Sem calçada vou pela rua. A falta da acessibilidade pode ser um perigo.

Man climbs CN Tower steps in wheelchair

Escrito por Ricardo Shimosakai

27 de julho de 2022

Sem calçada vou pela rua. As regras de mobilidade dizem que a rua é lugar de carro, e lugar de pedestre é na calçada, no máximo o pedestre pode atravessar a rua em locais adequadamente sinalizados. Mas na prática a coisa muda, e nem é por falta de disciplina, como muitos também fazem, mas por falta de alternativa. Dê uma olhada na cartilha sobre calçadas e vias exclusivas de pedestres, que serve como base de orientação para a acessibilidade, mas para que se tenha um resultado excelente, é preciso adequar outras questões que esse documento não menciona.

As calçadas são um dos grandes problemas da mobilidade urbana, principalmente para os usuários de cadeira de rodas, mas também causam dificuldade para pessoas com dificuldade de locomoção, como idosos, usuários de andadores, bengalas e até mesmo mulheres que usam sapatos de salto alto.

Para se ter uma calçada acessível, a orientação é que se tenha uma faixa livre, sem obstáculos, com o piso plano. Caso a calçada tenha árvores, postes, lixeiras entre outros obstáculos, esses devem estar em uma outra faixa. Mas existem calçadas muito estreitas, antigas, que não tem espaço para organizar duas faixas, e daí acontece que os obstáculos e a passagem do pedestre, praticamente ficam no mesmo lugar, causando dificuldades e impedimentos.

Nesse caso, a passagem de uma cadeira de rodas, carrinho de bebê, fica impossível, então o pedestre cadeirante é obrigado a buscar outra alternativa. Mas há ruas onde as calçadas dos dois lados, tem as mesmas características, então a única alternativa é buscar um outro caminho, possivelmente mais longo, ou senão se aventurar caminhando pela rua.

Não quero passar aqui, orientações que são proibidas pelas leis e normas, portanto o que vou colocar é como eu faço para lidar com essas situações de dificuldade, e assumo toda a culpa, se é que eu sou o culpado. Lembro que nos primeiros meses após ter me tornado um cadeirante, procurava fazer tudo certinho, sempre andando pela calçada, mas acabava encontrando muitos obstáculos. Algumas vezes, por total falta de alternativa, era forçado a caminhar pela rua, e percebia que, apesar de errado, era bem mais fácil.

As ruas asfaltadas geralmente são, como a faixa livre que a calçada deveria ter, livre de obstáculos e lisas. Apesar da calçada ser um espaço público, cada morador ou estabelecimento, acaba modificando o pedaço de calçada que fica em frente ao imóvel, visando principalmente uma questão estética, decorativa, preparando ela de forma que fique bonita ao seu gosto. Só que os gostos são variados, e algumas vezes incluem gramas, pedregulhos, valetas, e outros materiais que deixam a calçada irregular. Não existe uma regulação por parte das prefeituras, e nem os proprietários dos imóveis se preocupam com os outros, mas só no pedaço da “sua calçada”.

Então eu passei a utilizar a rua cada vez mais, ao invés da calçada, pois a rua eu conseguia caminhar melhor, com menos esforço e mais economia de tempo. É claro que não faço isso em avenidas e ruas muito movimentadas, onde a velocidade dos carros é alta, o espaço é pequeno, e o risco de acidente é alto. Quando opto por caminhar pela rua, são locais onde o trânsito de carros é menos, em menos velocidade, e há espaço para passar o carro e ainda sobrar espaço, que é suficiente para passar uma cadeira de rodas.

Geralmente os motoristas quando percebem, abrem ainda mais espaço para sua passagem, ou diminuem a velocidade ainda mais, como precaução, ou até esperam você passar, sem reclamações ou buzinadas, pois praticamente todos compreendem as dificuldades que passa um cadeirante. Eu também procuro estar visível, para que os motoristas possam me enxergar, e com isso não me atropelem. Quando a passagem está muito apertada, o motorista não me viu para dar a passagem, eu tenho a paciência de esperar, pois não estou no lugar certo. Às vezes também, a mesma rua que estou acostumado a passar, em horários de pico de trânsito fica mais difícil passar, então daí vou pela calçada mesmo. Dessa forma, em mais de 21 anos que sou cadeirante, nunca tive qualquer tipo de problema, pelo contrário, essas ações alternativas são grandes facilitadores.

Eu sempre falo sobre a Acessibilidade Funcional, mas nesse caso, o que apresentei não é exatamente acessibilidade, pelo menos da forma correta, pois o certo seria ter calçadas adequadamente transitáveis. Mas é sim uma opção funcional, e que se não fosse isso, o cotidiano seria muito mais difícil. Há outras coisas fora das regras que eu adoto, como andar de escada rolante, e que vão nessa mesma linha de pensamento.

Para que não pensem que eu sou simplesmente um rebelde fora da lei, eu trabalho muito para que a acessibilidade esteja adequada em todos os lugares. Procuro espalhar meu conhecimento através deste blog, das minhas publicações no meu perfil do Instagram e meus vídeos no YouTube, além de formar profissionais ensinando com mais profundidade nos meus cursos online. Além disso presto consultorias em acessibilidade e inclusão em todo o Brasil, além das palestras que já ministrei em centenas de lugares, inclusive em vários países do exterior.

Compartilhe acessibilidade

Ajude outras pessoas a se manterem atualizadas com nosso conteúdo voltado para a acessibilidade

Curso Online
Comprar Acervo Digital

Você pode gostar……

Seus comentários são bem-vindos!

0 comentários

Enviar um comentário

" });