World Trade Center. Um exemplo de que recursos de segurança também devem ser acessíveis.
A tragédia do World Trade Center, em New York, no dia 11 de setembro de 2001. matou um volume enorme de pessoas que estavam trabalhando. Dentre aqueles muitos que se salvaram, graças a procedimentos internos adotados em situações de emergência, ao espírito de solidariedade encontrado e ao extraordinário concurso dos bombeiros, estima-se que estavam pouco mais de 15 com deficiências.
A respeito dessas pessoas com deficiência quase nada foi muito divulgado. Ao falarmos sobre isso, é preciso lembrar que, devido a diversos aspectos de garantias dos direitos das pessoas com deficiência, estabelecidas pela ADA – Americans with Disabilities Act, havia trabalhando dentro do World Trade Center um número significativo de pessoas com deficiências (nunca revelado), tanto acima dos pontos de impacto dos dois aviões quanto nos andares abaixo.
O Centro de Referências FASTER estudou os variados ângulos dessa questão e descobriu que há aspectos inusitados (ignorados mesmo) desse inesquecível evento quanto a pessoas com deficiência que precisam ser trazidos ao conhecimento geral.
Conseguimos selecionar alguns relatos sobre pessoas com deficiência que estavam trabalhando no World Trade Center no dia 11 de setembro de 2001 e que se salvaram, não apenas devido a esquemas de evacuação – eficientes ou não – mantidos para todos, mas de um modo muito especial, devido a determinados aspectos especiais da atenção que foi dada, na ocasião, a essas pessoas com deficiência por seus colegas de trabalho.
O Sistema Interno de Segurança
Um primeiro ponto a ser lembrado e enfatizado na retirada de milhares de pessoas dos 2 edifícios, é que foi planejado e posto em execução, desde o primeiro ato terrorista em 1993, um sistema de segurança interna bem estruturado, que previa a retirada de todos os trabalhadores, nos casos de incêndios ou outros tipos de emergência. Desde antes da inauguração das duas torres do World Trade Center existiram também treinamentos dos ocupantes dos dois edifícios quanto aos procedimentos de evacuação por motivos variados. Cada andar contava, desde o início, com alguns coordenadores das ações de emergência. Esse sistema impediria muitas mortes por esmagamento ou pisoteamento, uma vez que cada supervisor de segurança de cada andar deveria controlar todas as ações para evitar o pânico, com toda a autoridade requerida.
Obviamente há opiniões em contrário quanto à efetividade desse plano, especialmente por parte de entidades voltadas para os direitos das pessoas com deficiência, informando que ele pode ter existido, mas, com o passar dos anos, foi quase esquecido. Segundo esses questionadores, muitas pessoas com deficiência morreram no World Trade Center por falta de um plano atualizado e efetivo de evacuação, definindo com precisão as responsabilidades.
A Diferença que uma Cadeira Especial Pode Fazer
Dentro desse sistema de segurança interna, depois da explosão ocorrida em 1993, as Torres Gêmeas haviam sido equipadas com 125 cadeiras de rodas especiais de evacuação, conhecidas como EVAC CHAIRS, ou Emmergency Wheelchairs, de acordo com seus fabricantes ingleses ou norte-americanos.
Segundo relatos oficiais, foram elas que tornaram possível, dentro do World Trade Center, o salvamento pelas escadas, dos poucos trabalhadores com deficiência (ou com ferimentos ocasionados na ocasião) que delas necessitaram, abandonando no local de trabalho suas cadeiras de rodas originais.
A Busca de Depoimentos Pessoais
Face ao imenso e multiforme drama humano desencadeado pelo ataque terrorista ao World Trade Center, foi iniciada logo após o acontecimento uma intensa busca de relatos pessoais. Na verdade, diversos esforços foram coordenados por autoridades, por estações de televisão, por empresas jornalísticas e por muitos recursos da comunidade para obter esses relatos pessoais, sobre como cada um conseguiu escapar durante a tragédia do dia 11 de setembro de 2001.
Segundo um dos relatos, do total geral de pessoas com deficiência que trabalhavam nas duas torres (seguramente mais de 100), apenas 27 relataram sua escapada do World Trade Center. Delas, 2 eram cegas, três tinham deficiência auditiva, três usavam cadeiras de rodas e 19 tinham outros tipos de deficiências ou dificuldades físicas. O que aconteceu com tantas outras pessoas que lá trabalhavam?
O Boletim on-line New Mobility, que se coloca como “a revista para usuários ativos de cadeiras de rodas” transcreve, em sua versão atualmente acessável na Internet , um artigo do mês de dezembro de 2001, com o seguinte título: “Refúgio Inseguro: Por que tantos usuários de cadeiras de rodas morreram no dia 11 de setembro?”, assinado por Josie Byzek e Tim Gilmer. O artigo começa com esta declaração: “Por ora temos ouvido as histórias – pelo menos dois empregados em cadeiras de rodas foram levados para lugar seguro por corajosos ajudantes – mas ninguém quer falar a respeito daqueles usuários de cadeiras de rodas que pereceram nas escadarias enquanto esperavam ser resgatados.”
