A acessibilidade na xilogravura. A xilogravura é uma técnica de impressão bastante antiga na qual se utiliza uma madeira entalhada como matriz, de maneira negativa, ou seja, com a figura ao contrário do que se deseja ela impressa, depois se aplica uma tinta em cima da parte talhada da madeira e pressiona em cima de um papel. Para facilitar a compreensão, é praticamente um carimbo de madeira. Tem origem chinesa, ao que tudo indica tendo seu início no século II, e se popularizou no Brasil, principalmente na região nordeste, através da Literatura de Cordel, que utilizava esta técnica para ilustrar os folhetos.
Visitando a exposição do Pernambucano J. Borges, considerado uma das referências da xilogravura brasileira, me dei conta como a xilogravura tem tudo a ver com a acessibilidade, mesmo que ela não tenha sido criada com esta finalidade. Como a matriz é feita para que a madeira tenha relevo, ela é esculpida com instrumentos com lâminas afiadas, chamados de goivas, e são justamente esses pontos em relevo que aparecerão na impressão, isso é praticamente o mesmo princípio que se usa para fazer materiais táteis para pessoas com deficiência visual.
O tato é um dos principais sentidos utilizados para obter informação, principalmente por pessoas cegas. Além do Braille, que é a escrita de pontos em relevo, outro recuso tátil são os mapas táteis, que mostram a estrutura de um ambiente para que a pessoa tenha uma ideia do espaço como um todo. Os pisos táteis colocados no chão, direcionais ou de alerta, como os nomes dizem, dão direção e alertam sobre obstáculos ou desvios de direção no caminho. Maquetes táteis, oferecem acessibilidade para compreender formas de diversos tipos, até mesmo esculturas abstratas, como eu já falei no blog em outro artigo.
Mas o que mais se aproxima com a xilogravura, são as representações em relevo de obras de arte, geralmente feitas para dar vida às pinturas ou impressões. Numa peça criada para acessibilidade, as texturas variam de acordo com áreas diferentes que se quer identificar. Por exemplo, um quadro de uma paisagem de praia, a areia tem um tipo de textura, a água tem uma textura diferente, e as árvores, uma outra textura diferente das duas primeiras, para que a pessoa consiga ter mais facilidade em identificar os diferentes objetos ou materiais. Para tornar ainda mais real, você pode aproximar a textura da realidade, colocando um granulado fino para identificar a areia, uma área mais lisa para indicar o mar, e uma textura maior como se fosse as folhas das árvores.
Algumas peças, como a placa tátil do quadro Mona Lisa de Leonardo da Vinci, os relevos assumem como se fossem as ondulações do rosto da pessoa, com nariz, boca e bochechas mais saltados. Para proporcionar ainda mais riqueza de detalhes, quando materiais táteis são utilizados em conjunto com a audiodescrição, a informação passada ao visitante fica imensamente mais rica. Quando estes recursos estão presentes em uma exposição, eles acabam servindo como um atrativo também para pessoas que enxergam. Por isso, sempre insisto na popularização dos recursos de acessibilidade, que eles possam ser utilizados por todos, e que sejam informados e divulgados para que todos saibam.
Em todos os meus trabalhos, sempre considero também as questões voltadas à pessoa com deficiência visual. Então sempre aponto as melhorias a serem feitas nessa área em minhas consultorias de acessibilidade e inclusão, é um assunto sempre presente em meus cursos, aulas e palestras. Meus materiais digitais como o blog e redes sociais, sempre coloco textos alternativos e aplico contrastes para facilitar a visualização por pessoas com baixa visão. Esses recursos são essenciais nas escolas e no trabalho, para que assim possa proporcionar mais autonomia, e facilitar a inclusão na sociedade.
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