Turismo é para todos. Acessibilidade e inclusão também.
Turismo é para todos. Foi pensando nisso que a Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas de Minas Gerais (FCDL-MG) publicou em sua revista “Movimenta”, na edição número 8 (outubro/novembro) de 2017, uma matéria sobre turismo acessível. Afinal, turismo e comércio tem tudo a ver, e a acessibilidade deve estar presente em ambos.
Ricardo Albino é jornalista e ama viajar. Sempre que programa uma viagem, ele pesquisa sobre todos os detalhes, principalmente a locomoção. Só que, às vezes, ele acaba desistindo da viagem antes mesmo de finalizar a compra. Na maioria das vezes, isso acontece não por causa do dinheiro ou por causa do tempo, mas por causa da mobilidade. Sim, o Ricardo é cadeirante. Para ele o turismo está ao alcance de todos. “Ou pelo menos deveria estar.”
Para um outro Ricardo, o Shimosakai, turismólogo e criador da ONG Turismo
Adaptado, também. Tanto é que, desde que levou um tiro que o deixou paraplégico em um sequestro, vem se dedicando para tornar o turismo acessível às pessoas com deficiência aqui no Brasil.
Ora, se o turismo está ao alcance de todos, significa que ele não deveria excluir absolutamente ninguém de todas as atividades que ele promove, seja em qual destino ele estiver. Esse turismo deveria era facilitar o acesso de todos a todas as suas atividades com naturalidade, independência, qualidade, segurança, conforto e com toda a beleza que ele pretende oferecer
Turismo é para todos. Um turismo sem barreiras.
Na expectativa, esse é o turismo acessível. Na realidade, ele nem sempre cabe na mala de todo brasileiro – principalmente se ele possuir alguma deficiência auditiva, física, motora, visual ou mobilidade reduzida. Segundo o levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) feito em parceria com o Ministério da Saúde, em agosto de 2015, revelam que 6,2% da população brasileira tem algum tipo de deficiência. A Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) considerou quatro tipos de deficiências: auditiva, visual, física e intelectual. Na realidade, são cerca de 45 milhões de Pessoas com Deficiência (PCDs) vivendo o problema da acessibilidade que por aqui ainda tropeça em diversas dificuldades não somente ligadas ao turismo, mas a todos os setores relacionados à atividade.
Quando pensamos em acessibilidade de um destino turístico, não devemos deixar de lado o atrativo turístico em si, mas também a rede de hospedagem e alimentação, o sistema de transporte, o mobiliário urbano e também banheiros públicos, espaços de lazer, e até mesmo o atendimento adequado proporcionado aos turistas.
Daí chegamos mesmo à conclusão de que várias cidades brasileiras não estão preparadas para receber turistas com alguma deficiência por escassez de iniciativas em acessibilidade turística. E quando falamos nisso, falamos também de serviços de baixa qualidade, falta de igualdade nas oportunidades entre os indivíduos e na exclusão de uma parcela da sociedade, inclusive em espaços coletivos e de lazer.
Ricardo, o de sobrenome Albino é, além de jornalista e cadeirante, também contador de histórias. Algumas das que ele conta, infelizmente são verídicas e demonstram realmente o despreparado das pessoas, das identidades e das organizações envolvidas com pessoas deficientes quando o assunto é turismo ou lazer e eventos.
“Quanto mais a gente sai e viaja, mais eles percebem que também somos consumidores, mas ainda escuto que adaptar é caro e a demanda é pouca”, conta.
Contradizendo, Ricardo, o Shimosakai, turismólogo e viajante de carteirinha, conta que a demanda dos deficientes está sim cada vez maior, mas concorda quando o assunto é o despreparo para bem recebe-los. “Algumas pessoas às vezes falam que não encontram deficientes viajando por aqui. Claro, tem muita gente indo lá para fora, já que aqui não os atende bem.”
