Passeios culturais com acessibilidade ainda é um grande desafio para as pessoas com dificuldade de locomoção
Por Marjorie Ribeiro
Três vezes por semana, Leandro Mendes sai de casa cedo para visitar empresas de transportes metropolitanos do Rio de Janeiro. O jovem de 28 anos teve paralisia cerebral ao nascer e o motivo que o faz ir de Jacarepaguá até Niterói é concluir a apuração do número de ônibus adaptados para deficientes. “Nem todo cadeirante do Rio tem acesso a todos os lugares, como minha deficiência não me impede de andar eu abracei a causa”, explica.
Em 2004, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, sancionou a lei que previa a adaptação progressiva dos ônibus para a circulação e acomodação de deficientes, mas muitas empresas ainda não ajustaram seus veículos. Enquanto isso, as pessoas com deficiência reclamam não só das dificuldades no transporte público, mas também dos problemas de acesso aos espaços públicos e privados.
“A maioria dos lugares contam somente com escadas, faltam rampas em muitos teatros e cinemas”, salienta Leandro. Outro alvo de críticas são os banheiros, com portas estreitas ou pesadas demais, e as calçadas, sem dimensões adequadas para uso de cadeirantes e nem condições necessárias que permitam a mobilidade de deficientes visuais.
Um estudo realizado em julho de 2009 pela RedeTuris – Rede de Desenvolvimento do Turismo Sustentável do Rio de Janeiro revelou a estrutura inadequada de pólos históricos, culturais e gastronômicos do estado. Todos os 116 estabelecimentos pesquisados em Botafogo, Tijuca, Novo Rio Antigo e Praça XV receberam nota zero, já que não atendiam ao mínimo de acessibilidade.
Tratamento diferenciado
Renato Costa, que mora na capital paulista e tem deficiência física há seis anos, ressalta que mesmo quando há locais reservados para o uso de deficientes, não há a preocupação com o bem-estar. “No cinema, as cadeiras disponibilizadas são em frente à tela, próximo ao corredor, locais que não são escolhidos pelos outros frequentadores”, afirma. Segundo ele, isso ocorre também nas casas de shows, onde tampouco se leva em conta se o cadeirante tem a visão plena do palco.
Por motivos como esses é que Renato adquiriu o costume de ligar antes de ir a qualquer lugar, para saber qual é o seu nível de acessibilidade. Mesmo assim, conta que já houve ocasiões em que foi até o local e desistiu ao chegar e perceber que não havia a mínima possibilidade de se locomover. “Isso gera um contra-senso, são espaços que promovem a diversidade cultural, mas que não dão um tratamento igual a seu público”, acredita.
Para ele, é preciso trabalhar a acessibilidade não só na questão arquitetônica como forma de cumprir a lei mas, sim, com um olhar humano e igualitário. “Do jeito que está só mostra que o espaço é que está deficiente e não a pessoa”, complementa.
A passos de formiga
A boa notícia é que o nível de conscientização tem aumentado nos últimos anos e espaços culturais são construídos com estruturas para pessoas com diversas deficiências, como é o caso da nova Biblioteca de São Paulo. Inaugurada no começo deste ano, ela conta com elevadores, mesas de leitura adaptáveis para cadeirantes, áudio-livros, leitores autônomos e impressoras que transformam obras em braile.
Mas o Secretário Estadual da Pessoa com Deficiência de São Paulo, Marco Pellegrini, admite que há muito trabalho a ser feito. “Ainda existem barreiras atitudinais na sociedade, que não enxergam as pessoas com deficiência como consumidoras e detentoras de direitos plenos. Apenas no estado de São Paulo, são cerca de 4 milhões de pessoas com deficiência que encontram dificuldades para ter acessibilidade plena nos espaços”, afirma.
Com o intuito de conscientizar os gestores municipais sobre a importância do tema, a Secretaria do Estado da Pessoa com Deficiência promove audiências e eventos durante o mês de agosto por meio da Caravana da Inclusão, Acessibilidade e Cidadania. Isso porque, segundo Pellegrini, a maior parte das políticas públicas de acessibilidade são tratadas no âmbito do Município.
Enquanto isso, Leandro Mendes continua contando os ônibus e espera ansiosamente para o dia em que a apuração de veículos adapatados seja o mesmo do total da frota. Nas horas vagas, participa da ONG Adaptsurf, que promove o banho de mar e surf adaptado a pessoas com mobilidades reduzidas. Porque aproveitar as praias cariocas também é direito de todo cidadão, com ou sem deficiência. E faz muito bem, obrigada.
Fonte: Guia da Semana
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