Acessibilidade na Universidade. O caminho da formação como turismólogo.
A Faculdade do Morumbi, hoje Universidade Anhembi Morumbi, que tinha como mantenedora a Organização Bandeirante de Tecnologia e Cultura, foi a pioneira na criação do curso superior em turismo.
Uma análise do perfil dos candidatos divulgada no jornal O Estado de São Paulo, mostrou que as mulheres eram a maioria na disputa pelas 240 vagas oferecidas pela instituição. Os inscritos tinham, em média, 22 anos, e 23 deles já haviam feito Direito ou outro curso superior.
Eu (Ricardo Shimosakai) decidi fazer o curso de turismo para conseguir o diploma, mas principalmente para adquirir conhecimento. Foi uma etapa de um grande plano, que era trabalhar com acessibilidade no turismo. Isso foi ótimo, pois já entrei na universidade sabendo o que eu queria fazer. Só não tinha claro em que setor e de que forma trabalhar, mas isso às vezes são dúvidas que tenho até hoje, pois o mercado muda.
Muita gente foi desistindo do curso, e várias delas eram por decepção, pois esperavam algo mais alegre, viagens e descontração. Me lembro nos primeiros dias de aula um professor que disse o seguinte: “Se vocês vieram para este curso pensando em viajar, é melhor desistir agora. Aqui vocês vão estudar, para viajar procurem uma agência de viagens”. É claro que foi em um tom de brincadeira, mas era um recado sincero e direto.
Tudo o que era ensinado, eu procurava imaginar e pesquisar, como seria para as pessoas com deficiência. E dessa forma fui colhendo conhecimento de coisas que até os professores não conheciam. A convivência com meus colegas de classe serviu para que eles percebessem a importância da acessibilidade. Então quando alguma tarefa era passada, como um projeto de um hotel, por exemplo, a maioria pensava também na acessibilidade, pois se lembravam de mim, e faziam um projeto de hotel com acessibilidade.
Foram oito semestres, equivalentes a quatro anos, mas o curso era dividido em semestres. No final, tínhamos que apresentar um Trabalho de Conclusão de Curso, mais conhecido pela sigla TCC. O tema principal, eu já sabia desde que entrei no curso, que seria sobre acessibilidade no turismo.
Mas eu decidi fazer o trabalho sozinho, por causa das experiências não tão agradáveis dos trabalhos em grupo anteriores. Alguns pensam que é para evitar aqueles membros do grupo aproveitadores que não fazem nada, mas não era só isso, pois tinha colegas dedicados que aceitariam fazer o trabalho comigo. Mas isso também gera conflitos, pois pessoas diferentes e dedicadas, também tem opiniões diferentes, querem fazer valer sua sugestão, e daí chegar num acordo também não é fácil.
Pensei que para fazer um trabalho sobre acessibilidade no turismo, não tinha ninguém da classe com bom conhecimento, eu teria que ensinar ou eles teriam que aprender muito. Juntando tudo isso, eu acabei decidindo em fazer o trabalho sozinho, assim eu teria liberdade de escolha, e poderia fazer quando quiser, como quiser, pois não estaria vinculado à ninguém, teria o controle total.
Minha orientadora foi Mirian Rejowski, uma das melhores e mais respeitadas docentes do mundo acadêmico do turismo. Ela era professora e cuidava do setor de mestrado da universidade, mas foi destacada para me orientar. Então praticamente tive uma orientação de nível de mestrado na graduação.
O resultado final é que fui aprovado, fui premiado como o melhor trabalho do curso de turismo da universidade, e depois meu trabalho foi apresentado no 2º Congreso de la Sociedad de Investigadoresen Turismo de Chile, na cidade de Valdivia. A maioria dos professores viraram meus colegas, e até hoje me incentivam a continuar a carreira acadêmica no mestrado.
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Ótimo seu relato da expectativa e a realidade durante a faculdade. Seu envolvimento, engajamento, empecilhos encontrados, e sua corajosa decisão de fazer o TCC sozinho. Ótimo texto. Parabéns!!
Obrigado! Achei que seria bom dar um relato realista e imparcial da parte acadêmica do turismo. Muitas faculdades “vendem” o curso, mas as pessoas também se iludem sozinhas.
Parabéns Ricardo! Por sua coragem, determinação e perseverança!
Vemos que a maioria dos agentes / agência de turismo são carentes de informações sobre turistas com mobilidade reduzida e destinos possíveis.
Uma grande operadora de turismo chegou a sugerir que não existia destinos para pessoas com mobilidade reduzida ! Olha o absurdo !!!
Ainda bem que hoje temos acesso a informações e podemos contar com algumas outras agências um pouco mais esclarecidas .
Então meus parabéns, torço para que seus empreendimentos dêem certo , para que o setor de turismo tenha mais informações para este nicho de mercado !
Deficiente não é a pessoa, mas o local ou serviço que não consegue atender de forma adequada uma pessoa com algum tipo de necessidade específica. Eu também torço que meus projetos dêem certo, não exatamente por mim, mas porquê assim muita gente irá ser beneficiada. Obrigado!
Olá, gostaria de saber como posso ter acesso à sua dissertação de conclusão do curso, está na CAPES? obrigado
O trabalho está em nosso Acervo Digital. Saiba mais acessando o link a seguir https://ricardoshimosakai.com.br/acervo-digital/