Por Cristiely Carvalho

Quando a Copa no Brasil foi anunciada, eu disse que iria em um jogo, que não iria perder – e realmente não perdi. Todavia, se dependesse da Fifa, com sua falta de acessibilidade no site para aquisição de ingressos e seu atendimento telefônico que não apresentou nenhuma solução para o problema, eu não iria.

Comecei minha busca por ingressos na primeira fase, que foi mal sucedida, pois sequer consegui fazer o cadastro inicial para compra. Passaram-se a segunda e terceira fases de venda de ingressos até que, na última venda, consegui, mas somente porque tive a ajuda de um vidente (pessoa que enxerga).

Segundo a Fifa, as pessoas com deficiência têm direito a entrada adicional para acompanhante, mas como o site tem até tempo de compra, não ganhei ingresso adicional e paguei dois, para que minha prima pudesse me acompanhar e facilitar meu acesso. Acredito que se uma entidade oferece um serviço em benefício de pessoas com deficiência, essa deve adequar o site para todos os públicos, o que não foi o caso para a compra de ingressos. Talvez, esse tenha sido um dos motivos para que sobrassem ingressos dessa modalidade.

Após a forcinha de alguém que terá minha eterna gratidão, fui no jogo entre Argélia e Coréia do Sul, onde não senti grandes dificuldades de compreensão, tendo em vista que era permitido uso de rádios de pilha. Porto Alegre é uma das cidades-sede que não oferece audiodescrição nos estádios e como eu não enxergava nadinha no campo, o rádio contribuiu com a narração detalhada de todos os fatos em campo, como na maioria das partidas de futebol.

Antes que você me pergunte o motivo de eu ter ido mesmo sem enxergar, eu afirmo: não há emoção maior do que a de estar em um estádio, sentindo a vibração da torcida, confraternizar e comemorar como louca um gol ou expulsão do jogador adversário. Apesar de não visitar a Estação Acessibilidade, no Caminho do Gol, minha acompanhante relatou ter visto os carrinhos que levam os deficientes que necessitavam de seu serviço em pleno funcionamento, o que merece ser destacado pela eficiência.

Já na Fan Fest, que visitei na partida entre Brasil e México, passei por lá, mas fui convidada a me retirar da área de pessoas com deficiência e mobilidade reduzida, pois aquele espaço seria destinado somente para cadeirantes e eu poderia ficar junto ao público. Para não entrar em discussão de leis e argumentos, me dirigi ao local indicado pela segurança, apesar de ter a convicção que poderia ficar em setor especial, pois possuo, assim como todos os deficientes, incluindo as gestantes, mobilidade reduzida.

Ser retirada da área a qual tinha direito na Fan Fest, não conseguir ingresso na minha modalidade para as oitavas de final, não ter audiodescrição no estádio em Porto Alegre foram os pontos negativos da Copa para mim e outros tantos deficientes. Todavia, o pleno funcionamento na Estação acessibilidade, a atenção dispensada pelos voluntários,  a sensação indescritível de estar no estádio, assistindo uma partida com vários gols e o contato com os turistas, foram os acertos do evento em Porto Alegre.

Fonte: De olhos fechados

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