O filme espanhol ‘Cordas’ (Cuerdas), ganhador do Prêmio Goya 2014 na categoria ‘melhor curta-metragem de animação’, foi inspirado na vida do diretor, Pedro Solís. Sua filha, Alejandra, tem uma relação muito especial com o irmão, Nicolás, que sofre de paralisia cerebral.

Apesar de ter diálogos em espanhol, não é difícil de entender a história contada: María é uma menina alegre, que mora em um orfanato. Lá, ela conhece Nicolás (qualquer semelhança não é mera coincidência) e passa do estranhamento à amizade.

Nos agradecimentos, o diretor dedica o filme à filha, por ter inspirado a obra; ao filho, que ele desejaria nunca ter inspirado o trabalho; e à esposa, Lola, por todas as vezes em que ela não chorou na frente dele. Solís deixa ainda a mensagem: há cordas que não amarram; e sim, libertam. Se você quiser saber mais sobre o filme, visite a página no Facebook e o site: http://cuerdasshort.com/

‘Cordas’ encanta, mas oferece mais: uma oportunidade para conversar sobre deficiência com aquelas crianças consideradas ‘normais’. Essa pauta não é colocada com tanta frequência diante dos pais e mães, e isso tem consequências graves, muitas vezes invisíveis; mas que aos poucos ganham mais atenção.

A professora de educação física Maria Luiza Tanure Alves, que em 2013 se tornou doutora pela Unicamp com uma tese sobre estudantes com deficiência visual, ficou surpresa com os relatos de bullying de adolescentes cegos que frequentavam atividades esportivas nos ensinos fundamental e médio em São Paulo. Os alunos de 13 a 18 anos sofriam zombarias constantes, como perguntas do tipo “mas como você não está vendo aquilo?”. Travestidas de brincadeira, as ofensas deixaram marcas nos garotos entrevistados pela pesquisadora.

A pesquisa mostrou que esses alunos não se sentiam incluídos durante as aulas de educação física, pois tinham participação limitada nas atividades e se mantinham isolados do grupo. Luiza Tanure aponta que os professores de educação física têm papel fundamental no processo de inclusão dos alunos com deficiência. “Percebi que existe um círculo vicioso no sistema, uma vez que os alunos não são chamados a participar das aulas e, por conseguinte, não conseguem interagir com a turma. O professor acaba excluindo o aluno do processo quando não oferece a oportunidade de participação”, esclarece. Ou seja: o fato de colocar o aluno em sala não é o suficiente para que ele se sinta incluído no contexto escolar.

A professora destaca ainda que o levantamento apontou a barreira da aceitação por parte dos colegas. Nesse caso, o trabalho depende do envolvimento dos pais. “Durante a pesquisa, foi observado que fatores familiares interferem na aceitação das diferenças em sala de aula. O professor tem dificuldades para realizar uma intervenção mais pontual neste aspecto”, analisa. Na opinião da pesquisadora, que durante sete anos atuou como professora em escolas públicas, as políticas governamentais devem ter como foco a preparação profissional contínua e de qualidade, mas também um trabalho social, com mudança de valores, para mudar a forma de encarar a deficiência.

Mas como ensinar ao meu filho sobre a deficiência?
Ellen Seidman, do blog “Love That Max“ traz algumas dicas. Ela revela que, quando jovem, também zombava de um garoto com deficiência. Anos mais tarde, o filho dela, Max, sofreu um acidente vascular cerebral (AVC) durante o parto. Ele tem paralisia cerebral, assim como Nicolás, do filme Cordas. “De repente, eu tinha uma criança para quem outras crianças olhavam e cochichavam a respeito. E eu desejei tanto que seus pais falassem com elas sobre crianças com necessidades especiais”, desabafa.

Diante da escassez de orientações, Ellen conversou com pais de crianças com autismo, paralisia cerebral, síndrome de down e outras doenças genéticas para “ouvir o que eles gostariam que fosse ensinado aos outros pequenos sobre seus filhos”. Como a autora mesmo diz, as dicas que se seguem são baseadas em depoimentos e devem ser consideradas um guia, mas não uma ‘bíblia’ definitiva.

Fonte: Uai

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