Jovens com deficiências intelectuais encontram nas oficinas de férias da Escola de Frevo do Recife uma maneira de se incluir na sociedade. O exercício produz benefícios para a saúde física e mental, conforme indicam especialistas e familiares. Além do mais, eles podem dançar o ritmo mais popular do Carnaval pernambucano como qualquer outro folião. O sorriso no rosto chama muito mais a atenção que qualquer descompasso.

Maria Anita da Silva é mãe de Janaína Silva, 21 anos, uma das alunas mais desenvoltas. A jovem tem síndrome de Down, uma deficiência intelectual causada por uma alteração genética. “Quando ela nasceu, senti um preconceito com o pessoal do meu trabalho, o povo dizia que ela não ira durar muito”, contou Anita.

Janaína “freva” em cima das previsões negativas. Criada desde cedo no meio de outras crianças, ela se mostra independente e bastante sociável. “Ela adora dançar e quando soube da escola [de frevo], eu fiz a matrícula. Ela já está aqui há cinco anos”, contou a mãe.

Também com síndrome de Down, Ítalo Vinícius, 14 anos, extrapola as oficinas de férias e frequenta as aulas ao longo do ano. Já está na Escola de Frevo há dois e mostra que aprendeu vários passos, inclusive os que incluem agachamentos e uso da sombrinha para o equilíbrio do passista. “Com a dança ele ganhou mais coordenação motora, melhorou a linguagem, ficou mais social, perdeu mais a vergonha”, comentou a mãe do rapaz, Sheila Rodrigues.

A dona de casa Maria Cremilda da Medeiros sempre leva a filha Priscila Souza, 23 anos, às aulas. A aluna, que tem síndrome de Down, é vaidosa, quis se maquiar para as fotos do G1 e demonstrou postura de bailarina profissional, soltando até beijinhos para a plateia que a assistia.

Cremilda também acompanha os irmãos Tibo Rafael, 20, e Osvaldo Batista, 23, que moram próximos à casa dela. Ambos têm deficiências intelectuais, que ela não soube especificar. “Eles começaram a frequentar [a escola] há pouco tempo e já percebo que estão menos deprimidos. Antes, só iam para a escola”, relatou.

O aluno Josano Araújo, 24 anos, é o que alcança maiores alturas nos saltos do frevo. As pernas longas e o corpo sequinho ajudam. Além do mais, esse jovem, que tem o que os médicos chamam de “retardo mental indeterminado”, é um folião nato. Aprendeu as malícias do frevo na rua, seguindo blocos que desfilam no bairro de Rio Doce, em Olinda, onde mora. “Ele ama dançar, ama Carnaval, não pode ouvir uma lata batendo que já está dançando, todo feliz”, apontou a mãe Maria das Graças de Araújo.

O professor Werison Fidelis orgulha-se de cada progresso dos alunos. “Antes, a aula era mais lúdica, marcava o lugar de cada um no chão, usava fitas para mostrar cada caminho, até nariz de palhaço coloquei. Hoje, a aula é como de uma turma regular. O mais difícil é fazê-los assimilar as lições, por isso observo e depois interfiro. Ao mesmo tempo, parece que eles gostam mais do frevo. Muito alunos chegam aqui para aprender por sonho dos pais. Eles não, vêm porque querem mesmo”, disse.

A médica geneticista Paula Arruda explica os benefícios da dança. “Para qualquer criança, especial ou não, tem a questão da socialização, pois é um grupo interagindo entre pares. A criança dançando, se vendo no espelho, cria independência, autopercepção, tem uma sensação de liberdade, mais autoestima e segurança, porque nas apresentações são aplaudidos. Além do mais, elas gostam das cores do frevo, das acrobacias, dos símbolos, ainda cria um sentimento de pernambucanidade”, afirmou.

A médica faz um alerta para os que têm síndrome de Down. “O Down é musical, nasceu para bailar. É preciso ter cuidado apenas com o quadril e os joelhos, porque eles são ‘frouxinhos’, têm flacidez, uma frouxidão interligamentar. Antes de dançar, é necessário um parecer da ortopedia infantil”, informou.

As pessoas com síndromes, autismo, transtornos e outras deficiências intelectuais são incluídos em turmas regulares. Os cursos e oficinas são gratuitos. A Escola de Frevo Maestro Fernando Borges fica no bairro da Encruzilhada, na Zona Norte do Recife. Outras informações podem ser obtidas pelo telefone (81) 3355.3102.

Fonte: Vida Mais Livre

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