Terminologias para Deficiências e Acessibilidade. Os nomes utilizados para denominar objetos, atitudes e pessoas relacionadas à acessibilidade e inclusão das pessoas com deficiência, são bastante variadas. Podem ser termos técnicos como “úlcera de pressão”, mais conhecida popularmente como ”escaras”, e também palavras diferentes utilizadas pela própria comunidade para nomear um mesmo assunto ou objeto, como por exemplo o cateterismo ou a sondagem. Considero isso, praticamente um regionalismo entre grupos de uma comunidade.
Há também os termos que mudam com o tempo, pois os critérios, comportamentos e forma de pensar mudam, e com isso, as palavras acompanhas essa mudança. Um exemplo interessante é do nome da AACD (Associação de Assistência à Criança Deficiência), que no começo a sigla significava Associação de Assistência à Criança Defeituosa. Com a evolução da sociedade, o termo “defeituosa” se tornou pejorativo, então o nome mudou, mantendo a mesma sigla, mas agora com a letra D final, significando “deficiente”.
A ONU (Organização das Nações Unidas), na Convenção dos Direitos da Pessoa com Deficiência em 2006, estabeleceu que “pessoa com deficiência” é o termo correto a ser utilizado mundialmente, acabando assim com a confusão entre termos usados como “portador de deficiência”, “pessoa com necessidades especiais”, entre outros. A explicação, é que não podemos negar a deficiência, mas antes dela, somos uma pessoa, então assim a nomenclatura do termo ficou como pessoa com deficiência.
Algumas expressões se tornaram populares, como a palavra “cadeirante”, querendo descrever uma pessoa com deficiência que utiliza cadeira de rodas. Nem tão popular assim, e que às vezes soa estranho para quem não está acostumado, a palavra “andante” é utilizada para quem anda, e a palavra “muletante” para quem anda com auxílio de muletas.
Muitas pessoas, por falta de informação, ainda costumam falar “surdo-mudo” para se referir aos surdos, porém isso são duas deficiências distintas, e o surdo não necessariamente é mudo. Ele só não consegue articular bem as palavras, porque não tem o retorno sonoro. Utilizar essa palavra chega a ser considerado como uma ofensa pela comunidade surda.
Também por bastante tempo, as pessoas com deficiência intelectual eram chamadas de “mongolóides”, e isso chegou a causar problemas de alcance internacional. A Mongólia é um país, que faz fronteira com a China e a Rússia, e o Mongol, aquele nascido na Mongólia, tem os olhos amendoados, e por isso colocaram como uma semelhança com as pessoas com Síndrome de Down, e daí surgiu a palavra mongolóide. Isso soou como uma ofensa, e o governo da Mongólia pediu uma retratação ao governo brasileiro.
Ainda seguindo pela linha de palavras bastante utilizadas no passado e que tinham uma conotação pejorativa, o termo “inválido” passava uma imagem de que a pessoa, por causa da sua deficiência, não tinha valia, pois não conseguia ser ativo ou útil para a sociedade. Em parte, tem uma certa razão, mas devido à falta de acessibilidade e ao preconceito das pessoas, então realmente ficava difícil que as pessoas com deficiência fossem presentes e participantes.
Quando o assunto é acessório e equipamentos para acessibilidade, tecnicamente conhecida como tecnologia assistiva, também acontecem confusões. Um exemplo é chamar de “cadeira elétrica” quando se quer referir à cadeira de rodas movida por um sistema elétrico, mas o nome certo é cadeira motorizada. Mas cadeira elétrica era um instrumento utilizado para a aplicação da pena de morte nos Estados Unidos, onde o condenado era imobilizado em uma cadeira e recebia altas descargas elétricas de 2.000 volts até a morte.
As pessoas tem o costume de chamar de “perna mecânica”, quando uma pessoa utiliza um equipamento para substituir a perna que foi amputada ou complementar uma perna com malformação. Mas o correto é chamar de prótese de perna, pois este é o nome utilizado tecnicamente e popularmente entre os usuários.
As terminologias utilizadas para nominar deficiências e acessibilidade são inúmeras. Algumas são criadas para facilitar os nomes técnicos originais, como por exemplo, a osteogênese imperfeita foi apelidada de “ossos de vidro”, pois é uma doença rara que causa uma grande fragilidade dos ossos. É normal que novos nomes ou apelidos apareçam à medida que o assunto vai ficando mais popular, mas sempre é bom verificar sua utilização correta, para que não crie desconforto, como já aconteceu na fala da ex-presidente Dilma Rousseff na Conferência Nacional dos Direitos da Pessoa, onde falou “portadores de deficiência” para uma plateia de pessoas com deficiência e foi vaiada ao vivo.
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