Um grupo de pessoas com deficiência visual participantes do Projeto Um Olhar para a Cidadania, na manhã desta terça-feira (09 de abril), na praça Pedro II em Teresina (PI), se propuseram a explorar a cidade, sua acessibilidade ou a falta dela. O que eles descobriram todo é o que qualquer pessoa que passa por ali já percebeu: Teresina não possui acessibilidade.
Buracos, piso irregular, degraus demais e muitos carros estacionados em locais inapropriados compõem o retrato do centro da cidade para quem anda a pé pelas suas praças e ruas. Tudo isso, para quem enxerga, é um obstáculo, mas para quem tem qualquer tipo de limitação, se transforma numa verdadeira armadilha, por vezes perigosa. “Investiu-se muito dinheiro na praça, mas deixaram-na sem acessibilidade para qualquer um que esteja passando por dificuldades, como idosos, cadeirantes ou mulheres com crianças”, afirmou Antenilton Marques da Silva, cego de nascença, que juntamente com outras dez pessoas com deficiência visual fizeram um passeio exploratório pela praça. “Todo obstáculo precisa ter base, a bengala não identifica tudo”, completou. Todos os alunos fazem parte do Projeto “Um Olhar para a Cidadania” que tem como objetivo potencializá-los a interagir com a sociedade, mostrando suas necessidades para mudar a realidade ao seu redor.
Marcos Barbosa – cego de nascença – com um celular posicionado na altura da testa faz fotografias dos colegas na aula passeio do Projeto Um Olhar para a Cidadania. “Quando usamos as tecnologias da informação e da comunicação como estratégia para o desenvolvimento das pessoas com deficiência visual, acreditamos que estas podem ser agentes de transformação da sua própria realidade.”. comenta Jessé Barbosa, coordenador do projeto Um Olhar para a Cidadania.
Por causa da falta de acessibilidade, um cego tem dificuldade em encontrar o orelhão na Praça Pedro II. Em muitos momentos só a bengala não foi suficiente para alertá-los dos perigos. Um guia que os acompanhava, os alertava. “São muitos problemas: buracos, obstáculos sem guia… Até mesmo uma árvore seca, com seus galhos salientes sem proteção, pode ferir gravemente um cego”, acrescentou Antenilton.
No passeio à praça foi possível também visitar o Teatro 04 de Setembro. Fazendo a exploração nas suas instalações a sensação foi a mesma: o local não possui também qualquer tipo de acessibilidade. “Sinto que a cidade não tem acessibilidade. É para quase ninguém andar”, afirmou Marcos Soares, que também é cego de nascença do grupo que registrou todo o passeio com seu celular, através de fotos que também ilustram essa matéria. “As pessoas, principalmente as autoridades, têm que entender que a acessibilidade é para todos: para o cadeirante, para uma mãe com um carrinho de bebê, um idoso ou alguém que está com uma impossibilidade física momentânea. As pessoas têm essa tendência de ignorar o diferente”, lamenta o estudante
Para as pessoas com deficiência visual que fizeram parte do passeio a falta de rampas na praça é o que de mais urgente deve ser modificado. Já o Teatro teria que ter diversas alterações, além das rampas, espaço para cadeiras de rodas e a possibilidade de um elevador para dar acesso aos outros andares.
Fonte: Um Olhar para a Cidadania