Secopa é convidada a explicar acessibilidade de obras da Copa em Mato Grosso
A Rede de Controle realizou uma reunião ordinária no Tribunal de Contas da União, para ouvir o staff da Secretaria Extraordinária da Copa do Mundo FIFA 2014 – Secopa, sobre acessibilidade nas obras da Copa do Mundo.
A pedido do Crea-MT a Secopa foi convidada a apresentar esclarecimentos e detalhamentos sobre a acessibilidade das obras realizadas para a Copa de 2014, em Cuiabá. De acordo com a superintendente operacional do Crea-MT, Márcia Margareth Caldas, representante da autarquia na Rede de Controle, os projetos executivos das obras da Copa solicitados pelo Conselho ainda não foram apresentados e ainda não houve retorno referente às falhas de acessibilidade apontadas no projeto inicial da Arena Pantanal. “Precisamos conhecer oficialmente todos os projetos para contribuir e garantir que as vias públicas, centros de treinamento, aeroporto, o espaço Fifa Fan Park e o estádio contemplem a todos em termos de acessibilidade. Visando o legado que ficará para Cuiabá, devemos observar todas as exigências da lei.”
Para investigar a acessibilidade do projeto da Arena Pantanal, o Ministério Público do Estado de Mato Grosso instaurou um Inquérito Civil Público e requereu da Coordenadoria de Acessibilidade do Crea-MT o estudo preliminar, o qual foi apresentado ao promotor Alexandre Guedes no dia 3 de julho, referente às falhas encontradas no projeto inicial. “É possível que com a análise da versão mais atual do projeto, muitos dos apontamentos sejam extintos ou ainda sejam acrescidos”, considerou Givaldo Dias Campos, autor do relatório do Crea-MT.
Segundo esse relatório as condições de acessibilidade encontradas no projeto não atendem ao disposto na legislação federal específica e nas normas técnicas. “Esse espaço de uso coletivo é inacessível, impedindo parcela da população de usufruí-lo. Da forma como inicialmente foi apresentado o projeto, depois de prontas as obras, a Arena Pantanal não prestará para o fim que foi planejada e nem poderá ser ocupada nos termos do Decreto 5.296/2004.”
No caso das obras para a Copa de 2014, do ponto de vista do Crea-MT, é inconcebível que o estádio, o aeroporto, trincheiras e outras obras nasçam sem acessibilidade, pela quantia vultuosa de investimentos que serão aplicados, uma vez que incluir essa concepção nos projetos não acrescentará quase nada em termos de custos. “Adequar as obras às normas de acessibilidade após estarem concluídas pode chegar a 45% do valor total da obra ou até mais dependendo da complexidade imposta. E se não o fizermos agora, enquanto há o motivador “Copa do Mundo”, dificilmente será feito depois.”, observou Givaldo.
Para permitir um melhor entendimento sobre a matéria em discussão vale citar algumas das irregularidades apontadas no estudo do ante-projeto da Arena Pantanal. De acordo com o relatório de verificação de acessibilidade entregue ao Ministério Público do Estado de Mato Grosso:
– O acesso principal não apresenta sinalização tátil direcional, sinalização de alerta e sinalização visual e a largura é inadequada, de acordo com os critérios previstos na NBR 9077;
– O estacionamento não prevê a circulação de pedestres entre veículos, com execução de faixas de segurança, nem de transbordo, não há detalhamento de vagas comuns e nem para pessoas idosas;
– Os sanitários da edificação principal não contemplam o uso por crianças, os boxes comuns existentes não atendem os critérios que especificam o mínimo de 0,60m entre a porta aberta e a bacia sanitária, os mictórios não atendem as especificações quanto à altura e instalação de barras;
– As portas contrariam o disposto na NBR 9050, deixando de cumprir a largura mínima de vão de luz de 80cm;
– As rampas não possuem a especificação de inclinação, não apresenta guia de balizamento, corrimões duplos, piso tátil e sinalização em braile.
Vale lembrar que na última reunião realizada no final do mês de março, na sede do Crea-MT, o então secretário da Secopa, Eder Moraes, afirmou não constar no planejamento das obras da Copa a publicidade e informativos em linguagem de libras e braile.
A não observância às normas de acessibilidade pode gerar sanções administratívas, cíveis e criminais como a perda do cargo, para o servidor público; cassação do registro profissional, para o autor do projeto; perda de alvará de funcionamento; obrigação de reparar danos a terceiros; obrigação de fazer o conserto às próprias expensas; negativa de emissão de Alvará de Obras e Habite-se; e até mesmo perda de concessão pública, entre outras.
“Não é apenas nas obras da Copa que se deve exigir a acessibilidade. A população deve voltar os seus olhos a todo e qualquer espaço que seja de uso coletivo e público. Como por exemplo o espaço comum de condomínios, bancos, bares, restaurantes e órgãos público”, acrescentou o coordenador do Crea-MT. “É questão de bom senso saber que o mesmo espaço poderá ser frequentado por todos”.
Enquanto o bom senso não é colocado em prática, por iniciativa própria, instituições como o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia, que tem como função defender a sociedade, realiza ações para prevenir, corrigir e coibir irregularidades, a exemplo da Fiscalização Preventiva Integrada (FPI), por exemplo, realizada em conjunto a outros órgãos como Corpo de Bombeiros, Procon, Vigilância Sanitária e Conselhos Profissionais, para analisar projetos, fiscalizar obras e serviços, emitindo pareceres e pedindo providências.
“As ações do Crea-MT vem transformando o Estado de Mato Grosso aos poucos, fomentando a adoação da concepção de acessibilidade. Podemos constatar isso nas alterações nos Códigos de Uso e Ocupação de Solos, Código de Obras, Código de Posturas e Plano Diretor de alguns municípios, que foram propostas após as gestões do Conselho e também no interesse crescente da imprensa e da própria população para essas questões.”, enfatiza o presidente do Crea-MT, Juares Samaniego.
A Rede de Controle foi constituída em 2009, em todo os Estados, a Rede de Controle tem como objetivo desenvolver ações direcionadas à fiscalização da gestão pública, ao diagnóstico e combate à corrupção, ao incentivo e fortalecimento do controle social, ao compartilhamento de informações e documentos, ao intercâmbio de experiências e à capacitação dos seus quadros.
Fonte: 24 Horas News
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