Crip Camp, documentário apadrinhado pelos Obama, que chegou esta semana à Netflix, mais que um crowd pleaser exemplar da luta pelos direitos civis, é um exercício documental extraordinário na investigação, articulação dos arquivos fílmicos e montagem evolutiva dos eventos.
E é nesse campo de verão, onde pela primeira vez os jovens que o visitaram e passaram alguns dias – entre atividades lúdicas, aprendizagem, e namoricos com direito até a pragas de chatos – se sentiram iguais e não à margem da sociedade, tratados entre a condescendência, incômodo e a distância.
Convém lembrar que durante séculos, a começar na Idade Média, a pessoa com deficiência eram vistas como uma aberração, um “monstro” concebido sob um qualquer pecado com o respetivo castigo divino. Depois disso, a sociedade passou afastar a “criatura” da sociedade, colocando-os em instituições fechadas, frequentemente sanatórios, ou então ainda mais enclausurados e longínquos dos restantes cidadãos.
Esse afastamento, ou compartimentação longe dos “normais”, durou até há bem pouco tempo, como até é descrito neste documentário, quando em pequenas saídas do campo de férias para atividades na cidade, eles eram vistos como prejudiciais para os comerciantes e afastados do espaço público de atendimento.
Assinado por Nicole Newnham e Jim LeBrecht (que fez também parte do acampamento e fez carreira a trabalhar no som para cinema e tv), Crip Camp é um documentário honesto e bem estruturado sem cair na manipulação emocional, na sacarose do cinema para massas e no didatismo exacerbado, misturando melancolia com conquistas dos direitos civis.
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