Um passeio pelo rio Ceira, na Vila de Góis em Portugal
Este texto foi escrito por João Henriques para o site da Rede Saci, de onde é repórter voluntário. Português, tem 35 anos e tornou-se tetraplégico em um acidente. Administra o site Acessibilidade em estado se sítio“
Com a chegada da primavera desaparecem os dias frios e chuvosos, então, vêem-nos sempre à memória as recordações das férias de verão. Daqueles dias quentes, com as praias cheias de gente e aquela água salgada de um oceano incrivelmente azul. Mas também há quem opte por passeios pela serra, acompanhados de um bom piquenique, que terminam muitas vezes em banhos nas praias fluviais.
Em um dia de verão, desloquei-me a uma destas praias fluviais na vila de Góis. Reflecti sobre a sua localização geográfica e achei que estava bastante acessível. Esta praia fluvial encontra-se num magnífico recanto no meio de uma imensa serra que parece que nunca mais termina, cheia de vegetação e ar puro, a Serra da Lousã. Então, decidi relatar essa tarde bem divertida e radical.
Depois de chegar à vila de Góis saí do carro junto ao rio Ceira. Estávamos em um local de piso mais ou menos plano de tantas vezes a água escavar aquelas rochas ao fluir no local. Isso permitiu construir uma estrada marginal junto ao seu leito, o que é meio caminho andado para permitir um local montanhoso transformar-se em um bastante acessível.
Junto aos passeios da estrada para as margens as rampas não eram abundantes, no entanto, nos locais essenciais elas existiam. Desloquei-me então para o parque de piqueniques. O percurso até as mesas era fácil porque existia uma rampa de acesso da estrada para a superfície em terra com alguma relva sem grandes ondulações.
Depois, atravessei a rua na companhia de amigos e apanhei uma rampa que dava acesso a uma pequena zona relvada, onde avistei uma ponte metálica para a passagem de pessoas. Ainda bem que tinha rampa porque permitiu deslocar-me de cadeira de rodas com alguma facilidade e assim estar em cima do rio. Tive uma sensação maravilhosa de liberdade e independência. Debrucei-me da ponte para o rio e maravilhei-me com a água a escorrer rio abaixo em uma velocidade estonteante.
Segui caminho rio acima e encontrei o primeiro açude, que tinha rampas de madeira e permitia percorrer alguma quantidade de areia. Só faltava naquele momento uma cadeira flutuante para ir tomar banho. Para sair do açude para a estrada não tinha rampa.
A seguir desloquei-me para um bar fluvial, difícil de encontrar porque não tinha placas a assinalar a rampa de acesso e estas eram bastante inclinadas. Na chegada ao bar nem todos os locais tinham rampa, mas também não era difícil encontrar uma mesa no meio de muita gente.
Quando estava a partir daquele local, de uma maneira inexplicável, chamaram-me a atenção que era possível estar muito perto do rio. Lá fui eu passeio fora e quando me percebi estava no meio do rio. Só foi possível porque as rampas de madeira do passeio para o rio eram pouco desniveladas e tinham um material aderente e anti-derrapante.
Confesso que estar no meio de um rio cheio de pessoas a tomar banho e a apanhar água em cima de mim – numas rampas seguras – foi coisa que nunca me tinha passado pela cabeça.
E assim se passou uma tarde alegre, divertida, radical para mais tarde recordar.
Fonte: Rede Saci
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