Garantir que as pessoas com deficiência usufruam de atrações turísticas com segurança e autonomia é o desafio de Ricardo Shimosakai. Em 2001, o paulistano levou um tiro durante sequestro relâmpago e, ao lidar com as dificuldades da vida sobre cadeira de rodas, criou a Turismo Adaptado, empresa especializada no atendimento aos deficientes. Ele esteve no Senac Piracicaba para participar do Fórum Municipal Permanente da Pessoa com Deficiência e da Semana da Acessibilidade, promovidos pelo vereador André Bandeira (PSDB).
“A questão é dar oportunidades, somos pessoas como as outras, e não seres incapazes. Se o problema é dinheiro, há ricos e famosos que possuem deficiência e contam com recursos financeiros. O mercado é grande e precisa ser explorado”, avaliou Shimosakai, que atua desde 2004 no segmento e é bacharel em turismo pela Universidade Anhembi Morumbi, por meio da Laureate International Universities.
Ao falar sobre o futuro do setor a alunos do curso técnico em hotelaria do Senac, Shimosakai apresentou estatísticas que dimensionam o potencial do público com deficiência, estimado em um bilhão de pessoas no mundo. “A gente quer um turismo que sirva a todos”, disse, ao citar o consumo dos adultos americanos com deficiência em atividades turísticas, com gasto médio de US$ 13,6 bilhões por ano.
Não há mais desculpas para o planejamento de cidades acessíveis e, consequentemente, em rotas turísticas adequadas, avaliou o palestrante. A estimativa é de gasto 1% maior com itens de acessibilidade. Em contrapartida, a obra fica 25% mais cara se deixar os ajustes para depois. “Se bem trabalhado, o retorno financeiro é certo, pois o assunto está na pauta da sociedade.”
O especialista destacou que as cidades devem contar com rotas acessíveis, com sinalização, trajetos desobstruídos, arquitetura, tecnologia assistiva, hospitalidade e informação. Nesses quesitos, há destinos que se destacam, como a cidade de Nova York. “Em 1992, Barcelona transformou-se para as Paralimpíadas. Hoje, é referência em acessibilidade”, exemplificou.
No Brasil, há iniciativas isoladas em Olinda, Porto de Galinhas, Fernando de Noronha, Curitiba, Londrina, Rio de Janeiro e São Paulo. Mas, num contexto mais amplo, faltam pensamento global e criação de leis compatíveis com a realidade atual. Como exemplo, Shimosakai citou o provável despreparo na recepção aos deficientes na Copa do Mundo, em 2014, e nas Olimpíadas, em 2016, que serão sediadas em território brasileiro. “O desafio é colocar a questão no Brasil e, depois, trazer as pessoas para conhecer o país.”
Para Shimosakai, outro problema nacional está na mentalidade das agências de turismo, que oferecem apenas o “pacotão”, em que o cliente adquire o produto mas não sabe o que encontrará no local. Nesse caso, deveriam se preocupar com a acessibilidade nos transportes rodoviário, ferroviário e aéreo, além de quartos de hotéis, banheiros especiais, ferramentas de identificação nos trajetos, entre outros itens, que passam também pela elaboração de roteiros no turismo cultural, esportivo, rural, histórico, de aventura, de agronegócios, ecoturismo, entre outras modalidades. “Em Roma, visitei o Coliseu e há um elevador. O Museu do Louvre é todo acessível. Independente de ser um patrimônio histórico, é possível proporcionar o acesso sem destruir os locais”.
DISCUSSÃO INÉDITA – Esta é a primeira vez que Piracicaba recebe uma palestra sobre a acessibilidade no turismo. Ao justificar a escolha de Shimosakai para falar sobre o tema, o vereador André Bandeira citou a facilidade de diálogo do especialista com diferentes públicos. “Juntos, praticamos por um período o tênis de mesa, em São Paulo. Ele não continuou no esporte para se qualificar no turismo adaptado, faz consultorias em todo o país e conta com um site que é referência (turismoadaptado.wordpress.com)”, disse Bandeira.
Para o vereador, o turismo acessível está na pauta das lideranças políticas de Piracicaba e como modelos há as recentes adequações no Parque do Engenho Central e no entorno do rio Piracicaba, com a última etapa do projeto Beira-Rio. “A acessibilidade não é apenas para o cadeirante. É também para o idoso, para a gestante, para deficientes mentais, visuais e auditivos”, destacou o parlamentar, que aposta na conscientização da sociedade.
Com debates, atrações culturais, palestras, caminhada e audiências, a programação do Fórum Municipal Permanente da Pessoa com Deficiência e da Semana da Acessibilidade seguiu até 21 de setembro, Dia Nacional de Luta das Pessoas Deficientes. As atividades acontecem na Câmara de Vereadores, Unimep (Universidade Metodista de Piracicaba), Clube do Saudosistas, Teatro São José, Cotip e Casa do Povoador.
Fonte: Câmara de Vereadores de Piracicaba