Por Carlos Alberto Mattos

Pindorama foi primeiro um média-metragem premiado no edital Documenta Brasil Minc/SBT. Roberto Berliner descobriu o circo enquanto fazia um clipe no interior de Pernambuco. Com Leo Crivellare e o multi-artista da vanguarda pernambucana Lula Queiroga, decidiu filmar o cotidiano e as apresentações dessa trupe incomum, formada por oito irmãos, sendo sete anões, e seus cônjuges. Antes mesmo das câmeras serem acionadas, Lula Queiroga compôs as gostosas canções que pontuam o doc.

No filme, somos apresentados a cada um dos “pequenos” e presenciamos o funcionamento do circo, sua hierarquia, a divisão de funções dentro e fora do picadeiro, as relações de afeto e conflito entre eles e com os “grandes”. Tudo é graça, humor e aparente franqueza, mesmo quando o assunto são as rivalidades internas ou as limitações da baixa estatura.

A fotografia primorosa de Jacques Cheuiche, Beto Martins e Ricardo Castro Lima (os dois últimos de Recife) ressalta as tonalidades fortes desse espaço de exceção dentro da geografia sertaneja. E a edição de Leonardo Domingues reorganiza livremente os tempos, gerando momentos antológicos. Um deles é o relato polifônico de um caso amoroso com a deliciosa participação do próprio menino resultante – anão, naturalmente.

Os inevitáveis ecos fellinianos estão não apenas no objeto do filme – o circo, os anões, o misto de humor e ternura –, mas também na descrição de um espaço marcado pela afetividade. A procura do detalhe revelador, do ângulo expressivo, da luz sugestiva, da narrativa climática, tudo isso é riqueza da linguagem documental, que não depende necessariamente do espontâneo e da “imagem possível”. Pindorama é, antes de tudo, bom cinema, bom videoclipe, bom documentário.

O resto é piedade, preconceito ou exageros de correção política.

Fonte: Críticos

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