Não se deve confundir com o gênero Talent Show é uma derivação dos reality shows, mas tem o foco em mostrar a competição de talentos entre os participantes ao invés do dia a dia de pessoas. Nesse formato, os mais conhecidos são o MarterChef na Band e o The Voice Brasil na Rede Globo.
A inclusão de pessoas com deficiência é algo bastante questionado em todo o mundo, e já foram criados formatos específicos para esse tipo de participante. Pensando no Reality Show como uma competição, a idéia pode ter sentido, para equiparar as oportunidades e não ficar um jogo desigual, parecido com o que é feito com os Jogos Paralímpicos.
Na Grã-Bretanha, uma minissérie satiriza os populares reality shows. Todos os personagens e os atores que os interpretam têm uma deficiência física. Cast Offs (“Largados“, em tradução livre), do canal de TV aberta Channel 4. A série retrata as experiências de pessoas com deficiências abandonadas numa ilha deserta com poucos mantimentos e a lutarem pela sobrevivência. Só que os concorrentes são atores, com deficiência, é certo, mas são atores.
A Netflix lançou um Reality Show com surdos estudantes da Universidade Gallaudet em Washington, nos Estados Unidos. É a única universidade do mundo cujos programas são desenvolvidos para pessoas surdas. O objetivo é mostrar o universo acadêmico, seus altos e baixos, os relacionamentos, adaptados às necessidades de uma pessoa que não ouve e se comunica través da língua de sinais. Uma perspectiva inédita, sem filtros e surpreendente da comunidade de surdos.
No Brasil, uma iniciativa do projeto Cromossomo 21, juntou em uma casa diversas pessoas com Síndrome de Down para um jogo, que levou o nome de Expedição 21. Separadas em 3 times, recebiam tarefas do cotidiano, mas que eram desafiadoras, através de valores como responsabilidade, criatividade e trabalho em equipe e tomada de decisões. Em umas das tarefas, os grupos tiveram que planejar e criar estratégias para ir ao supermercado, montar o cardápio da janta ou do almoço, entender que alguns participantes tinham restrições e alergia alimentares, fazer a comida, limpar a casa, lidar com o dinheiro em equipe e dividir posições e os afazeres entre os participantes.
Aqui no Blog, ainda há outros exemplos de Reality Show envolvendo pessoas com deficiência, como:
Deficientes inamoráveis na TV. Reality Show mostra as dificuldades em relacionamentos.
Canal A&E traz reality show emocionante para a tevê brasileira
Push Girls, o novo reality show sobre mulheres cadeirantes no Sundance Channel
O Big Brother Brazil, ao longo das 21 edições, e somente no BBB 17 uma pessoa com deficiência participou. O nome dela é Marinalva de Almeida, tem a perna amputada devido a um acidente rodoviário, usa prótese e é atleta paralímpica de Vela. Marinalva ficou em quinto lugar na competição, e sua deficiência pode ter influenciado de forma positiva ou negativa, já que alguns diziam que ela tirava a prótese para se fazer de coitada.
Fernando Fernandes, participou do BBB 2 (2002), e em 2007 sofreu um acidente automobilístico que o deixou paraplégico. Ele era bastante controverso dentro da casa, mas depois que adquiriu sua deficiência, sua personalidade mudou. Se tornou tetracampeão mundial de Paracanoagem e um defensor dos direitos das pessoas com deficiência. Ganhou muita visibilidade e reconhecimento, coisa que ele buscava e não tinha na época do BBB.
A campeã do BBB 6, Mara Viana, tem uma relação indireta com as pessoas com deficiência. O objetivo de entrar na competição, era conseguir dinheiro para pagar o tratamento de sua filha que não conseguia andar, devido a uma paralisia cerebral. Hoje, Aracy Viana ainda faz consultas periódicas e fisioterapia para a Síndrome de Little, nome técnico da deficiência que possui nos membros inferiores, mas já está reabilitada.
No BBB21, a inclusão entrou de uma forma diferente para os participantes. Uma das festas patrocinada pela Amstel, do grupo Heineken Brasil, foi modificada por causa das diversas polêmicas internas que envolviam racismo e preconceito. Antes da festa, os participantes tiveram que passar por uma ação educacional, onde tinha que interpretar em Libras (Língua Brasileira de Sinais) as palavras inclusão, tolerância e diversidade.
Durante a Prova do Líder do BBB21, Arthur Picoli se acidentou em uma rodada do desafio, foi retirado da prova para ser atendido pelos médicos, que constataram que o ombro direito saiu do lugar, e ficará com o ombro imobilizado por duas semanas. Em outra prova do líder, Caio também se machucou e fraturou o pé, vai precisar utilizar uma bota ortopédica, andar de muletas e não poderá realizar novas provas com esforço físico. Isso vai ajudar a mostrar um pouco ao público o que é viver com mobilidade reduzida.
A participação dos Reality Show não é por sorteio, geralmente há uma seleção do perfil da pessoa, como é no BBB, ou então um convite direto para o participante desejado, como é em A Fazenda. Então podemos afirmar que as pessoas com deficiência não são escolhidas (exclusão), a não ser para Reality Show exclusivo para pessoas com deficiência (segregação).
Mas se a intenção é mostrar as pessoas no cotidiano de uma casa, como elas se comportam em relacionamentos, passando por provas de sorte ou capacidade, então por que não incluir as pessoas com deficiência? Afinal, tudo isso é o que passamos na vida real, e dependendo as dificuldades são ainda maiores, e para isso precisamos aprender a nos virar. Para quem não me conhece, meu nome é Ricardo Shimosakai, sou cadeirante sem os movimentos das pernas, mas tenho uma vida independente.
É claro que algumas provas a pessoa pode ter pouca ou nenhuma chance, como por exemplo, uma participante cega numa prova de tiro ao alvo. Porém, uma vez que os participantes são escolhidos, você pode adaptar as provas para que seja uma coisa mais justa. Na verdade, é praticamente impossível ter um Reality Show com total igualdade de condições, pelas diversas diferenças que existem entre os participantes. Uma prova de capacidade intelectual, pessoas com menor escolaridade, não estariam em desvantagem?
A moral da história é que esses programas não sabem se adaptar às situações e nem procuram profissionais que possam orientar para isso. Há um preconceito escondido nisso, ou sendo mais moderno e usar a palavra da moda, o capacitismo. Mas também vou puxar uma reflexão, que diz que deficiente e incapazes são eles que não conseguem fazer um Reality Show realmente inclusivo. Para deixar claro, um Reality Show só com pessoas com deficiência não é algo ruim, mas sim a falta de oportunidades em participar em todos os locais e situações.
É claro que ainda há poucos profissionais a recorrer para pedir orientações, é por isso que eu tenho lançado meus cursos para entender em detalhes práticos e atualizados, o que é acessibilidade, inclusão e diversidade. E se precisar de experiência, eu presto consultoria, e teria total conhecimento para elaborar um BBB inclusivo. Será que teremos algo assim na próxima edição? Comentem e compartilhem!
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