Confusão do piso tátil. Para ajudar seu amigo, Seiichi Miyake, um engenheiro e inventor japonês, inventou os “tijolos Tenji” (tijolos Braille). Ele os apresentou pela primeira vez a uma escola para cegos na cidade de Okayama, em março de 1967; nos anos seguintes, iniciou-se sua aplicação nas plataformas de trens e metrôs a fim de indicar, aos passageiros, o limite de chegada na beira da plataforma, evitando, assim, acidentes. A ideia de Miyake proliferou na Europa e foi adotada em todo o mundo. Cada país desenvolveu normas e manuais de aplicação do produto.
De forma objetiva, o piso tátil é uma marcação em relevo no piso para orientar os caminhos para pessoas com deficiência visual. Existem dois tipos de piso tátil, o piso direcional, que possui listras onde o significado é que a pessoa pode caminhar, e o piso de alerta, que são bolinhas que significam que há alguma mudança de rota, ou algum obstáculo no caminho, como postes ou escadas. Existem produtos de diferentes aplicações, como blocos de concreto moldados no formato do piso tátil, placas em borracha com um conjunto de listras ou bolinhas que são coladas por cima do piso, e listras e bolinhas avulsas de metal, que podem ser coladas ou parafusadas no piso.
Existem regras para aplicar o piso tátil corretamente, mas é preciso fazer um estudo do local para ver como o piso tátil pode ser realmente funcional. Eu já conheci lugares, onde o piso tátil estava adequado, mas o estabelecimento acabou colocando objetos no meio do caminho, que atrapalhavam a rota do piso tátil, então praticamente inutilizou a função desse recurso de acessibilidade.
Mas eu enxergo ainda outro problema, mesmo quando tudo parece estar certo, sem nenhum erro, dentro das normas, mas que na prática, acaba gerando uma confusão ao usuário. O piso tátil serve para mostrar os caminhos, mas para onde esses caminhos vão? É como se pessoas que enxergam, pegassem um mapa, mas sem os nomes das ruas ou dos estabelecimentos, ou seja, você tem os caminhos, mas não sabe para onde está indo.
A coisa pode ficar ainda mais confusa, quando esse caminho se divide, como se fosse uma bifurcação, pra direita e para a esquerda, mas para onde vai me levar cada caminho? Eu peguei o Museu da Língua Portuguesa como exemplo, que está no vídeo abaixo, mas isso é muito comum de acontecer, infelizmente, e poucos profissionais da acessibilidade, procuram uma solução, apenas seguem leis e normas que são limitantes e sem funcionalidade.
Para entrar no local, há um piso tátil que vem desde a calçada de pedestres, para sinalizar a entrada ao museu. Mas este caminho do piso tátil estava bloqueado por um portão. A parte do portão principal que estava aberta, que tem duas partes, não tem o piso tátil, então aí encontramos uma falha na operação. Ou as duas partes devem ficar abertas, ou caso deseje abrir somente uma parte, que seja aquela onde há o piso tátil. Não basta o equipamento existir, é preciso saber lidar com ele.
Não estou invalidando a utilidade do piso tátil, mas quero mostrar que ele não é totalmente funcional. Um complemento, dependendo do local, é colocar um mapa tátil, pois nele você tem uma idéia geral dos lugares, saberá para onde quer ir, e daí o piso tátil terá muito mais utilidade. Eu já ouvi cegos criticando o piso tátil de ruas, dizendo que ele leva de não sei aonde, para lugar nenhum. Na verdade, o piso tátil em vias públicas, serve somente para que você não saia fora da calçada e nem bata em obstáculos no caminho, se colocado adequadamente, pois não é difícil encontrar pisos táteis totalmente errados.
Este é mais um exemplo do meu conceito chamado Acessibilidade Funcional, onde mostro a necessidade de observar os resultados das iniciativas de acessibilidade a partir da experiência do usuário. Eu ensino isso em meu Curso Online Acessibilidade e Inclusão, e também já apliquei em diversas consultorias que já prestei. Se quiser ver mais exemplos, pode visitar os outros artigos em meu Blog, também o meu perfil do Instagram e meu canal do YouTube.
0 comentários