Um homem tetraplégico passou por constrangimentos para ser acomodado em um voo da LAN, que saía de Santiago, no Chile, para o Rio de Janeiro, no fim de março. Felipe Esteves informou à companhia aérea ao comprar a passagem que era deficiente físico. No entanto, não foi colocado em assento especial, como determina resolução da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC). Funcionários da companhia também não o acompanharam ao interior do avião e ele precisou se locomover com o auxílio de amigos. Houve discussão entre tripulação e acompanhantes de Felipe.
De acordo com a ANAC, Passageiros com Necessidade de Assistência Especial (PNAE) devem ser acomodados em assentos com espaço extra, que costumam ficar na primeira fileira da aeronave. No entanto, quando o cadeirante chegou ao aeroporto, foi acomodado na quarta fileira.
“O deficiente físico é mais propenso a ter trombose. Normalmente tem uma circulação mais prejudicada. É importante que o deficiente tenha um assento com espaço maior, para que possa dar uma esticada na perna. Não queria ir para a fileira para ler um jornal diferente, comer um biscoito mais chique, era por necessidade”, explicou Felipe, que foi a Santigo para apresentar dois artigos acadêmicos que redigiu junto com colegas e professores do curso de mestrado em administração, finalizado em março de 2015.
Segundo ele, o constrangimento começou já no voo de ida. Quando ligou para a companhia aérea para retificar que era deficiente físico, um atendente afirmou que o voo não teria distinção de classe. Mas as três primeiras fileiras da aeronave eram da classe “Econômica Premium” e a tripulação o impediu de sentar ali.
Já no Chile, Felipe não conseguiu contato com o telefone internacional da companhia para prevenir o mesmo problema no voo de volta. Em vão. Ao entrar no avião, foi colocado novamente na primeira fileira da classe econômica, a quarta do avião, sem espaço extra. Em nenhum dos dois voos o cadeirante foi acompanhado por um funcionário da companhia do balcão até seu assento no avião, como também determina a ANAC.
“Eu já compro duas passagens a mais porque sei que vou precisar dessas pessoas (um enfermeiro e um amigo) para me ajudarem. Se o avião virar para frente, eles têm que me segurar. Eu sabia que poderia ter esse tipo de problema porque a companhia não está apta”, explica ele.
Na chegada ao Brasil, houve discussão entre a família de Felipe e a tripulação por causa de sua saída do avião. A irmã dele fez fotos da situação e uma aeromoça teria tentado pegar o telefone da mão dela. “Esperamos todo mundo sair. O chão da aeronave estava molhado por causa da chuva. O comandante saiu da cabine e falou que teríamos que sair com o chão molhado. Mas nós falamos que não iríamos, porque eu tenho 1,83 de altura, sou pesado e poderiam escorregar. Demoraram para enxugar”, contou.
Procurada pelo G1, a LAN lamentou o episódio e afirmou que prestou esclarecimentos ao cliente. A empresa e a brasileira TAM se fundiram em 2012 para formar a LATAN. Mas ambas ainda voam separadamente, apesar de fazerem parte do mesmo grupo. A TAM responde pela LAN no Brasil.
Acidente cirúrgico
Juliana Esteves, irmã de Felipe, chegou a criar uma campanha em uma rede social como forma de protesto, indignada com o episódio. Até esta quarta-feira, a foto postada por ela foi compartilhada 506 vezes.
Felipe ficou tetraplégico após realizar uma cirurgia para reparar o deslocamento de duas vértebras, em 2000. Ele era lutador de jiu-jitsu e as lesionou em um treino, do qual saiu ainda mexendo braços e pernas.
Fonte: G1