Surdos oralizados pedem maior acessibilidade em aeroportos
Esta matéria foi escrita por Lak Lobato, criadora do Blog Desculpe, não ouvi! Redatora, fotógrafa freelancer e escritora além de surda oralizada e implantada, perdeu a audição em consequência de uma Caxumba.
Marcamos um evento aqui em São Paulo. Alguns amigos – todos surdos oralizados e usuários de prótese e/ou implante auditivo – vieram de vários lugares do Brasil. Porque, claro, deficiência auditiva não impede ninguém de viver e, muito menos, de viajar… O evento em questão, foi um sucesso! Foi possível aproveitar bastante e até estendê-lo a uma pizza de saideira. Afinal, se vocês me permitem o bairrismo, São Paulo tem a melhor pizza do mundo. Na hora de voltar pra casa, começou o drama…
Não pela despedida dos amigos. Hoje em dia, é possível manter contato em tempo real, mesmo de longe, graças à internet, SMS, vídeo chamada e tudo mais que a tecnologia nos permite. Mas porque surdos oralizados nem sempre tem boa discriminação auditiva da fala, nem todos nós conseguimos compreender perfeitamente o que ouvimos, mesmo com o uso de próteses que “restauram” parte do nosso sentido perdido ou inexistente.
O que causou esse drama? Falta de acessibilidade em aeroporto! Antigamente era pior, eu sei. Hoje em dia, pelo menos, começam a engatinhar na acessibilidade. Podemos avisar que somos deficientes auditivos. E existe interpretes de LIBRAS nos aeroportos (acho que sim, pelo menos. Na real, isso eu nunca confirmei, mas espero de coração que todos tenham!). Existe até uma lei que garante que possamos levar um Hearing Dog (cão assistente de pessoas com deficiência auditiva) conosco, sem precisar ir no compartimento de bagagem.
Mas, se tem algo que ainda não tem qualquer previsão de acessibilidade são avisos luminosos de mudança de portão de embarque, o que faz muitos de nós perderem o vôo, já que tais anúncios são sempre sonoros! E aí, como fica? Perdemos os vôos, nossas malas partem sozinhas para outros lugares e temos todo o trabalho de conseguir descobrir o que aconteceu e achar uma solução para o problema. Isso é justo?
Em todos os aeroportos que estive, havia televisões e painéis anunciando coisas. Mas, troca de portão de embarque, aqui no Brasil, não anunciam. E a gente perde vôo, a menos que esteja acompanhado de algum ouvinte ou de um funcionário da companhia aérea. Negam-nos o direito de autonomia, porque ficamos dependendo de outra pessoa nos avisar que o portão foi mudado de última hora.
Com sorte, alguns percebem a “mudança de posição da fila” ou até perguntam para algum funcionário a tempo. Outros pedem para algum funcionário os acompanhar até o portão de embarque (sim, essa possibilidade existe). Mas, há quem perca o vôo, porque não estão acostumados a depender de outra pessoa ou não sabem que é possível pedir acompanhante até o portão ou, simplesmente, estão desatentos.
Que dá para resolver o problema, pegar o próximo vôo (se não mudarem o número do portão de novo, né?), dá pra salvar as malas que partiram antes.
Ainda assim, é uma dor de cabeça desnecessária, que poderia ser facilmente resolvida se passasse uma lei que exigisse que mudanças no embarque tivessem aviso visual. Se houvessem painéis avisando dessas mudanças por todo o aeroporto. Se levassem em consideração de que avisos por altofalante não são acessíveis para todo mundo. Principalmente, avisos que fazem uma diferença enorme na prática. Afinal, se a gente pode comprar uma passagem, é considerado consumidor. E se somos consumidores, precisamos dos nossos direitos garantidos! Isso não está certo!
Fonte: Acessibilidade Total
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