Do luto fiz minha luta. Entenda como a inclusão é fundamental para o crescimento profissional.

Man climbs CN Tower steps in wheelchair

Escrito por Ricardo Shimosakai

5 de janeiro de 2022

Posso dizer que me tornar uma pessoa com deficiência foi um marco na minha vida. Em 2001 levei um tiro num sequestro relâmpago, e a partir daí passei a usar cadeira de rodas. Tive uma aceitação muito boa da situação, e sabia que não adiantava reclamar ou ficar triste que isso não resolveria nada, pelo contrário, me atrapalharia ainda mais.

Comecei a pensar na minha vida profissional, pois além de não querer ser um peso para a minha família, eu sabia que trabalhar me daria ânimo e muita autoestima, em fazer minhas próprias conquistar e não depender de ninguém para fazer minhas escolhas e realizar meus desejos.

A minha primeira renda financeira foi fazendo enfeites de Natal, ajudando minha mãe e vendendo para vizinhos e colegas. Em seguida, por indicação de uma pessoa de uma papelaria, passei a elaborar e imprimir currículos para pessoas particulares, e daí passei a ter renda por conta própria. Nenhum desses trabalhos rendiam grande quantia de dinheiro, mas foram importantes para minha reabilitação social.

Meu primeiro trabalho de carteira assinada, foi numa empresa de telemarketing. Não era meu sonho profissional, mas novamente embarquei pensando na minha reconstrução. Já mais maduro, entrei na faculdade e fui contratado por uma multinacional Canadense de telecomunicações. Me ajudou a pagar o curso de turismo na faculdade e a comprar meu carro.

Sai e fui buscar avançar na minha profissão, e passei a trabalhar numa operadora de turismo, especialmente para desenvolver o turismo acessível. Foi ótimo, mas depois de um tempo, decidi trabalhar por conta própria, e criei a Turismo Adaptado. Fiquei vários anos focados no trabalho para esse segmento, mas depois percebi que deveria ampliar meu trabalho, e passei a trabalhar para além do turismo.

São mais de 17 anos de trabalho pensando no melhor para as pessoas com deficiência, fui um dos pioneiros do turismo acessível no Brasil, e tudo isso me rendeu muito reconhecimento, estabilidade financeira e me deixou razoavelmente conhecido. Isso foi possível pois tinha um objetivo, depois escolhi um foco e com força de vontade não desisti.

Nesse processo de crescimento profissional, as empresas que eu trabalhei foram fundamentais, principalmente por estarem abertas à inclusão. Para valorizar as empresas inclusivas, o Prêmio Melhores Empresas para Trabalhadores com Deficiência valoriza e premia essas iniciativas, onde eu também já fui premiado duas vezes como empreendedor com deficiência.

Existe a Lei de Cotas, que estabelece a regra de que empresas com mais de 100 funcionários, são obrigados a ter uma porcentagem de trabalhadores com deficiência. Na verdade, isso não é uma lei específica, mas é parte de uma lei maior que aborda outros assuntos. De qualquer maneira, segundo o SEBRAE, essas empresas representam somente 1% do total de empresas brasileiras, então a lei ainda tem um impacto pequeno, sem contar aquelas que tem a obrigação, mas não cumpre.

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