Projeto desenvolvido por dois professores e uma aluna de doutorado da Universidade de Brasília (UnB) pretende converter clássicos da poesia mundial para o sistema braille, utilizado por pessoas com deficiência visual. Chamada de “Poesia Sensorial”, a iniciativa pretende oferecer os textos na web em arquivos acessíveis para usuários de todo o país.

A poesia escolhida para iniciar o projeto foi “Un coup de dés jamais n’abolira le hasard” (“Um lance de dados jamais vai abolir o acaso”, em tradução livre), do escritor francês Stéphane Mallarmé. O texto é um exemplo de poema tipográfico, em que o formato dos versos e a disposição na página também compõem parte da mensagem.

“Nossa proposta é fazer as pessoas cegas recitarem e cantarem as poesias”, afirma o professor de Tradução Eclair Almeida, um dos responsáveis pela iniciativa. Ele diz que o projeto buscou inspiração no “Musibraille”, criado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) para ensinar noções de música aos deficientes visuais.

Ritmo e tom
Para dar ritmo à leitura e simbolizar os diferentes tipos de letras usados no poema visual, a transcrição para o braille incluiu notas musicais e cinco tamanhos de fontes. Com esses dados, o deficiente visual poderá recitar o texto em voz alta, sem perder as dicas oferecidas pela visão. O livro deve ser lançado no segundo semestre deste ano.

O projeto é capitaneado por Almeida em parceria com o professor Augusto Rodrigues e a doutoranda Josina Nunes. O suporte técnico para as transcrições em braille é dado pela mestranda Carolina Dias Pinheiro, que converte as letras para o sistema tátil. Além das poesias, o projeto pretende incluir romances, partituras musicais e outros gêneros de texto.

Com a ideia, o grupo de pesquisa espera garantir o acesso dos cegos às mesmas obras de arte que, hoje, estão disponíveis para apreciadores com visão regular. Entre os próximos “escolhidos” pelo Poesia Sensorial, estão os textos do poeta americano E. E. Cummings e do filósofo francês Paul Valéry.

Fonte: G1

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