Vida nova

28 de fevereiro de 2001. O empresário Ricardo Shimosakai nunca se esquecerá do dia em que sua vida mudou para sempre. Foi questão de minutos. Ele caminhava pela calçada do Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, quando foi abordado por um grupo armado e colocado à força dentro de um carro. Talvez quisessem “só” leva-lo para sacar dinheiro em um caixa eletrônico. Na dúvida, contudo, aproveitou o primeiro semáforo e tentou fugir. Quando ouviu o barulho do tiro e caiu no asfalto, notou que tinha feito a escolha errada. No hospital, salvaram-lhe a vida, mas não o movimento das pernas. Ricardo ficou paraplégico.

A vida mudou. O paulistano precisou desacelerar a rotina agitada de trabalho e viagens para enfrentar três meses de tratamento e reabilitação, mas, em nenhum momento, viu sua nova condição como uma derrota. “Queria descobrir formas de retornar minha vida, considerando a minha nova condição. Tomei a decisão de ser feliz mesmo em uma cadeira de rodas”, conta. A primeira descoberta foi o tênis de mesa para cadeirantes. Ricardo aprendeu não só um novo esporte, como fez um novo grupo de amigos, com quem começou a viajar para disputar campeonatos. “Nesse período aprendi duas lições valiosas: eu precisaria ser forte e, com essa força, venceria quaisquer dificuldades que viriam.”

Já que teria forças para encarar qualquer desafio, decidiu tentar realizar um sonho. Louco por viagens, resolveu fazer turismo sua profissão e, na sua nova condição, acabou descobrindo uma oportunidade. Em 2004, prestou vestibular, ingressou na faculdade de turismo e passou a investigar o universo do turismo adaptado. Viu que havia muito mais possibilidades do que imaginava, mas pouca gente explorando-as no Brasil. Foi então que criou sua própria agência e passou a atender pessoas com deficiências físicas ou mentais que queriam viajar. Gente como ele, o que o ajudou a entender a situação do cliente e buscar as melhores soluções. “Meu trabalho é pegar a história de cada pessoa, ver o que ela busca e montar um quebra cabeça com as peças que tenho. E um serviço constante de empatia”, explica.

Graças à atuação pioneira da agência Turismo Adaptado, diversos hotéis e atrações turísticas no Brasil estão abrindo os olhos para o potencial do público e investindo em acessibilidade: rampas, elevadores, estrutura adequada para cães-guia, audiodescrição para deficientes visuais, etc. Ricardo comemora cada pequena vitória, sempre com muito otimismo. “Se eu não acreditasse no melhor, desistiria amanhã mesmo.”

Fabricando felicidade

A história de Ricardo faz lembrar uma pesquisa interessante, realizada em 1978, que investigou a variação do nível de felicidade de ganhadores da loteria ao longo do tempo. A conclusão foi que, um ano após ficarem milionários, eles voltaram a ser tão felizes quanto eram antes do prêmio. A mesma coisa foi constatada com pessoas que ficaram paraplégicas: um ano depois do baque, elas estavam tão bem (ou mal) quanto antes de perder os movimentos. Ou seja, passada a variação inicial da grande mudança (positiva ou negativa), a felicidade tende naturalmente a voltar ao mesmo nível anterior – a não ser que, como o Ricardo, tenhamos consciência do que podemos produzi-la. Isso mesmo: felicidades se cria, em qualquer circunstância.

Quem garante isso é o psicólogo Daniel Gilbert, professor da Universidade de Harvard e autor do livro ‘O que nos faz felizes’. “Nós sintetizamos felicidade! Mas a maioria acha que ela tem que ser encontrada”. E mais: segundo ele, por incrível que pareça, os melhores momentos para fabricar felicidade são aqueles em que as coisas fogem do nosso controle. “Temos um sistema imunológico emocional que funciona muito melhor quando estamos presos em alguma circunstância. Nessas situações somos obrigados a procurar novos caminhos para sermos felizes”. Difícil de acreditar? Então conheça melhor os estudos de Daniel Gilbert assistindo a sua palestra no evento TED Talks: bit.ly/felicidadefabricada

Fonte: Revista Sorria

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