Mercado de trabalho mais inclusivo. Como pensar além da Lei de Cotas.

Man climbs CN Tower steps in wheelchair

Escrito por Ricardo Shimosakai

8 de agosto de 2022

Mercado de trabalho mais inclusivo. Este texto é parte do artigo escrito por Flávia Arakaki, do time de marketing do CIVIAM, e publicado no blog da empresa em maio de 2022, em comemoração ao Dia Internacional do Trabalho. O vídeo no final, é parte de uma campanha feita para a Vale.

Apesar da inclusão social e a acessibilidade estarem cada vez mais em pauta nas grandes empresas, a existência da Lei de Cotas para Pessoas com Deficiência (8213/91), que exige que empreendimentos a partir de 100 funcionários tenham um número mínimo (de 2% a 5%) do total de colaboradores com deficiência em seus quadros, ainda está longe de cumprir a verdadeira função da sua origem: permitir a inclusão social ao dar a real oportunidade de emprego às pessoas com deficiência.

Ricardo Shimosakai, especialista em acessibilidade, inclusão e turismo, palestrante, consultor, professor de pós-graduação e cursos de MBA (Master in Business Administration) em Hotelaria de Luxo e referência em acessibilidade funcional, é cadeirante e ressalta que a Lei de Cotas contempla apenas uma pequena parcela da realidade do mercado de trabalho, uma vez que é voltada apenas às grandes empresas, enquanto exclui todas as demais. “A grande maioria das empresas existentes no mercado brasileiro é de pequenas e médias organizações, ou seja, com menos de 100 funcionários no quadro de empregados, o que já as exclui das exigências das contratações de pessoas com deficiência. É por isso que até mesmo o SEBRAE incentiva o empreendedorismo para as pessoas com deficiência, mas vale lembrar que empreender em nosso país é desafiador”, pondera.

De acordo com Shimosakai, a acessibilidade no mercado de trabalho para que ocorra a inclusão social vai muito além das normas da ABNT. “É por isso que uso o termo ‘acessibilidade funcional’, pois, as empresas costumam seguir apenas as regras e normas da ABNT e nem sempre estas são funcionais para a pessoa com deficiência. É preciso validar a acessibilidade com as próprias pessoas com deficiência, que serão as usuárias do local que se diz acessível. Além disso, outra questão é que, muitas das vezes, a acessibilidade nas empresas é resumida apenas a rampas de acesso, mas, na realidade, vai muito além disso e está relacionada a detalhes que aos olhos de quem não tem deficiência passam despercebidos, como largura de portas, altura de mesas; botões de acesso de elevadores, piso tátil, banheiros acessíveis (nos quais as pessoas devem ter autonomia de verdade para utilizá-los)”. Ricardo diz que essas são algumas das muitas questões que corriqueiramente analisa em consultorias in-company.

Além disso, o especialista promove treinamentos de equipes para saberem lidar com as pessoas com deficiência, que, segundo ele, trata-se de uma questão cultural e, por isso, exige que, cada vez mais haja capacitação sobre o tema para que sejam combatidos o preconceito, o capacitismo e olhar diferenciado à pessoa com deficiência dentro dos ambientes corporativos. “Logo no início do local, é preciso que as pessoas saibam receber as pessoas com deficiência de forma correta e para isso é preciso que haja treinamento de equipes e, para isso, uma mudança comportamental da organização”, explica.

Shimosakai cita os benefícios às empresas quanto à contratação de pessoas com deficiência, que “além da convivência, que proporciona a diversidade, as pessoas passam a nos enxergar como iguais e não como pessoas diferentes”, explica. Até por isso que o especialista, por conversar com muitas pessoas com deficiência, incentiva a vida social, mesmo com as dificuldades da acessibilidade. “Muitas vezes quando eu saía na rua, as pessoas ficavam me olhando como se eu fosse alguém de outro mundo. Por isso é importante que sejamos vistos mais vezes para que não nos estranhem e nos olhem com normalidade. Além disso, diversos colegas cadeirantes desanimam com a falta de acessibilidade que encontramos nas ruas, em estabelecimentos e acabam até mesmo preferindo ficar em casa do que enfrentar tais dificuldades. Mas eu sempre digo que nós devemos nos desafiar e irmos onde quisermos e, caso encontremos barreiras em estabelecimentos, por exemplo, que façamos a nossa parte de relatar, de modo cordial, com os donos e gerentes, informando os entraves da acessibilidade. Se a pessoa for inteligente, ela promoverá a melhoria daquele local para que a pessoa com deficiência possa voltar e outros clientes com deficiência também possam desfrutar daquele local quando estiver acessível. Mas, caso ela não esteja aberta a promover a inclusão em seu estabelecimento, quem deixará de lucrar será ela, pois estará restringindo o seu atendimento”.

