Em oito capítulos, qualquer pessoa vai conseguir entender como pode ser complexo o convívio com um adolescente autista, os reflexos dessas dificuldades na família, a necessidade de um sistema educacional efetivamente inclusivo, mesmo em sociedades ricas como a americana. Com cuidado, realismo e muita sutileza, a comédia-dramática retrata exemplarmente como precisamos avançar para garantir mais qualidade de vida aos deficientes.
A história gira em torno do jovem Sam Garner, vivido pelo ator Kier Gilchrist, um autista de 18 anos, que busca levar a vida em meio às dúvidas normais da idade, que se somam à superproteção da mãe e às dificuldades de integração.
Sam é ingênuo, interpreta tudo literalmente e se sente angustiado por não entender o que é o amor. Ele passa por situações engraçadas, e outras nem tanto, que demonstram o universo desafiador que cerca os autistas. Uma das qualidades da série é mostrar o ambiente familiar como um todo, quase sempre esquecido nas discussões, e até mesmo pelo poder público, que leva em consideração apenas o deficiente, deixando em segundo plano o ambiente que o cerca.
Não é a primeira vez que o autismo vira tema de destaque em séries e filmes, mas certamente essa é uma excelente representação desse universo. A diferença é que “Atypical” mostra claramente que a sociedade precisa abraçar a família como um todo, que os portadores do espectro tem muito a oferecer, que as escolas precisam se adaptar e o mundo ser mais aberto e tolerante.
E a beleza da série é relatar isso com leveza e responsabilidade, sendo uma ótima oportunidade para se ter contato com uma realidade, cada vez mais crescente no mundo.
No momento, além de Atypical, os brasileiros podem tentar entender o universo autista através de Bené, personagem da jovem Daphne Bozaski, em Malhação, que como Sam tem dificuldades em se comunicar, interpreta tudo literalmente e não consegue mentir.
Sam e Bené são ótimos exemplos que estão no nosso dia-a-dia, e boa parte da sociedade insiste em tornar invisível. Só que eles estão entre nós, são reais e procuram e querem ocupar seus espaços. Duas boas lições para se ver, curtir e aprender com elas.
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