Bicicleta adaptada para cadeirante, um passeio acessível e inclusivo

Man climbs CN Tower steps in wheelchair

Escrito por Ricardo Shimosakai

29 de junho de 2022

Bicicleta adaptada para cadeirante. A bicicleta é um brinquedo fantástico para crianças, além de trabalhar a força, também ajuda a controlar o equilíbrio e noções de espaço. Nos últimos anos, a bicicleta passou a fazer parte também da vida de muitos adultos, indo para além de uma atividade de lazer, mas servindo como uma proposta de transporte, mais econômica, saudável, dependendo do caso mais rápida e não poluente, perfeito para a sustentabilidade.

Com a popularização da bicicleta, várias cidades passaram a criar ciclovias, que são pistas preparadas para a circulação de bicicletas, com local, espaço e sinalização específicos. Também existem ciclofaixas de lazer, que são parte da rua, onde uma das pistas é isolada por cones para a passagem de bicicletas, e essa operação acontece geralmente aos domingos e feriados, em locais específicos. Usuários de cadeira de rodas, patins e skates também estão autorizados a utilizar essas pistas.

Quando eu morei no Japão, me lembro como a bicicleta era muito usada pela população, 6 entre 10 habitantes possuem uma bicicleta e até o presidente da empresa que eu trabalhava ia de bicicleta para o trabalho. Em cidades grandes como Tóquio, existem estacionamentos de bicicletas que abrigam mais de 10 mil unidades. Até antes da minha lesão em 2001, eu ainda tinha uma bicicleta, mas depois de perder o movimento das pernas, me desfiz dela.

Fui conhecendo as oportunidades de equipamentos adaptados que existiam para as pessoas com deficiência, inclusive conheci alguns amigos que praticavam o ciclismo adaptado como proposta de esporte, eram atletas profissionais, mas tinham que comprar o equipamento no exterior, pois não havia empresas brasileiras que fabricavam o equipamento. Inclusive alguns deles, já haviam competido em Paralimpíadas e até ganhado medalhas em competições importantes como a Corrida Internacional de São Silvestre.

A primeira vez que eu andei pessoalmente numa bicicleta adaptada foi na World Bike Tour, um evento internacional que convida pessoas a pedalar, e que a pessoa ganha a bicicleta quando faz a inscrição. Eu participei na organização e divulgação desse evento, que também oferecia handbikes, que são bicicletas pedaladas com as mãos, e bicicletas tandem, que são bicicletas de dois lugares, um na frente do outros, onde pessoas cegas também podem pedalar acompanhadas.

Em São Paulo, existe um passeio cultural gratuito de bicicleta chamado Bike Tour SP, com rotas de passeio Na Avenida Paulista, Parque do Ibirapuera, Centro de São Paulo e Vila Madalena. Aos domingos, na Avenida Paulista, também são fornecidas bicicletas diferenciadas, como o trenzinho, onde várias bicicletas vão ligadas uma nas outras, a bicicleta família, que pode ir duas pessoas uma do lado da outra, para quem não sabe pedalar, e a handbike, para pedalar com as mãos. Na rota do centro, ainda tem um passeio com uma intérprete da Língua Brasileira de Sinais, aos domingos. Além de pedalar, nesse passeio do Bike Tour SP, você faz paradas em pontos de interesse onde uma guia conta a história do local.

Ter uma handibike no passeio, já é algo incrível, mas ela podia ser melhor, com alguns itens importantes adicionados ao equipamento. As pessoas tem tamanhos diferentes, e por isso utilizar um equipamento padrão, pode não ficar confortável para algumas pessoas, por não se ajustar às suas dimensões. Quando eu fui experimentar o passeio e a handbike, o pedal das mãos, ficou meio longe do meu tronco, então eu acabava indo pra frente e para trás com meu tronco, pois não tenho força suficiente para ficar sustentando ele inclinado pra frente, tenho que ficar com minhas costas apoiadas no encosto. O ideal era ter um ajuste do assento, para frente e para trás, assim adequaria ao tamanho da pessoa.

Outro incômodo foi a posição de minhas pernas. Elas ficavam dobradas caindo para o lado, o que me desiquilibrava muito. Isso acontecia porque a distância do assento para o apoio das pernas era pequena para mim, e por isso as pernas ficavam para cima, minhas coxas não ficavam encostadas no assento para dar estabilidade, e como não tenho força nas pernas, elas caiam para os lados. Bicicletas esportivas tem o paio dos pés mais para a frente, perto das rodas, mas nesse caso é possível fazer algumas adaptações. Utilizar uma faixa para deixar os joelhos juntos, senão cada perna pode cair para um lado, e depois colocar uma almofada por debaixo das coxas, pois assim daria sustentação à elas. Também pode colocar uma almofada no assento, dai você fica mais alto, mas isso vai modificar também o posicionamento do pedal, então tudo é questão de ter os acessórios e experimentar. Inclusive, para quem não pode ficar sentado muito tempo em superfícies duras, é aconselhável levar uma almofada, pois essa handbike tem um assente de plástico duro.

Mas minha intenção não é criticar com a intenção de depreciar o produto ou serviço, mas apontar melhorias para que a acessibilidade seja cada vez melhor. Isso faz parte do meu trabalho com a Acessibilidade Funcional, onde eu avalio o produto ou serviço na prática, assim consigo tirar muito mais informações, que seriam muito difíceis de se obter na teoria. Se você tem curiosidade em conhecer mais sobre o assunto, siga este blog, meu Instagram e YouTube. Mas se quiser aprender de verdade, então faça meus cursos online sobre o assunto, ou se não tem tempo para estudar mas quer aplicar a Acessibilidade Funcional, contrate meus serviços de consultoria.

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