Segundo ele, muitos deficientes ficam reclusos em suas casas e cidades porque como não têm condições ou não têm coragem de ir para fora. “Certamente, os estrangeiros com dinheiro não vêm ao Brasil devido às dificuldades encontradas aqui. Existem 45 milhões de pessoas com deficiência no Brasil, um bilhão de pessoas com deficiência no mundo. É pouca gente, se o mundo tem 7 milhões e nós somos um sétimo da população mundial. As pessoas aqui no Brasil realmente não enxergam o potencial e não vêm as pessoas com deficiência como consumidor como deveriam”, relata.
Com a nova lei brasileira de inclusão, redes hoteleiras têm que seguir as novas exigências até janeiro de 2018. Uma delas é que pelo menos 10% de seus quartos sejam acessíveis. “Nossa legislação na verdade é muito boa, o problema é que ela não é cumprida. Se processasse cada estabelecimento que não está de acordo com as normas de acessibilidade – a realidade eu posso fazer isso – estaria trilhonário. É muito difícil encontrar lugares que estejam totalmente de acordo com as normas. Muito difícil, ” desabafa.
Ora, até quando as pessoas irão se esquecer que a acessibilidade pode ser benéfica para todos, remetendo ainda a um processo de mudança social e não apenas econômico?
Tomar todas as medidas de adequação dos lugares públicos e dos pontos turísticos promove um imensurável ganho social na constituição de espaços que permitam, com liberdade e segurança, o acesso, a troca, a interação e a inclusão na experimentação das atividades, dos ambientes, das relações e das sensações, promovendo a qualidade de vida e garantindo oportunidades iguais e a concretização do direito ao lazer a todos, sem tirar nem por.
Fora que o turismo acessível se trata de um filão consumidor e uma boa oportunidade econômica, uma vez que ele potencializa a utilização dos espaços e destinos turísticos por um maior número de pessoas.
TODOS PELA ACESSIBILIDADE
Quando pensamos em acessibilidade esse pensamento não pode apenas se limitar à construção de rampas para cadeiras de rodas. Mais do que tornar uma cidade acessível, desobstruindo barreiras arquitetônicas, é necessário eliminar as barreiras físicas para cadeirantes, mas também ter pessoas habilitadas a se comunicar com deficientes auditivos, disponibilizar material turístico acessível para deficientes visuais e treinar funcionários para atender a essas pessoas.
“Ao escolher onde se hospedar, a primeira providência é checar se o local vai ajudá-lo nas suas dificuldades individuais. Porque mesmo com perfis parecidos, cada pessoa tem uma necessidade”, diz Ricardo Shimosakai. A recomendação dele é ser o mais detalhista possível, já que, muitas vezes, as empresas não entendem o conceito de acessibilidade.
Uma vez escolhido o hotel, vale checar informações por telefone e até pedir fotos do local. As dimensões são importantes, especialmente se o turista for cadeirante. Já o portador de deficiência visual precisará de alguém que o acompanhe até o quarto de hotel e lhe mostre a localização de cada objeto. O deficiente auditivo, por sua vez, terá mais facilidade de se comunicar ao contar com o apoio de funcionários aptos em Libras, a Língua Brasileira de Sinais. Sem contar com os passeios que precisam levar em conta as limitações, obviamente.
A Organização Mundial do Turismo (OMT) estima que 1,2 bilhão de pessoas viajam anualmente a turismo. A acessibilidade é fundamental para se cumprir a premissa de que o turismo é para todos. A Lei Geral do Turismo traz como um dos objetivos da Política Nacional de Turismo “democratizar e propiciar o acesso ao turismo no País a todos os segmentos populacionais, contribuindo para a elevação do bem-estar geral”. Um dos intuitos do Plano Nacional de Turismo é promover a incorporação de segmentos especiais de demanda ao mercado interno, em especial os idosos, os jovens e as pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida.
Você pode ler a matéria na íntegra acessando o documento original em PDF Revista Movimenta FCDL Turismo é para todos
Fonte: FCDL Minas Gerais
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