Jogador de xadrez cego participa de torneio em Maringá
Em qualquer competição esportiva, naturalmente os holofotes se voltam aos principais atletas, que estão disputando os primeiros lugares da tabela. No entanto, durante o Aberto do Brasil Victor Adamowski – torneio de xadrez que está sendo realizado em Maringá desde a última sexta-feira (1º) -, um enxadrista desperta a curiosidade e a admiração de todos que acompanham o evento, independentemente dos resultados.
Crisolon Terto Vilas Boas, 52, possui deficiência visual total e veio de Belo Horizonte (MG) para participar do torneio em Maringá. Atual campeão brasileiro na categoria de deficientes visuais, Vilas Boas traz no currículo seis títulos nacionais, além de participações em três Olimpíadas para deficientes visuais e três Campeonatos Mundiais. “Já visitei 27 países diferentes participando de torneios de xadrez. Dos continentes, só não conheço a Oceania”, revela.
Para possibilitar que o xadrez seja praticado por deficientes visuais, a FIDE (Federação Internacional de Xadrez) criou algumas adaptações.
O tabuleiro para deficientes visuais possui as casas perfuradas, permitindo que as peças se encaixem no centro de cada uma, além das casas pretas em alto relevo, para se distinguir das brancas.
Para diferenciar a cor das peças, existe um detalhe semelhante a um pino em cima das peças brancas, destacando-as das pretas.
“Em torneios oficias, onde é exigido dos atletas o preenchimento de uma súmula de cada partida com todos os lances descritos, o deficiente visual narra as jogadas e as registra em um gravador”, explica o árbitro Pedro Caetano, chefe da equipe de arbitragem do Aberto do Brasil Victor Adamowski.
Adversários colaboram
Durante uma partida, Vilas Boas arma seu tabuleiro adaptado ao lado do tabuleiro oficial e apenas narra seu lance ao adversário, que movimenta as peças por ele. De acordo com o enxadrista, o método não deu certo apenas uma vez. “Em um torneio em Minas Gerais, há alguns anos, eu joguei contra um surdo. Aí tivemos de contar com a ajuda de um árbitro para intermediar a comunicação entre nós”.
Para o enxadrista, a maior dificuldade do deficiente visual no xadrez é durante o treinamento. “Um atleta de visão normal tem a vantagem de poder acompanhar as partidas visualmente, utilizando os programas de xadrez no computador. Eu preciso acompanhar no tabuleiro [adaptado]”, afirma Vilas Boas, atualmente treinado pelo Mestre Internacional Roberto Molina, que também está disputando o torneio em Maringá. “Ele [Vilas Boas] é um apaixonado pelo jogo, tem determinação, aprende rápido”, avalia Molina.
Na primeira partida, um Grande Mestre pela frente
Na primeira rodada do Aberto do Brasil Victor Adamowski, Crisolon Terto Vilas Boas enfrentou o Grande Mestre Alexandr Fier, 23, um dos principais enxadristas da competição.
A vitória acabou ficando com Fier, que não deixou de exaltar o adversário. “O fato do Crisolon e de outros jogadores com deficiência visual estarem participando de torneios, jogando um esporte que gostam independente das dificuldades, já é uma vitória”.
Normalmente atraindo uma aglomeração de curiosos em torno da mesa onde está jogando, Vilas Boas pretende deixar um importante legado para a próxima geração: o xadrez como fator de inclusão social. “Nunca sofri discriminação ou preconceito no xadrez, sempre fui muito respeitado por meus colegas de modalidade”, ressalta o enxadrista. “O xadrez talvez seja o único esporte em que um deficiente visual consiga, com poucas adaptações, jogar de igual para igual com quem tem a visão normal”, completa.
Fonte: odiario.com
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