Cadeira adaptada para trilhas. As trilhas são uma atividade de lazer e aventura, onde você percorre um caminho pela natureza, enfrentas as dificuldades naturais que ela apresenta, aprecia a paisagem e eventuais animais, e socializa com outras pessoas, pois essa atividade é aconselhada a sempre fazer em grupo.
Os locais podem ser diversos, são comuns trilhas no meio do mato, montanhas e morros, mas podem ter áreas de areia e praia ou até locais como o cerrado brasileiro. Mas para que as pessoas com deficiência possam desfrutar desse passeio, é preciso que haja acessibilidade, principalmente para as pessoas com deficiência física. Por outro lado, não se deve colocar as tradicionais soluções de acessibilidade, como rampas, elevadores e barras de apoio na natureza. Alguns lugares, a natureza é preservada, e não é permitido alterações nela, e mesmo que pudesse colocar todo esse aparato de tecnologias assistiva, iria descaracterizar o local, e assim perderia seu encanto natural. E o grande atrativo de uma atividade de aventura, é justamente vencer as dificuldades encontradas na natureza, então não teria sentido facilitar o percurso.
Mas se para um cadeirante, por exemplo, já é difícil andar em centros urbanos, onde a acessibilidade é melhor, não seria praticamente impossível caminhar por uma trilha na natureza? A resposta é sim, pois as cadeiras de rodas convencionais, foram projetadas para andar em locais onde há um mínimo de acessibilidade. Então para esses lugares, a solução é adaptar a atividade com o auxílio de equipamentos e ajustar as operações. O paradesporto tem um conceito parecido, onde não se modifica a base do esporte para pessoas com deficiência, mas se adapta com equipamentos e adequações das regras.
Para enfrentar e vencer o desafio de trilhas naturais, foi criado uma cadeira de rodas adaptada para esse tipo de atividade. A versão mais antiga, conhecida e difundida de uma cadeira adaptada para trilhas, como foi apelidada, é a Joëllete fabricada na França. Em 1987 Joël Claudel, um guia de montanha, teve a ideia da primeira Joëlette por causa de seu sobrinho que sofria de distrofia muscular. Era uma espécie de liteira ou cadeira de transporte com apenas uma roda. Isso levou apenas 2 dias para produzir o primeiro protótipo. Um assento, uma roda central e quatro barras para os dois guias: ainda hoje estes são os elementos básicos da Joëlette.
No Brasil, o casal Juliana e Guilherme, apaixonado por trilhas, montanhas e viagens, passaram a fabricar uma versão brasileira da Joëlette. Juliana foi diagnosticada com Degeneração Cerebelar Paraneoplásica, uma síndrome neurológica extremamente rara, por conta do reaparecimento de um câncer de mama que teve no passado. Por causa da deficiência, Juliana já não conseguia mais fazer as trilhas caminhando, então Guilherme foi atrás dessa cadeira adaptada para trilhas para continuar proporcionando à Juliana o prazer dos passeios na natureza, montou um modelo por conta própria e batizou a cadeira de “Julietti”, e com isso surgiu o projeto Montanha Para Todos, que já distribuiu a cadeira de trilha a vários parques naturais pelo Brasil.
Basicamente, a cadeira adaptada para trilhas tem um assento e encosto acolchoado, com cintos de segurança, apoio para os pés, uma roda central embaixo do assento, duas barras na frente e duas barras atrás que servem para puxar e empurrar por outros ajudantes, e hastes ou barras laterais que servem para estabilizar a cadeira de trilha quando ela estiver parada, e os ajudantes quiserem descansar. Dependendo do modelo podem ainda ter freios e amortecedores, mas isso já pode ser considerado acessórios complementares, pois já vi cadeiras adaptada para trilhas somente com a primeira descrição.
Eu já tive a oportunidade de experimentar a Joëlette original em uma atividade na República Dominicana, já experimentei a Julietti do Montanha Para Todos no Parque da Chapada dos Guimarães e em Ubatuba com o Grupo Paulista de Montanhismo, que mostro no vídeo ao final deste artigo, e também outra versão mais simples no Parque dos Sonhos em Socorro. Além disso, também já vi o mesmo tipo de cadeira para fazer passeios pelas ruínas de Roma, que também tem um caminho bastante acidentado. Outra iniciativa muito interessante, foi numa competição de maratona pela natureza, em que um grupo levou um cadeirante na cadeira adaptada para trilhas.
Dependendo do trajeto a ser percorrido, pelo grau de dificuldade e pela extensão, é aconselhável a ir com pelo menos mais 3 pessoas, para que elas possam se revezar, pois o esforço acaba sendo grande. No vídeo abaixo eu faço umas comparações entre a Joëlette e a Julietti, com a intenção de avaliar o que cada uma tem de melhor. Basicamente, eu disse que a Joëlette tem barras de ferro das laterais mais resistentes, que estabilizam melhor na hora da parada, e o apoio dos pés tem uma base mais estável para que os pés não escapem. A grande vantagem da Julietti, é que ela é de fabricação brasileira, então muito mais barata e fácil de ser adquiria.
Eu sou um amante da natureza e de atividades de aventura, já pratiquei várias delas que você pode ver no meu perfil do Instagram e no meu canal do YouTube. Também já dei treinamentos e consultorias de acessibilidade para destinos e empresas onde o atrativo é a natureza e suas aventuras, e também o assunto sempre faz parte de minhas palestras e serve de conteúdo para meus cursos online. Então para saber mais, me siga e entre em contato para que eu possa orientar seu negócio da melhor forma!
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