Grandes eventos desportivos acessíveis. Uma vitória de todos.
* Este texto foi escrito por Ricardo Shimosakai para o Diário do Turismo, na divisão MIX, e subseção Artigos de Ricardo Shimosakai. Disponível em: <http://www.diariodoturismo.com.br>. São Paulo, 14 de agosto de 2009.
Grandes eventos desportivos sempre são observados pelo trade turístico como uma grande oportunidade de trazer pessoas para, além de prestigiar o evento em si, também aproveitar para conhecer o local onde são realizados, estratégia que ajuda a aumentar o faturamento além de promover o destino.
A Fórmula 1 é um dos maiores eventos do Brasil, e costuma lotar os hotéis da cidade de São Paulo, local do Autódromo de Interlagos e onde é realizada a etapa brasileira deste esporte. Vale dizer que Frank Willians (fundador e dirigente da equipe Willians de Fórmula 1) e o irmão de Lewis Hamilton (campeão mundial da temporada de 2008) são paraplégicos, usuário de cadeira de rodas. Somente essa informação já dispensa explicações da necessidade de haver acessibilidade nos autódromos.
O Brasil será a sede da Copa do Mundo da FIFA em 2014, e a questão da acessibilidade é um item obrigatório neste evento, e não uma escolha. Serão 12 cidades onde serão disputados os jogos (Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre, Brasília, Curitiba, Salvador, Recife, Natal, Fortaleza, Manaus e Cuiabá), onde alguns estádios devem passar por reformas e outros serão construídos especialmente para o evento. Além dos estádios, o transporte e outros ítens referentes à infra-estrutura das cidades, fazem parte das exigências da FIFA. É um ótimo momento para fazer um projeto com acessibilidade total. A Freeway Brasil, inspirada na experiência do Bayer 04 Leverkusen da Alemanha, realizou um projeto chamado “Ver-o-gol”, onde pessoas cegas foram levadas ao estádio para assistir um jogo de futebol, e utilizando a técnica da áudiodescrição permitindo através da narração em tempo real, detalhes do que se passa no jogo. Além da acessibilidade física, também é importante prestar atenção na inclusão.
O Brasil também é um dos quatro finalistas na candidatura para sediar a Olimpíada de 2016. Neste evento a obrigatoriedade da acessibilidade é multiplicada ao máximo, pois as Paraolimpíadas sempre são realizadas após o término das Olimpíadas, utilizando a mesma infra-estrutura, isso desde 1940 em Roma onde começaram os Jogos Paraolímpicos. Foram mais de 3.800 para-atletas de 136 países nas Paraolimpíadas de Atenas em 2004, sem contar as centenas de espectadores com deficiência que também participam como espectadores. As Paraolimpíadas sempre trouxeram mais medalhas ao Brasil do que as Olimpíadas. Em Pequim 2008, o Brasil conseguiu 15 medalhas nas Olimpíadas, ficando em 23° lugar na classificação geral, enquanto que nas Paraolimpíadas conquistou 47 medalhas, alcançaram o 9° lugar.
O Rio de Janeiro já teve uma experiência quando sediou os Jogos Panamericanos em 2007, onde também aconteceu o Parapanamericano. Havia acessibilidade em locais de grande concentração de pessoas como o Parque Aquático Maria Lenk, porém a infra-estrutura da cidade foi mal planejada em relação à acessibilidade. Foram construídas rampas com estrutura tubular para dar acesso aos ônibus da cidade, que foram desmontados assim que o evento terminou. Barcelona sediou as Olimpíadas de 1992, onde foi feito uma grande reforma na cidade, e todos os locais foram preparados seguindo as normas de acessibilidade. Essa infra-estrutura acessível permite que seja possível transitar com grande independência pela cidade, recebendo milhares de turistas com deficiência e mobilidade reduzida de todas as partes do mundo, sem contar as pessoas que os acompanham.
Se o Rio de Janeiro tivesse aproveitado a oportunidade, e realizado um bom projeto de acessibilidade para deixar para a cidade, estaria vários passos à frente na disputa para sediar a Olimpíada de 2016. Poderia também explorar esse fator para alavancar o turismo acessível numa cidade que é desejada por turistas de todos os cantos do planeta, se diz a cidade maravilhosa e foi eleita uma das 7 maravilhas do mundo moderno. Com certeza o item acessibilidade não faz parte dos itens desses títulos, e enquanto somente poucas pessoas com deficiência tem coragem de enfrentar as barreiras da falta de acessibilidade no local, as outras partem para destinos que estão mais preparados para gastar seu dinheiro.
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Concordo em gênero, número, grau e PRINCIPALMENTE em pessoa com o artigo. Em visita recente ao Rio pude observar que as mesmas dificuldades que eu enfrento em Belo Horizonte, enfrentei aí. É comum no Brasil não prestarem a devida atenção a nós deficientes físicos. E brigar cansa e como cansa… Eu geralmente, não brigo, só comento, porque a população em geral sabe que existem leis que garantem o nosso direito, só que não sei se é por falta de preparo ou por egoísmo mesmo, se comportam de forma desrespeitosa. Cito como exemplo, o show da Amy que eu fui no dia 11/01/2011 (no Rio), o lugar reservado para pessoas portadoras de necessidades especiais é um lixo. Pensei que fosse somente em Belo Horizonte que fosse assim, mas não. Que tipo de inclusão é essa??? “A inclusão da exclusão”. Geralmente quando vou aos teatros aqui em BH fico reparando que os lugares são nas laterais dos mesmos, sendo que eles teriam que reservar 2% da capacidade total do recinto para nós (será que eles são ruins de matemática? Ou só visam o lucro mesmo?). Só teve um lugar aqui em Belo Horizonte que tem espaço reservado para deficiente físico decente (na frente do palco e no centro da platéia), que é na PUC (Universidade Católica de Minas Gerais). Muito obrigada por lido o meu comentário. Mônica 🙂
Quero trabalhar mais essa questão de teatros e mesmo em shows onde o espaço é construido ou organizado para recebê-los, como em estádios. Locais que já tem uma estrutura, devem ter uma porcentagem de assentos e espaços para cadeira de rodas do total da capacidade do local, e esses lugares devem estar distribuidos em diferentes locais do ambiente. Além do mais, outros locais que tem diferentes classificações, como área vip, camarote entre outros, também devem ser acessíveis. Eu costumo reclamar sempre, na verdade é uma maneira de educar, pois se não houver reclamação, parece estar satisfatório. Mônica, obrigado por acompanhar e comentar!