Acessibilidade de esculturas abstratas. Como fazer a arte ser vista com os ouvidos e mãos.

Man climbs CN Tower steps in wheelchair

Escrito por Ricardo Shimosakai

4 de maio de 2022

Acessibilidade de esculturas abstratas. Você já pensou como uma pessoa com deficiência visual pode apreciar esculturas em formato abstrato? Geralmente as esculturas não podem ser tocadas por questões de conservação, e descrever um formato abstrato, que pode não se parecer com nada, ou se pareça com muitas coisas, pode ser bastante complicado para explicar e para entender.

A audiodescrição é um ótimo recurso para dar forma, principalmente para aquelas coisas que não tem um formato tridimensional, como por exemplo os quadros, ou para coisas que tem forma, mas não é possível tocá-las, como por exemplo o cenário de uma peça de teatro ou uma escultura. É relativamente fácil descrever uma casa simples, afinal a maioria já teve oportunidade de ver ou ouvir uma descrição de uma casa, então temos uma referência. Mas quando o que você deseja descrever, tem uma forma abstrata, que não é concreto nem real ou verdadeiro conforme diz o dicionário, a tarefa fica mais difícil, pois pode ser algo tão diferente que seja difícil encontrar referenciais, ou seja necessárias muitas referências e daí a descrição pode ficar confusa.

Veja a foto de capa deste artigo, tente descrevê-la para uma outra pessoa, sem mostrar a imagem, e quando terminar, mostre a foto e pergunte se o que ela imaginou, era parecido com a escultura real. Se você assistir o vídeo abaixo, verá que eu tentei descrever, mas acho que ficou confuso, e tive dificuldade para encontrar a melhor forma de explicar.

Um ótimo recurso que pode ser utilizado, é a maquete tátil. No caso dessa escultura, fazendo uma reprodução fiel em uma escala menor, o entendimento através do tato será muito melhor. Será possível entender todas as curvas, volumes e entrelaçamentos que a escultura possui, e dando uma medida de referência, como a altura, por exemplo, a pessoa que está tocando na maquete, irá conseguir dar um zoom no próprio cérebro e entender as proporções dessa arte.

Outro ítem que, se utilizado, pode enriquecer ainda mais essa experiência, é utilizar o mesmo material da obra. Algumas maquetes são feitas em resina ou impressoras 3D, o que facilita bastante sua confecção, mas convenhamos que a informação do material também é importante. Então, caso seja difícil produzir a maquete no mesmo material, então uma alternativa é ter uma amostra do material, um pedaço da mesma madeira, com o mesmo tipo de tratamento, no caso da obra que estamos utilizando como referência, a madeira parece estar lixada, envernizada e em formato cilíndrico.

Até aqui avançamos bastantes, sugerindo duas opções de acessibilidade, a audiodescrição e a maquete tátil. Então agora pense que, se tivermos essas duas opções na mesma obra, a experiência será riquíssima! É claro que é difícil fazer esse tipo de ação para todas as obras de uma exposição, então escolha aquelas de maior destaque para aplicar estes recursos. Gradativamente, a audiodescrição pode ser implantada em todas as obras, pois com os recursos digitais, não ocupam espaço ou geram grandes gastos como os materiais impressos em Braille.

Outro item bastante importante, que venho insistindo bastante pela falta de sua aplicação, é a informação e divulgação. Já passei por diversos lugares que, apesar de possuírem acessibilidade, esta não estava informada em nenhum lugar. É comum que as pessoas façam uma busca prévia de informações do local, antes de visitá-lo, geralmente pela internet. Então no caso de pessoas com deficiência, se não houver informações da acessibilidade do local no site, o visitante com deficiência pode desistir da visita por se sentir inseguro de fazer uma visita que não conseguirá aproveitar.

Numa situação como desta exposição, a SP-Arte na Bienal do Ibirapuera, onde haviam centenas de artistas e galerias diferentes, caso esta obra que estou usando como referência, tivesse recursos de acessibilidade, que isso estivesse informado junto à obra, alí na base de apoio onde ela está localizada, caso contrário ninguém iria adivinhar. O artista ou a galeria, divulgar a peça com recursos de acessibilidade, dá um valor a mais para ela, e se esses recursos estiverem disponíveis para todos, vai chamar ainda mais atenção do público em geral. Então se você é um artista ou uma galeria, pense no valor de oferecer a acessibilidade, e se tiver sensibilidade, irá perceber que ela também pode ser encarada como uma arte.

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