Libras e surdez em Malhação. Mostrando o mundo dos surdos na juventude.

por | 1 set, 2019 | Turismo Adaptado | 2 Comentários

Silêncio e sons se afinam no mesmo tom, em “Malhação”, para gritar numa só voz — emitida pela linguagem oral ou de sinais — que a surdez é invisível, mas os surdos, não. Na novela, Giovanna Rispoli interpreta a deficiente auditiva Milena, paciente e amiga da fonoaudióloga surda Sara, personagem vivida por Tatá Cordazzo, atriz que perdeu a capacidade de ouvir com poucos meses de vida.

A mensagem de inclusão e representatividade transmitida em cena e fora dela proporciona às artistas uma rica troca de experiências, com direito a ensinar e aprender a lição de que é preciso combater diariamente o preconceito que insiste em assombrar tanto na ficção quanto na vida real.

— A sociedade não tem conhecimento desse universo da surdez, como eu também não tinha. Isso precisa mudar! Fico feliz quando alguém me conta que começou a fazer curso de libras por causa da minha personagem. Bate uma sensação de dever cumprido. Antes de contracenar com Tatá, só tinha entrado em contato com surdos que preferem usar as libras, mas ela me mostrou a outra parte da comunidade, os que falam. Milena é uma mistura porque sinaliza e oraliza — diz Giovanna, de 17 anos, em referência a sua personagem em “Malhação”.

Foi com o auxílio de um aparelho auditivo que Tatá começou a escutar aos 5 anos e, pouco a pouco, a desenvolver a fala através de sessões de fonoaudiologia. A deficiência auditiva não a impediu de acreditar que seria possível seguir carreira artística.

— Sempre sonhei fazer novela. Até achava que era uma realidade um pouco distante, mas nunca associei uma eventual incapacidade à minha surdez. Existem barreiras na profissão por conta da deficiência, mas em “Tempo de amar” (2017), por exemplo, participei do elenco de apoio e minha personagem (Aline) não era surda. Espero que surjam novos convites para eu fazer personagens ouvintes, mas também me sinto feliz com papéis de deficientes auditivas, já que essa é uma chance de dar visibilidade aos surdos e combater o preconceito — explica a atriz de 30 anos.

Giovanna Rispoli e Tatá Cordazzo dividem a cena em “Malhação”

Na trama, Milena não é discriminada e leva uma vida normal. Já Tatá reconhece que, no passado, sentiu o peso de não ser exatamente igual às outras meninas.

— A adolescência é cruel, porque nessa fase é complicado ser diferente. Apesar de ter me sentido isolada em muitos momentos, sempre aceitei minha deficiência. Mas, infelizmente, muitos jovens têm vergonha de usar o aparelho auditivo. A deficiência não pode limitar nossos sonhos. Como todo mundo, a gente pode amar, viver e se divertir — frisa a intérprete de Sara.

A responsabilidade de ser uma porta-voz dessa causa é motivo de muito orgulho para Giovanna:

— Milena me trouxe um olhar mais sensível e alegre perante o mundo.

Surdez sem preconceito

Autora do livro “Crônicas da surdez”, palestrante e criadora do site surdosqueouvem.com.br, a deficiente auditiva Paula Pfeifer, que ouve através do implante coclear — dispositivo eletrônico que visa a proporcionar a seus usuários sensação auditiva próxima ao fisiológico —, foi quem deu a ideia à equipe de “Malhação” para que uma atriz surda fosse escalada para atuar na trama.

— Minha sugestão foi para que prestassem atenção nas atrizes que têm deficiência auditiva na vida real, especialmente em Tatá, que havia acabado de fazer uma novela na Globo (“Tempo de amar”, de 2017). É muito poderoso quando você se vê de fato representado na TV — frisa.

Paula aplaude a iniciativa de “Malhação” em dar visibilidade ao dia a dia absolutamente comum das pessoas que têm deficiência auditiva:

— É importante mostrar numa novela que surdos ouvem, falam, fazem tudo! Também sugeri que atentassem para a diversidade da surdez e ajudassem a quebrar mitos como os de que “todo surdo é mudo”, “todo surdo usa libras”… A tecnologia já é capaz de fazer uma pessoa com surdez profunda voltar a ouvir, como é o meu caso, com meus dois ouvidos biônicos. Isso é maravilhoso!

Fonte: Extra

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2 Comentários

  1. anasouzabianchin

    sou Fonoaudióloga , hoje Fonoaudióloga cadeirante devido um acidente, já aposentada, mas a inclusão sempre foi e sempre será a META.
    Parabéns as pessoas que se dedicam e se identificam com essa causa, por eles , por nós.

    • Ricardo Shimosakai

      Então, parabéns para nós!

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