Ricardo Shimosakai – Alegria que contagia o mundo
Este texto foi escrito por Bianca Lanzelotti em 2007 para o quadro Pessoas Especiais do site da ONG Muito Especial. Apesar de ter sido feito a anos atrás, a maioria das respostas não se modificaram. Somente atualizei a pergunta sobre minha viagem à Europa, pois na época ainda eram planos de um sonho antigo, mas que já foi realizado. Então reproduzo abaixo a entrevista na íntegra:
Se uma palavra descrevesse o estudante de Turismo Ricardo Shimosakai, de 38 anos seria essa: Alegria. Bem humorado e batalhador, Ricardo luta para divulgar uma área pouco explorada, o turismo para deficientes. Vítima de um seqüestro relâmpago em 2001 que o deixou paraplégico, o paulistano tem muito a dizer. E a informar também. Ele tem um Blog com notícias sobre viagens e experiências vividas por ele, ou por colaboradores. Em julho deste ano se prepara para viajar sozinho pela Europa. Mesmo com tantos planos, Ricardo nos disponibilizou um pouco do seu tempo e muito da sua simpatia. Confira a nossa entrevista:
Muito Especial:Como aconteceu o seu seqüestro?
Ricardo Shimosakai: Um dia fui visitar colegas que trabalham no aeroporto de Congonhas. Fui seguido por ladrões que me seqüestraram. Como não tinha muito dinheiro na hora, pensei que eles ficariam com raiva e me matariam, então quando o carro parou em um farol, tentei fugir. O ladrão se assustou e atirou em mim.
ME: Você teve que lidar não apenas com a nova limitação física, mas também com a violência que haviam sofrido. Foi muito difícil aceitar a nova condição?
RS: Não foi difícil, eu sou o tipo de pessoa que deixa as coisas ruins no passado, vivo a alegria do presente e imagino pouco o futuro. Pensei “já que fiquei paraplégico, então é assim que vou ser feliz”. No hospital queria sair pra curtir a vida, a única coisa que impedia é que ainda não sabia como lidar com a parte física, mas a cabeça estava boa.
ME: Então você não precisou dar a volta por cima, estava lá e lá permaneceu!
RS: Não permaneci, subi mais ainda! E venho subindo cada vez mais (risos).
ME: Alguém ou algo ajudou na conquista desse bom humor?
RS: A família. Houve brigas no começo, mas depois consegui mostrar o caminho certo. Minha mãe, por exemplo, achava que andar de cadeira de rodas era fácil, até o dia que tentou andar. Foi até o quintal. Na hora de voltar para o quarto, caiu para trás, por causa de um degrauzinho minúsculo, que já tinha sido motivo de muita briga.
ME: Você sempre teve interesse por turismo?Esse espírito aventureiro?
RS: Sempre. Antes do acidente, viajei por países como Japão e fiz 50 dias por todo o nordeste. Depois percebi que viajar era muito difícil para deficientes. Então decidi abrir esse campo a todos que tem vontade, e mostrar aos que não acreditam que é possível.
ME: E qual é o objetivo do Blog?
RS: O objetivo principal do Blog é informar, isso é o mais importante para que tudo aconteça certo.
ME: A sua iniciativa passa uma mensagem para os próprios deficientes. É como se você dissesse “Nós podemos fazer!”. Essa é realmente sua intenção?
RS: Quero mostrar as pessoas também que deficiência não é limitação, mas uma característica pessoal. Quer ser feliz? Então vamos lá, depende muito mais de você! Viaje, pule de pára-quedas, faça o que tem vontade! Eu faço, e você pode fazer também.
ME: Você viajou em outubro de 2008 para a Europa sozinho, não é? Conte mais sobre isso.
RS: Era um sonho antigo. Tinha essa viagem quase pronta em 2001, mas houve o seqüestro, então adiei. Em 2006 estava tudo fechado com a CVC. Faltando uma semana, eles disseram “Sinto muito, mas você vai dar muito trabalho, então se quiser ir, arranje um acompanhante!”. Isso me deixou muito revoltado, entrei com uma ação contra eles. Mas vi que outras agências também são assim, só aceitam com acompanhante, ou falam que vão te deixar metade do roteiro encostado. Por isso decidi fazer a viagem sozinho.
ME: O que mais revolta você?
RS: Acho que a falta de respeito da sociedade. Muita gente não tem conhecimento das pessoas com deficiência, por falta de divulgação ou coisa do tipo. Agora aquelas que sabem e desrespeitam, como quem estaciona em vagas reservadas ou quando o elevador está lotado e as pessoas ficam só olhando, é revoltante. Desrespeito e descaso não deixam de revoltar nunca.
ME: O que antes você não respeitava e agora você condena?
RS: Muita coisa. Justamente por falta de informação, pois não tinha nenhum deficiente na família ou no círculo de amizades. Eu compreendo as pessoas que não auxiliam por não conhecer.
Fonte: Muito Especial
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