Crip Camp: a revolução pela Inclusão que começou num campo de férias

Man climbs CN Tower steps in wheelchair

Escrito por Ricardo Shimosakai

26 de abril de 2020

Ninguém diria que um campo de verão para pessoas com deficiência, dirigido por hippies inexperientes, à beira de Woodstock, em 1971, se transformaria numa verdadeira incubadora de mentes e corpos que lutariam com todos os meios ao seu alcance para que – finalmente – a inclusão destas pessoas na vida e princípios quotidianos valores adquiridos, mas nunca realmente se têm a noção do que custou a conquista e a luta intermédia que foi necessária para chegarmos onde estamos – sabendo de antemão que há ainda muito a fazer.

Crip Camp, documentário apadrinhado pelos Obama, que chegou esta semana à Netflix, mais que um crowd pleaser exemplar da luta pelos direitos civis, é um exercício documental extraordinário na investigação, articulação dos arquivos fílmicos e montagem evolutiva dos eventos.

Misturando entrevistas nos dias que correm com imagens de arquivo de inequívoco valor histórico, no documentário seguimos como desde a década de 1970 para cá a batalha das pessoas com deficiência por um reconhecimento de igualdade em relação aos outros se processou.

E é nesse campo de verão, onde pela primeira vez os jovens que o visitaram e passaram alguns dias – entre atividades lúdicas, aprendizagem, e namoricos com direito até a pragas de chatos – se sentiram iguais e não à margem da sociedade, tratados entre a condescendência, incômodo e a distância.

Convém lembrar que durante séculos, a começar na Idade Média, a pessoa com deficiência eram vistas como uma aberração, um “monstro” concebido sob um qualquer pecado com o respetivo castigo divino. Depois disso, a sociedade passou afastar a “criatura” da sociedade, colocando-os em instituições fechadas, frequentemente sanatórios, ou então ainda mais enclausurados e longínquos dos restantes cidadãos.

Esse afastamento, ou compartimentação longe dos “normais”, durou até há bem pouco tempo, como até é descrito neste documentário, quando em pequenas saídas do campo de férias para atividades na cidade, eles eram vistos como prejudiciais para os comerciantes e afastados do espaço público de atendimento.

No centro do nascimento do ativismo pelos direitos destas pessoas encontramos Judy Heumann, uma mulher que esteve nesse campo de férias e que se transformaria verdadeiramente num dínamo no combate contra o preconceito da sociedade e do governo, que foi adiando o que podia a tomada de medidas por motivos económicos. E é essa luta – onde até nem faltam os Panteras Negras à mistura e outras organizações – que a segunda metade do documentário aborda.

Assinado por Nicole Newnham e Jim LeBrecht (que fez também parte do acampamento e fez carreira a trabalhar no som para cinema e tv), Crip Camp é um documentário honesto e bem estruturado sem cair na manipulação emocional, na sacarose do cinema para massas e no didatismo exacerbado, misturando melancolia com conquistas dos direitos civis.

Fonte: C7INEMA

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