Francisco José de Goya y Lucientes (Fuendetodos, Aragón, 1746) é, ao lado de nomes como Velázquez, Dalí e Picasso, um dos maiores nomes da pintura espanhola. Seu nome é grande não só por seu talento, mas também por sua entrega à emoção e ao momento, quando focamos os temas abordados por ele. Em um de seus mais famosos quadros, “Os Fuzilamentos do Três de Maio de 1808”, o artista retrata apenas homens se matando, sem que saibamos quem está vencendo, quem está perdendo. A irracionalidade das guerras, enfim.

Goya começou a pintar aos 13 anos, e aos 17 mudou-se para Madri. A capital era o melhor lugar para artistas em busca de projeção, haja vista a monarquia opulenta da Espanha e o generoso patronato das artes existente na época. As “canvas” (cartões pintados a óleo), utilizadas na confecção de tapeçarias, eram sua especialidade nesses primeiros anos na capital. Aos 18 e aos 20 anos Goya tentou, sem sucesso, entrar para a Academia de Belas Artes de Madri. Após uma viagem à Itália, volta para a Espanha e, em 1773, casa-se com Josefa, irmã do pintor Francisco Bayeu que, ainda em Zaragoza, havia sido seu tutor.

Mas foi somente em 1780, quando já tinha mais de 30 anos, que Goya começa a se destacar na profissão, sendo finalmente eleito membro da Academia de Belas Artes. Em 1785 recebe sua primeira encomenda importante: fazer um retrato de uma nobre duquesa. Em 1789, após Carlos IV ser coroado, torna-se um dos pintores da câmara do rei, e é a partir daí que sua carreira, finalmente, começa a “decolar”. Goya já passava dos 40.

Nesse período os retratos e as composições iriam marcar a carreira desse artista. Ainda que, por vezes, não executasse com perfeição todos os detalhes de rostos e corpos, Goya era extremamente feliz no uso das cores e ao expressar os estados psicológicos dos retratados. É como se “penetrasse” nas mentes de seus personagens, trazendo para a tela marcas do caráter e do estado de espírito dessas pessoas. E essa habilidade se tornaria ainda mais tocante depois que o pintor perdeu por completo a audição.

 

Em 1792, numa viagem a Andaluzia, Goya fica gravemente enfermo, após contrair uma doença misteriosa, transmitida por seu amigo Sebastián Martínez, que lhe paralisa os movimentos temporariamente, além de lhe causar cegueira parcial e total surdez. Abalado e psicologicamente frágil, ao se recuperar dá início a uma mudança na maneira de pintar, passando a usar cores mais escuras e a trabalhar com temas ora sombrios, ora fantasiosos, ora extremamente realistas e cruéis. A ocupação da Espanha pelas tropas francesas, lideradas por José Bonaparte (irmão de Napoleão), e a guerra civil que se seguiu, ajudaram a fazer do artista uma pessoa mais introvertida e perturbada.

Parcialmente recuperado, retornou a Madrid no verão de 1793 e continuou a trabalhar como artista da Corte, porém buscou outras inspirações para expressar sua fantasia e invenção sem limite, o que as obras sob encomenda não lhe permitiam. Devido à doença, Goya passou a não ter mais muito respeito pela aristocracia, expondo nas suas pinturas as verdadeiras identidades e as fraquezas dos modelos. Um exemplo é o retrato do rei Fernando VII da Espanha. Seus retratos deste período mostram, todavia, a sua fascinação pelas mulheres e pelas crianças, não igualada por nenhum outro artista, com a possível exceção de Renoir.

Goya seria ainda condecorado com a Ordem Real da Espanha em 1811, recebendo uma medalha do próprio José Bonaparte. Mudou-se para Bordeaux em 1823 e, três anos depois, se demitiu do cargo de pintor da corte espanhola. Uma vida reclusa na França lhe era então mais importante. Lá o artista morreria, aos 82 anos, de uma parada cardíaca. Deixou dezenas de “cartões”, tapeçarias, afrescos, telas e cerca de 300 gravuras.

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Fonte: Folha Online

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