Acessibilidade em feiras e exposições. Como organizar um evento acessível e inclusivo.

Man climbs CN Tower steps in wheelchair

Escrito por Ricardo Shimosakai

16 de setembro de 2022

Acessibilidade em feiras e exposições. As pessoas com deficiência, direta ou indiretamente, é um público consumidor muito grande e que se bem atendido, pode trazer um retorno considerável para as empresas que investem nesse público.

Eu sempre cito o mercado automobilístico como um exemplo, pois eles passaram a respeitar e procurar tratar as pessoas com deficiência de forma adequada, como um cliente merece. As concessionárias de automóveis adaptaram suas lojas, colocando rampas e elevadores de acesso, banheiros adaptados, criaram programas especiais para tratar da compra com isenção, com funcionários especializados no assunto. As montadoras, ou marcas fabricantes dos carros, passaram a ser as maiores anunciantes em revistas voltadas ao público com deficiência, são as maiores expositoras em feiras e eventos de acessibilidade para esse público, além de investir em materiais para mídia como comerciais para televisão, postagem nas redes sociais, e todas as formas de atingir esse público com suas propagandas.

Além disso, autoescolas passaram a adaptar seus carros para tirar a carteira de habilitação de pessoas com deficiência, despachantes se especializaram no processo de isenção de impostos na compra do carro zero quilômetro, e empresas de adaptação veicular também ganharam seu espaço. Tudo isso reflete num grande mercado, onde as empresas investem de forma correta, e como consequência tem um enorme retorno de um público que muitos pensam ser passivo ou sem poder aquisitivo.

Para atender o público com deficiência, a acessibilidade precisa estar presente em todos os lugares da feira ou exposição. Vou colocar a Mobility & Show, que em 2022 foi realizada no Estádio do Pacaembu, como uma referência para escrever este artigo. Pensando na forma como o visitante vai chegar ao evento, foi colocado vários carros adaptados como serviço de transporte a partir de estações de Metrô próximas ao local, e organizados bolsões de estacionamento, priorizando os carros que tiverem pessoas com deficiência a estacionarem perto da entrada.

Para entrar no evento, um balcão de atendimento para credenciamento com baixa altura e fila preferencial. Alí também, já é possível pedir o serviço de auxílio, onde voluntários foram treinados, para conduzir visitantes com deficiência física e visual, além de atendentes capacitados na Língua Brasileira de Sinais. Também havia cadeiras motorizadas para quem quisesse ter mais conforto e independência para percorrer o amplo espaço por um longo período.

Todas as formas de barreiras arquitetônicas precisam ser eliminadas, então logo na entrada, havia uma grelha com largos vãos, onde a roda da cadeira de rodas poderia entrar e causar um acidente, então para evitar isso, foi colocado chapas metálicas para tampar essa parte. E como a parte da estrutura coberta era elevada, havia uma rampa larga com atendentes, caso alguém precisasse de auxílio. Vale a pena chamar a atenção, de que alguns problemas são falhas da estrutura do local de exposição, e não da organização do evento.

Uma parte bastante importante é o banheiro, e os espaços de exposição precisam ter banheiros acessíveis, em uma quantidade razoável. Antigamente, era necessário colocar banheiros químicos para suprir a falta de banheiros acessíveis, mas agora esses banheiros já são obrigatórios fazer parte da estrutura. E sempre chamo a atenção para que tenha banheiros acessíveis unissex, pois algumas pessoas com deficiência precisam de auxílio para realizar procedimentos, que às vezes pode ser pessoas de sexo diferente. Então se um homem com deficiência estiver com uma cuidadora mulher, fica difícil entrar em banheiros acessíveis que ficam dentro de banheiros coletivos masculinos ou femininos. Para evitar esse constrangimento, é que existem o banheiro acessível unissex.

Há muito tempo eu critico os expositores em relação à estrutura do estande, pois geralmente possuem degraus, rampas malfeitas e espaços muito apertados para circulação de uma cadeira de rodas. Em muitos casos, essa parte elevada no estande é só uma questão de aparência, e não tem nenhuma função. Mas isso causa uma barreira, e daí é necessário criar rampas, que limitam o acesso, muita gente também tropeça nas bordas dessas elevações. Além do material que é gasto, sem necessidade, elevando o custo da estrutura. Muitos expositores colocam a culpa da empresa que monta o estande, mas eles também são culpados, afinal o espaço não foi montado sem a aprovação prévia do cliente. Então é preciso rever os conceitos, para se ter espaços de exposição e estandes com acessibilidade, para receber todos os tipos de visitantes.

Eu já participei como Mestre de Cerimônias em outra feira chamada Reatech, também um grande evento voltado para a acessibilidade, reabilitação, tecnologias assistivas e pessoas com deficiência. Muitas vezes as pessoas questionam porque não havia uma pessoa com deficiência para fazer o papel do Mestre de Cerimônias, afinal há pessoas com capacidade para fazer esse papel, e que representariam muito bem esse público, especialmente em uma feira onde grande parte dos visitantes tem algum tipo de deficiência. Então já algum tempo, os Mestres de Cerimônia são pessoas com deficiência, eu mesmo já trabalhei em duas edições desse evento.

Muito eventos tem pessoas na entrada, para recepcionar e orientar para o credenciamento, locais de entrada e outras informações adicionais. E por que não colocar uma pessoa com deficiência para esse serviço? Eu tenho um amigo cadeirante que é chamado para trabalhar em vários eventos, pois ele tem um carisma muito grande, sabe atender cordialmente, então cumpre sua função. Mas além disso, ele sabe das questões de acessibilidade do local, onde é a entrada acessível, onde está o banheiro acessível, coisas que geralmente um recepcionista sem deficiência não sabe informar, às vezes demoram para buscar essa informação e algumas vezes até informam errado.

E sabe aquelas pessoas, que são contratadas para fazer um atendimento básico nos estandes, distribuindo folhetos, cadastrando dados ou passando informações básicas? Por que não ser uma pessoa com deficiência? É claro que nos eventos que citei acima, isso é praticado, inclusive tenho muitos amigos e amigas que trabalham nesses eventos. Mas eles também podem trabalhar em eventos diversos, e cumprir com o que é exigido e ainda dar um toque de inclusão, que pode ser muito benéfico à imagem da empresa.

Eu já participei de inúmeras feiras e eventos, e sempre reparo na acessibilidade. Sempre posto sobre elas em minhas redes sociais como o meu perfil do Instagram e meu canal do YouTube. Todas essas dicas passadas, eu ensino no MBA Gestão de Eventos & Cerimoniais de Luxo que dou aula, na Faculdade Roberto Miranda, mas também passo em meus cursos online e aplico em minhas consultorias.

 

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