Cego e seu cão-guia Salty escapam do WTC
Omar Rivera, de 43 anos de idade, e seu cão-guia Labrador amarelo, Salty, escaparam ilesos do 71º andar, com muitos de seus colegas de trabalho, no escritório da Port Authority de New York e New Jersey. Planejador senior de sistemas, estava sentado em sua mesa de trabalho, quando o primeiro de dois aviões seqüestrados atingiu o World Trade Center, no dia 11 de setembro.
“Foi muito grande, muito forte, muito violento”, disse Omar durante uma entrevista a jornalista do New York Times, na Estação Grand Central Terminal.
Omar disse que logo em seguida ouviu o som de papéis espalhados, o triturar de vidros quebrados e a pancada de seu computador no chão, deslizando de sua mesa. Ouviu também os gritos de pânico de seus colegas de trabalho. Fez uma breve oração, e então chamou Salty para guiá-lo através da confusão. “Ele estava muito nervoso”, disse Omar, “mas não fugiu”.
Com uma das mãos no arreio de Salty e a outra no braço de sua chefe, Rivera mergulhou num mundo cheio de fumaça irritante e o cheiro nauseabundo de combustível de aviação. Afirmou que Salty recusava-se a deixar o seu lado, mesmo quando um outro colega de trabalho tentou pegar a correia do cão.
Omar, que perdeu sua visão devido a um glaucoma há 14 anos, disse que conseguiu manter o foco em sair porque não teve que olhar a destruição por todos os lados. “Não sendo capaz de enxergar, também me permitiu concentrar-me em pedir a Deus por favor que me permitisse voltar e abraçar minha família”.
Uma hora e quinze minutos mais tarde, Omar e Salty saíram no andar térreo. “Salty estava exausto”, disse ele, mas ambos continuaram caminhando. Daí começaram a correr. Ele podia ouvir os sons de estalidos, agora mais altos, ecoando pelo edifício. Pouco tempo depois, ele o ouviu desabar.
Tetraplégico em cadeira de rodas motorizada
John Abruzzo trabalhava no 69º. andar da Torre Dois, do World Trade Center, como contador auxiliar da “Port Authority” de New York e New Jersey. Quando o primeiro jato chocou-se contra sua torre, John, assustado como muitos outros, em meio à confusão, gritaria e pânico generalizado, dirigiu-se, em sua cadeira de rodas motorizada, para as escadarias. No entanto, ele sabia que sua retirada do local seria mais complicada, porque era tetraplégico.
Como recordaria bem mais tarde, naquele dia muita coisa extraordinária foi feita por pessoas simples e igualmente comuns. E para sua sorte, 10 delas estavam ao seu redor. “Não houve discussão nem nada. Foi uma linda decisão coletiva. Pegaram uma dessas cadeiras de emergência, chamadas de EVAC CHAIRS e colocaram-me dentro”. Levou uma hora e meia para chegar ao térreo. Muito embora pudesse ser manejada por uma pessoa só, na verdade, três a quatro dessas pessoas cuidavam de John, até a saída, revezando-se de vez em quando, devido ao cansaço. Dez minutos após sua saída a Torre desabou.
A Solidariedade de Colegas Desconhecidos
Tina Hansen tinha artrite reumatóide desde seus três anos de idade e usava uma cadeira de rodas motorizada para trabalhar no 68º. andar da Torre Um com outras três colegas. Após a bomba detonada no WTC em 1993, os diretores de sua empresa compraram uma dessas cadeiras de rodas de emergência (conhecidas como EVAC CHAIRS) que ficava, dobrada, numa caixa própria, sob sua mesa de trabalho. Na confusão estabelecida após o choque do avião contra seu edifício, devido à evidente dúvida das suas colegas quanto a providências destinadas a saírem do prédio, dois homens que elas nem conheciam chegaram e perguntaram se precisavam de ajuda para sair. Imediatamente colocaram-na nessa EVAC CHAIR , que estava sob sua mesa, levaram-na para o andar térreo, em segurança e colocaram-na numa ambulância.
A Ajuda Voluntária de Dois Estranhos
Essa mesma história, vista de outro ângulo, conta-nos que, empregados da Network Plus, em seu Departamento de New York, localizado no 81º. andar do WTC – Torre Um, Michael Benfante e John Cerqueira iniciaram sua descida, depois que todos os demais empregados haviam sido encaminhados por êles. No 68º. andar, ambos notaram três mulheres em pé, atrás de portas de vidro. Perguntadas do motivo para não estarem fugindo, as três mostraram ao lado uma colega numa cadeira de rodas motorizada. Ela tinha artrite reumatóide. Os dois rapidamente pegaram uma cadeira de rodas de emergência, ajudaram-na a sair de sua cadeira de rodas motorizada e foram levando-a aos poucos pelas escadas até o saguão do andar térreo. Ao saírem do edifício colocaram-na numa ambulância sem saberem os nomes uns dos outros.
