com deficiência, precisa ter a garantia de uma boa acessibilidade. Muitos criaram essa resistência, por causa de decepções, ao ir até o local e não poder entrar.
Para dar um exemplo prático, vou mostrar o caso do Theatro Municipal de São Paulo. Este é um caso muito antigo, onde por várias vezes tentei ter um diálogo para poder implantar a acessibilidade no local da melhor maneira, porém as poucas aberturas que tive, não tiveram continuidade. A justificativa é que eles possuem um arquiteto próprio e uma equipe para trabalhar nas ações de acessibilidade. Mas de novo fica aqui meu alerta, de que grande parte dos profissionais, não entendem profundamente sobre acessibilidade e inclusão, e muito menos sobre acessibilidade funcional, e por isso as iniciativas acabam sendo feitas de modo errado, com falhas ou incompleto.
O Theatro Municipal foi inaugurado em 12 de setembro de 1911, e foi tombado em 1981, pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico e Artístico (Condephat). Seu estilo arquitetônico é semelhante e inspirado na Ópera de Paris, e sua fachada tem uma larga escadaria de aproximadamente 13 degraus, o que simboliza imponência e luxo. É verdade que na época de sua construção, a acessibilidade era praticamente desconsiderada, porém o tempo passa, os conceitos e regras mudam, e hoje a acessibilidade é obrigatória, no caso de estabelecimentos antigos, através de adaptações, mesmo para patrimônios tombados.
Mas ainda há outras entradas nas partes laterais, onde era antigamente, a entrada de pessoas que chegavam de cavalos e carruagens, e que atualmente, não fica mais aberta ao público. Justamente nessas entradas laterais, o desnível é menor, pois há uma pequena rampa. Essa rampa não chega até o nível da entrada, ainda se encontra mais alguns degraus, porém menos do que a escadaria principal.
Há muito tempo, não havia opção para entrar, a não ser carregado por funcionários, o que é constrangedor, desconfortável e perigoso. Mas foi entendido que a acessibilidade era algo fundamental, e com isso, foi instalada uma plataforma de elevação inclinada. Eu costumo não indicar equipamentos elétricos, pois além de ter um valor alto na compra, eles precisam de manutenção constante, então é um pagamento infinito. Além disso, alguns enguiçam ou quebram com certa facilidade, e em alguns casos, não oferecem autonomia, pois a orientação é que seja acionada somente por um funcionário.
Mais recentemente, foi instalada uma rampa de madeira, mais barata e simples. A inclinação é alta, mas o espaço disponível dificulta colocar uma rampa de acordo com as normas. Não é impossível subir sozinho, eu mesmo conseguiria, mas há muitos que vão precisar de ajuda, e para isso é destacado os bombeiros que trabalham no local. Na minha última visita em agosto de 2021, encontrei o mesmo projeto de rampa mais adequado, agora com uma estrutura de ferro e com corrimãos.
Da parte arquitetônica, apesar de não estar perfeita, está bem razoável. A grande falha fica na informação, pois no website do próprio Theatro Municipal, a existência da acessibilidade não está clara. Em buscas no Google, a informação melhor, foi uma que eu mesmo escrevi para um artigo que escrevi para a Rede Accor de Hotéis. Não existe nenhum tipo de sinalização no local, mostrando que existe uma entrada acessível, e onde ela está. Nessa situação, muitos visitantes já desistem em suas pesquisas pela internet, pois não encontram uma informação segura para um ítem essencial. Outros, até se arriscam a ir até o local, ou mesmo que estejam de passagem, mas quando se deparam com a enorme escadaria e nenhuma sinalização, também abortam a visita. A imagem acima, ilustra um bom exemplo de sinalização adequada em uma entrada principal feita por escadas, em uma igreja na Europa.
Por esses motivos, é super importante que haja informação no site em todos os materiais disponíveis ao público, e também a sinalização no local, de fácil visualização. Nesta última visita, abordei um dos funcionários que não sabia me indicar corretamente a entrada, então é importante também que todos os funcionários saibam informar. Como uma última crítica, mesmo com a sinalização adequada, ainda fica uma situação falha, pois mesmo que o visitante saiba que há acessibilidade, como chamar o funcionário, já que o portão lateral fica sempre fechado, e funcionários costumam ficar somente dentro do estabelecimento?
É preciso pedir um favor a alguma pessoa que esteja passando pelo lugar, para ir até dentro e chamar alguém, mas isso já não é acessibilidade do local. Então uma campainha deveria ser instalada para que a pessoa pudesse chamar alguém para liberar a entrada. Como pode perceber neste estudo de caso, a acessibilidade vai além de instalações físicas, e um planejamento com um olhar profissional, pode colocar tudo em ordem.
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