Roupa biônica. A tecnologia japonesa potencializando forças para dar mobilidade.
Parece filme de ficção científica, daqueles que não conseguimos desgrudar os olhos da tela: uma pessoa franzina veste um traje especial e ganha força descomunal, a ponto de carregar 110 quilos com a leveza de quem segura uma pluma. Parece ficção, mas é real. Com um conjunto de sensores estrategicamente costurados, existe agora uma roupa biônica que promete transformar, por exemplo, idosos e pessoas com deficiência motora em seres humanos que podem viver muito além de seus limites físicos. Os humanos poderão se transformar em super-homens. E essa é uma realidade que já está à venda?, diz o engenheiro japonês Yoshiyuki Sankai, um dos responsáveis por esse traje especial.
O sonho é antigo. Na década de 60 os americanos já testavam os exoesqueletos, também chamados de máquinas de vestir. Chegou a ser desenvolvida uma roupa batizada de Hardiman que prometia aumentar a força dos militares a serviço do Departamento de Defesa dos EUA. O teste deu certo, mas o traje era pesado demais: 680 quilos. Com o passar dos anos, os cientistas descobriram as maravilhas da fibra de carbono e outros materiais que podem ser utilizados na construção de exoesqueletos mais leves e altamente eficazes.
Foi assim que a idéia do engenheiro Sankai saiu do papel e ganhou as vitrines japonesas. O nome de sua invenção é Hybrid Assistant Limb HAL (membro assistente híbrido) e trata-se da primeira roupa robótica que realmente funciona e muito bem. O equipamento pesa 15 quilos e reúne um conjunto de potentes cérebros sensoriais em cada um de seus eixos correspondentes às diversas partes do corpo humano (cotovelos, joelhos e ombros, por exemplo). São esses sensores que analisam e calculam quanto de força o corpo de determinada pessoa pode exercer e quanto lhe é necessário emprestar através do Hal para que ele cumpra funções que naturalmente lhe pareciam impossíveis.
Vamos à alfaiataria, ou seja, à engenharia desse traje. Ao vesti-lo, os sensores ficam sobre a pele, analisando o funcionamento do organismo. Ao tentar pegar um objeto pesado, por exemplo, os músculos do indivíduo emitem uma fraquíssima corrente elétrica que se dissipa através da pele e é então captada por esses sensores que a transmite a um microcomputador localizado à altura da cintura. Ele, por sua vez, converte os sinais em impulsos elétricos que acionam os motores que ficam nas articulações do traje. É isso que proporciona um aumento de força de quem o está utilizando. Logicamente, um produto desse tipo não demorou para ser comprado, patenteado e fabricado.
Hoje, o Hal pertence à Cyberdyne e seu lançamento foi tão comentado em Tóquio que o garoto-propaganda foi o secretário-geral do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia, Yoshitsugu Harada. O inventor Sankai convidou o secretário a erguer com uma das mãos quantas sacas de arroz conseguisse. Harada não foi capaz de levantar sequer duas ao mesmo tempo, uma vez que cada uma delas pesava mais de dez quilos. Sankai depositou então três sacas no braço de uma pessoa com o mesmo perfil muscular de Harada, mas que estava vestida com a roupa biônica. Trinta quilos pareceram 30 gramas, não se viu derramar uma gota de suor.
O objetivo dos especialistas japoneses não é o de utilizar o equipamento para fins militares, mas sim para auxiliar pessoas com deficiência física e também idosos naturalmente enfraquecidos muscularmente. O Japão é um dos países nos quais a população se torna cada vez mais longeva e tal fenômeno leva à expectativa de que o setor de serviços para a terceira idade viva em breve um grande florescimento. Quanto aos deficientes, sonhos podem se tornar realidade com o Hal.
Quem diz isso é o tetraplégico Seiji Uchida, 43 anos, um dos primeiros a experimentar os benefícios da nova roupa. Uchida realizou recentemente o sonho de chegar ao topo dos Alpes suíços montado nas costas do alpinista Ken Noguchi, 33 anos, que se valeu do Hal para carregar o amigo e fez isso com a mesma facilidade com que costuma levar a sua mochila. Estou tentando criar novas possibilidades para que os incapacitados possam realizar seus sonhos, diz Uchida. A Cyberdyne produz poucas unidades da super-roupa e, pelo menos por enquanto, somente a aluga a US$ 1 mil por mês. Se a demanda for alta, ela será fabricada em escala industrial e chegará ao mercado ao preço de US$ 19 mil.
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Fonte: ISTOÉ
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