Shimosakai diz ainda que outro grande equívoco que o mercado de trabalho enfrenta é realizar projetos de acessibilidade deixando de lado as pessoas com deficiência. Por ser especialista em acessibilidade, inclusão e turismo, o empreendedor foi solicitado a fazer a análise de um empreendimento turístico que havia feito adaptações a quartos para pessoas com deficiência, porém, não estava recebendo reservas. “O projeto tinha sido desenvolvido por uma arquiteta especializada em acessibilidade. No entanto, ao analisar o que acontecia com aquele quarto, constatei que a especialista, ao invés de manter cama de casal, talvez para ganhar espaço para a locomoção de uma cadeira de rodas, resolveu substituir por uma cama de solteiro. Pessoas com deficiência costumam se hospedar acompanhadas, seja por necessidade de ajuda do acompanhante ou conveniência de estar ao lado de seu companheiro, amigo ou familiar e, por isso, o projeto não agradou aos hóspedes com deficiência. Por isso que sempre ressalto: se a pousada tivesse contratado pessoas com deficiência para participarem do projeto antes, teriam aplicado as nossas considerações, que são as nossas necessidades básicas para uma estadia”, analisa.

Por isso, Shimosakai enfatiza que as empresas façam pesquisas de mercado com as próprias pessoas com deficiência. “Falamos tanto em inclusão, mas estamos a passos lentos para que a sociedade comece a nos incluir de fato. Que as empresas possam perceber o quanto precisam evoluir nessa questão, dando a oportunidade às pessoas com deficiência e vendo o quanto podemos agregar com nossas expertises, experiências de vida e, assim, contribuir para uma acessibilidade funcional e não a acessibilidade das normas. E essa é a nossa grande luta”, diz.

Shimosakai, que se tornou cadeirante aos 33 anos após receber um tiro ao tentar fugir de um sequestro relâmpago, também realiza palestras técnicas e motivacionais e fala sobre a importância da aceitação – um dos grandes segredos para vivermos a vida com leveza e felicidade. “Muitas pessoas me perguntam como eu aceitei a condição de ser cadeirante ainda jovem. Logo no hospital, eu passei a entender que nada mudaria aquela situação e ficar lamentando o ocorrido só pioraria. Então passei a aceitar o que tinha acontecido e a pensar e a planejar o dali em diante. E aceitação é o grande segredo que muitas pessoas com deficiência não entendem e que é a grande virada de chave para vivermos em busca do que nos faz feliz. Por isso, passei a me adaptar à nova condição e ver como eu poderia continuar fazendo o que mais amava, que era viajar e, por isso, tornei-me referência em turismo adaptado. Descobri ainda nos esportes, como no tênis de mesa, a forma de voltar a ter motivação com a competição, a dar o meu melhor e a socializar com outras pessoas na mesma condição que a minha. Assim aprendi a levar a disciplina e o senso da competição para o meu dia a dia, para cada desafio que preciso enfrentar. Por exemplo: se tenho a meta de ir ao mercado, quais são os meus grandes competidores hoje? Os obstáculos que encontro na rua, as prateleiras altas que não são acessíveis, entre outros. E então, sem desanimar por conta dos obstáculos e com foco nos meus objetivos, é que vou adaptando as ferramentas que tenho hoje e enfrentando cada barreira. Por isso, o que oriento é que as pessoas com deficiência busquem sempre como melhorar as suas condições hoje para que consigam praticar atividades que as façam felizes!”.

O especialista oferece ainda cursos on-line de acessibilidade e inclusão. As empresas interessadas em consultoria, treinamentos, palestras e cursos in-company podem entrar em contato pelo celular (11) 99854-1478 ou por e-mail: [email protected]
Instagram: @ricardoshimosakai/ @turismoadaptado
YouTube: www.youtube.com/ricardoshimosakai
Site: www.ricardoshimosakai.com.br

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