Algumas semanas depois, Michael Benfante e John Cerqueira, por suas providências de socorro no WTC, receberam um título cobiçado e raro: Pessoas Mais Inspiradoras do Ano 2001. Receberam também um telefonema de um repórter do jornal People, informando que a mulher que eles haviam salvo chamava-se Tina Hansen e que ela estava muito agradecida com os dois.
Dois Deficientes Auditivos Salvam-se Juntos
Susan Zupnik e Carl Andreasen, empregados da Port Authority, haviam combinado encontrarem-se na cafeteria do 43º. andar, para tomarem seu desjejum juntos. Quando o primeiro avião atingiu o WTC, Susan estava para se sentar com uma rosca e um copo de café na mão. Andreasen estava por perto. Tudo o que lembram é que sentiram um choque violento e o balanço do edifício, como nunca tinham sentido antes.
“Repentinamente bati com o rosto no vidro de uma janela”, informou Susan.
Ao olhar para fora, ela viu escombros caindo do lado de fora das janelas. As pessoas estavam gritando ao seu redor, mas ela não ouvia nada. No entanto, ela percebeu que algo terrível havia acontecido. Assustada, jogou fora sua rosca e saiu correndo na direção do amigo. Ambos foram rapidamente na direção das escadas internas.
Susan tinha um comunicador móvel do tipo AOL, um equipamento que ela havia comprado alguns meses antes. Esse aparelho possibilitava mandar e receber mensagens. Imediatamente mandou um recado ao administrador do Instituto New Jersey de Tecnologia, dizendo que havia algo errado ali. Logo em seguida recebeu uma comunicação em forma de Boletim, informando que um avião havia atingido o WTC. Conforme caminhavam escada abaixo, de acordo com as possibilidades, o seu comunicador tocou diversas vezes. Amigos do mundo todo, da Califórnia, de Maryland, da Irlanda, da África do Sul e da Inglaterra perguntavam se ela estava segura.
Ela digitou: “Estou no 26º. andar”… e pouco depois: “Estou no 23º. andar”…
Segundo Carl Andreasen, ele teve que insistir com ela para parar de mandar mensagens e concentrar-se em sair dali.
“Reboco caía das paredes e as portas dos elevadores estavam retorcidas pelo fogo. Eu imaginava que devia haver um fogo terrível no poço dos elevadores”.
Quando chegaram lá embaixo, olharam para o alto e, assustados, viram a extensão de tudo. Policiais chegaram correndo, gritando.
“Nós não sabíamos o que estavam dizendo, mas sabíamos muito bem que eles queriam que a gente desse o fora dali”…
Depois desse drama todo, Carl afirmou que costumava brincar com Susan a respeito de seu comunicador.
“Eu achava que era uma perda de dinheiro. Mas… eu acabei de comprar um”…
O Desafio da Garantia da Segurança nas Empresas
É importante neste ponto chamar a atenção para o fato de que, em qualquer sociedade e em qualquer lugar do mundo, a segurança pessoal faz parte dos direitos de todos os cidadãos. Nesse sentido, embora em muitas realidades, diante das condições constatadas e inegáveis, estejamos nos referindo a um posicionamento apenas “em tese”, é fundamental que as dificuldades dos ocupantes de prédios em risco de incêndio, sejam sempre muito bem avaliadas e que procedimentos especiais sejam discutidos para a salvaguarda das pessoas com os mais variados tipo de deficiência ou com dificuldades de locomoção.
Em termos de Brasil, é fundamental que saiamos das cômodas posições “em tese” para aquelas de real efetividade. Edifícios de todas as cidades do mundo precisam ser equipados com esses tipos de cadeiras de rodas de emergência (EVAC CHAIRS, ou similares, fabricadas que são por diversas empresas), face à sua versatilidade comprovada. Como estamos no Brasil a esse respeito?
A Turismo Adaptado vem colocando a segurança como um dos itens de maior importância nos trabalhos que realiza, e além de fazer a representação de equipamentos acessíveis de segurança no Brasil, também busca aprimorar constantemente técnicas de treinamento para a segurança da pessoa com deficiência. Fica este espaço aberto para qualquer esclarecimentos e discussões, que serão muito bem vindos.
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Fonte: Faster Centro de Referências
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Eu sei q isso foi um ataque interno. nos EUA so os maiores politicos sabem disso. os politicos tem culpa, nao a populacao.
Independente do culpado, creio que serve como lição. No Brasil, embora não sejamos ameaçados por ataques terroristas, acontecem acidentes como incêndios, e os prédios precisam ter sistemas de segurança para pessoas com deficiência. Nem bombeiros sabem direito como agir, e nos levam calmamente pelo elevador em simulações.