Miss Vanessa Vidal. É possível ser bela sem esconder a deficiência.

por | 6 nov, 2011 | Turismo Adaptado | 0 Comentários

Vanessa Vidal foi a primeira surda a se classificar entre as primeiras colocadas num concurso de Miss Brasil. Na foto, Vanessa Lima Vidal (Ceará), Natália Anderle (Rio Grande do Sul) e Cyntia de Oliveira. Leia abaixo o artigo “Desabafo sobre o preconceito” escrito por Vanessa Vidal, publicado na revista Reação, Ano XI – Ed. nov/dez 2008. Ao final do post, o vídeo da entrevista de Vanessa no Programa do Jô dia 1 de julho de 2011.

“Alcançar o título de Miss Ceará 2008 abriu os olhos da sociedade para o potencial que existe nas pessoas com deficiência. Obter o 2° lugar no Miss Brasil 2008 reafirmou a presença marcante das pessoas com deficiência na sociedade através da beleza, simpatia, inteligência e capacidade durante o concurso, abrindo assim portas para a participação no MIss Beleza Internacional, onde todos perceberam que, mesmo sendo surda, com oportunidades inclusivas, poderia concorrer em igualdade com as demais participantes.

Durante a organização para participar do Miss Beleza Internacional algumas circunstâncias me mostraram que encontraria barreiras. Ao chegar ao Japão, logo percebi a realidade que enfrentaria, ficando assustada com a situação. O sentimento que me consumia era de ter voltado ao início de tudo, ao início de minha carreira.

Estava sem intérprete de Libras e a inclusão tão esperada por mim e pela comunidade surda em todo o mundo, não existiu. Vi meus sentimentos sendo esmagados, meus direitos desrespeitados. Questionava-me como a sociedade, sendo conhecedora da realidade das pessoas surdas, de sua cultura de sua acessibilidade específica, deixou que isso acontecesse.

As outras concorrentes estavam acompanhadas de tradutores poliglotas fazendo valer o mesmo direito que a mim foi negado. Reafirmo aqui o valor da Inclusão. Imaginemos um mundo escuro, sem cor, nem vida… Cada um com suas diferenças, deficiências; brancos ou negros, surdos ou ouvintes; todos, sem exceção, dão cor ao mundo, tornando-o menos preconceituoso, colorido e melhor de se viver. Creio que esta postura inclusiva pe a mais coerente para amenizar a discriminação vivenciada.

Desde o período que concorri ao Miss Ceará 2008, barreiras se colocavam diante de mim e eu as transformava em portas, em oportunidades de crescimento e aprendizagem. Foram muitas lições aprendidas. O que eu vivenciei no exterior derrubou toda inclusão perfeita que eu idealizei para o concurso. O mês que antecedeu o concurso foi para mim um sacrifício. devido à ausência de intérprete, refletiram numa comunicação quebrada… Os expectadores do concurso não perceberam o que eu sentia naquele momento. Ao apresentar-me ao público, utilizei a Libras de maneira simplificada. Senti-me prejudicada, porém sou determinada!

Registro aqui esta experiência na tentativa de alertar que ainda há tempo: podemos sim acabar com a discriminação que existe paralela à globalização que vivemos. A sociedade precisa mudar seus conceitos e acabar com o pré-conceitos.

Ainda com um sentimento de tristeza esforço-me diariamente para sorrir verdadeiramente, não como modelo, mas como ser humano. Não quero apenas que me admirem por minha beleza, mas sim pelo meu potencial, por minha inteligência, perseverança, determinação e capacidade, pois só assim o preconceito irá diminuir e as pessoas poderão viver inclusas sem nenhuma dificuldade. reafirmo que muitas lições foram por mim aprendidas. Aproxima-se o dia em que eu passarei a minha coroa de Miss Ceará, mas a coroa que almejo guardar é aquela que é feita de valorização a inclusão social com responsabilidade.”

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Fonte: Hear The World

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