Apesar do baixo orçamento e da caça por mais voluntários, as cerimônias de abertura e encerramento dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos do Rio de Janeiro não serão “simples, nem pobres”, mas sim “ricas e sofisticadas”, com direito a “experiências sensoriais”, afirmam os responsáveis pelos espetáculos.
A exatos seis meses para a abertura dos Jogos, a BBC Brasil visitou a sede da empresa onde 250 pessoas trabalham na criação dos espetáculos e também o Maracanã, palco dos quatro grandes shows que estarão sob os holofotes de todo o planeta e devem ser assistidos por mais de 3 bilhões de pessoas ao redor do mundo.
Segundo Flávio Machado, vice-presidente do consórcio Cerimônias Cariocas 2016, responsável pelos eventos, a visão do público, seja o presente no Maracanã ou aquele que assistirá ao show de casa, será bastante explorada. Mas garante que não ficará só nisso. “Tem pessoas que têm deficiência visual, então têm que perceber o espaço mais pela audição, por outros sentidos”, afirma.
Muitos dos detalhes das cerimônias de abertura dos Jogos do Rio devem permanecer guardados sob sete chaves, como é tradição em qualquer Olimpíada. A expectativa é que os nomes dos artistas participantes e os custos exatos não sejam divulgados.
Mas Machado levou a reportagem até o local onde as ideias têm sido concebidas, e explicou como o trabalho é feito.
Os shows, diz, “não esbanjarão” – terão orçamento muito menor do que os de Londres (2012) e de Pequim (208), por exemplo. “Até porque o mundo não comporta mais esse tipo de gasto, são outros tempos”, avalia.
Questionado sobre os impactos dos cortes de até 30% anunciados no orçamento do Comitê Rio 2016, ele, que também é produtor-executivo das cerimônias paralímpicas, afirma que as verbas para as cerimônias não sofreram redução. A ideia, conta, é apostar na criatividade, “usando o que o Brasil tem de melhor”.
Passado, presente e futuro
Machado adiantou que a cerimônia de abertura olímpica deve ter três etapas sobre o Brasil, mostrando a história, o presente e o futuro do país tanto da forma vista pelos brasileiros como pelo resto do mundo, e que o encerramento será “um grande Carnaval carioca” dirigido por Rosa Magalhães, carnavalesca cinco vezes campeã no Rio por diferentes escolas de samba.
“Na abertura temos todo o protocolo, a expectativa e a ansiedade. É um grande momento, sobretudo para os atletas. Já o encerramento é mais leve, festivo, é a hora de relaxar e comemorar. Vamos transformar o Maracanã num grande Carnaval carioca”, explica.
As cerimônias paraolímpicas serão centradas numa outra forma de mostrar os atletas, reforçando os “supersentidos” que eles desenvolvem e a alta performance atingida.
“Queremos fazer as pessoas repensarem o que elas entendem como deficiência, pois todos os seres humanos têm deficiências e imperfeições. Os Jogos Paralímpicos mostram pessoas com deficiências físicas atingindo a alta performance. Mostraremos isso também na cerimônia de abertura”, diz.
Flavio Machado diz que cerimônia de abertura não será simples, apesar do baixo orçamento
Números, maquete, expectativas
Dadas as dimensões grandiosas da Olimpíada, que deve atrair mais de 500 mil turistas e atrairá a atenção de todo o mundo, as cerimônias não poderiam ficar atrás.
Pelos túneis do Maracanã deverão passar 10,5 mil atletas olímpicos e 4,3 mil atletas paralímpicos de 206 delegações diferentes.
Para encenar as coreografias e apresentações artísticas e musicais, serão necessários 12 mil voluntários – dos quais 8 mil já se inscreveram. “Estamos confiantes, nunca achamos que isso seria um problema no Brasil”, diz Machado, acrescentando que sua equipe tem ido a locais de grande público no Rio para “caçar” interessados.
Ao todo, serão 500 horas de ensaios, 400 mil horas de trabalho e 10 mil figurinos. As equipes já fazem encontros semanais na Fundição Progresso, no centro do Rio, para testar coreografias, efeitos e ideias.
No passeio pelo galpão onde algumas das ideias da equipe criativa são concebidas, Machado mostrou à BBC Brasil uma maquete do estádio do Maracanã com cerca de 10 metros de largura.
“É útil para a gente poder testar tudo que está sendo desenvolvido e pensado aqui, para ver se realmente funciona na escala, e se faz sentido. Dá para testarmos projeções, elementos de grande porte, e assim temos uma noção muito mais próxima da realidade”, explica.
Maquete de 10 metros de largura ajuda diretores artísticos com conceitos das cerimônias dos Jogos
Maracanã
No passeio pelo estádio de verdade, Machado apontou algumas das dificuldades que a equipe enfrenta, como a largura dos túneis de acesso ao campo, o que deve tornar o desfile dos atletas um pouco mais longo do que o habitual nas cerimônias de abertura.
Ele explicou que o estádio será “transformado num teatro”. Serão usados 14 km de cabos, 2 mil canhões de luz e 3 mil kg de fogos de artifício.
“Teremos uma rede aérea de cabos para ser usada em acrobacias e apresentações”, diz.
Questionado sobre artistas e atrações musicais, Machado afirma não poder revelar nomes, mas adianta que ritmos como samba e bossa nova certamente estarão presentes.
Segundo o produtor-executivo, sua equipe está ciente da expectativa enorme sobre o trabalho, e espera criar “momentos memoráveis”.
“A gente busca fazer uma cerimônia que seja memorável. Queremos conseguir que pelo menos um momento das quatro cerimônias seja memorável, o que é um objetivo bastante ousado, mas estamos trabalhando para isso. Daqui a alguns anos, quando as pessoas lembrarem dos Jogos do Rio, provavelmente elas vão lembrar de algo que aconteceu nas cerimônias.”
Fonte: BBC