A raiz latina já indica: empreender está ligado a tentar fazer tarefa difícil. Quase 500 anos depois de a palavra ter entrado para o português, a burocracia, os entraves legais, a concorrência acirrada e os impostos dão razão à etimologia: abrir o próprio negócio é lançar-se numa empreitada trabalhosa. Pouco mais de 1 em cada três brasileiros adultos (18 a 64 anos) arriscam-se a dar esse passo, segundo a pesquisa Global Entrepreneurship Monitor, feita no Brasil pelo Sebrae e pelo Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade. São batalhadores que veem oportunidades onde os outros só enxergariam dificuldades.
É o caso de Ricardo Shimosakai, um apaixonado por viagens e que, assim como outros 10 milhões de empreendedores em todo o país, busca mostrar à sociedade a sua importância, na data que celebra o Movimento Compre do Pequeno Negócio.
Em 2001, depois de temporada no Japão, ele voltou ao Brasil para buscar um rumo para sua vida, já aos 33 anos. A recepção não podia ser pior: mal retornou da Ásia, foi vítima de um sequestro relâmpago, levou um tiro e ficou paraplégico.
O gosto por viajar, porém, falou mais alto. Ele percebeu, em sua nova condição, que havia muitas dificuldades para pessoas com deficiências físicas. “Às vezes eu até encontrava hotéis e transportes adaptados, mas sempre havia problemas em uma das etapas do passeio.”
Ele teve de montar os próprios roteiros para superar os obstáculos. Amigos começaram a pedir dicas e depois a incentivá-lo a criar um negócio voltado para turismo adaptado. “Os pacotes convencionais são congelados, e as pessoas muitas vezes, têm limitações muito específicas. Não havia empresas especializadas nesse público”, afirma.
Seguindo o conselho dos colegas, Shimosakai ingresso na faculdade de Turismo em 2004 e criou a Turismo Adaptado, empresa paulistana especializada em pacotes voltados às limitações dos clientes. “Recebemos o pedido e checamos a viabilidade de acordo com essas limitações. Caso não seja possível, sugerimos outros destinos.”
A empresa agora é procurada também por turistas com outros tipos de limitações, como deficientes visuais, auditivos, idosos e até pessoas que fazem hemodiálise ou sofrem de insuficiência pulmonar e precisam andar com um cilindro de oxigênio.
A Turismo Adaptado já organizou excursões para lugares como Paris, Machu Picchu, Porto de Galinhas e Buenos Aires. “Fazer um roteiro adaptado vai além de colocar uma rampa de acesso. Há destinos, como Bonito (MS), onde não é possível fazer isso no meio da natureza. Por isso, nós também capacitamos guias para lidar com essas situações, saber carregar um cadeirante e coloca-lo em um bote ou se comunicar em Libras para orientar um deficiente auditivo.”
Fonte: Estadão